São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2007

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Começa "guerra civil" pela Copa-2014

Michel Platini, francês que preside a Uefa, aprova Mundial no Brasil e aposta que país resolverá questão de segurança

Em Zurique, governadores de Estados brasileiros vão a jantar promovido pela CBF, em hotel cuja tradição é "receber realeza há 160 anos"

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE

O Brasil não precisou fazer uma guerra com outros países para ficar com a Copa de 2014. "Pudera, concorreu sozinho", ironiza Michel Platini, grande craque do futebol francês, hoje transformado em "cartola", como presidente da Uefa.
Mas, a partir de hoje, começa uma verdadeira "guerra civil" entre Estados brasileiros, seja para ser uma das sedes do Mundial, seja para fazer a partida de abertura ou de encerramento, cerejas do bolo de qualquer grande torneio.
O governador José Serra (SP) chega hoje a Zurique, a sede da Fifa, para o anúncio oficial, amanhã, de que o Brasil organizará a Copa-2014, disposto a defender que o jogo de abertura seja no Morumbi.
Não se trata de uma escolha pela honra, mas pelos negócios. A tese do governador, segundo Caio Luiz de Carvalho, que preside a comissão que prepara o Estado para a Copa, é a de que "a cidade que ganha é a que faz a abertura, não a que faz o encerramento".
Por isso, Serra, malandramente, jogará o direito ao encerramento para o Maracanã, usando a tradição e o fato de ter sido o palco da final de 1950, que não é exatamente uma lembrança agradável para o torcedor brasileiro (o famoso 2 a 1 para o Uruguai).
Platini, aliás, sem saber dos argumentos de Serra, também pensa em 1950 ao falar da escolha do Brasil. "Filosoficamente falando, é formidável que o Brasil tenha sido escolhido, por toda a história de 1950. E também por tudo o que o país fez pelo futebol."
Serra, no entanto, não pensa em tradições, no que o Brasil fez ou deixou de fazer pelo futebol, mas em recursos que entrariam no Estado, em qualquer circunstância, mas principalmente se for a sede do jogo inaugural.
A partida de abertura atrai o congresso mundial que a Fifa sempre organiza nas vésperas das Copas. Atrai também, em princípio, o principal centro de mídia, um colossal aparato para jornais, rádios e televisões do mundo inteiro.
De fato, Munique foi a sede do jogo da abertura da Copa mais recente, e nela ficou o principal centro de mídia.
Além disso, "São Paulo é o portão de entrada aéreo do Brasil", lembra Caio, o que torna mais fácil escolher o Estado.
José Roberto Arruda (DF) também quer a abertura. Tem prometido um novo e monumental estádio e joga com o fato de a capital de um país-sede de Copas ter sempre direito a um lugar especial.
Já Eduardo Braga (AM) utiliza o que os economistas chama de "vantagem comparativa": se o Brasil quer organizar uma "Copa verde", ambientalista, nada como dar ao Amazonas um papel relevante, dada sua natural associação à floresta.
Falta agora combinar com Ricardo Teixeira, o presidente da CBF, que se tornou o mais querido dos governadores, mesmo daqueles que têm (ou tinham) sérias restrições a ele.
Teixeira será, como é óbvio, fundamental para definir que cidades ficam com quais jogos, se é que ficam com algum.
Por isso, os governadores que já estavam em Zurique ontem à noite foram ao jantar oferecido pela CBF no restaurante do luxuoso hotel Baur au Lac, "mais de 160 anos hospedando a realeza, celebridades e viajantes internacionais", às margens do lago de Zurique, conforme diz a apresentação.
A diária mais barata do hotel custa o equivalente a R$ 800.
O ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, um dos comensais de ontem, já cuida de afastar qualquer eventual crítica a gastos públicos com a Copa de 2014.
Jura que os estádios ficarão por conta do setor privado e que o poder público só entra para fazer as infra-estruturas, "que de todo modo teriam que ser feitas", com ou sem Copa.
Platini, no entanto, lembra que, na França (Copa de 1998), o Estado é que arcou com a maior parte das despesas.
Preocupado com a segurança nas cidades brasileiras? "Até 2014, esse problema já deverá estar resolvido. Sou um otimista", diz o ex-jogador.
Para ele, agora, o Brasil tem é que se concentrar em construir e/ou renovar seus estádios. "Se se quer fazer [uma Copa], pode-se fazê-la", filosofa.
Para o que não há solução à vista, é em relação ao êxodo formidável de jogadores brasileiros para a Europa (principalmente). "É uma questão de mercado. Mesmo que os clubes italianos, franceses ou espanhóis não quisessem jogadores brasileiros, os jogadores brasileiros iriam querer jogar nesses clubes, que pagam muito mais", diz Platini, que sabe do que fala. Ele também deixou a França, que paga menos, para jogar na Itália, que paga mais.

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