São Paulo, sábado, 29 de outubro de 2011 |
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JOSÉ ROBERTO TORERO Glória ou grana?
Gloriosa leitora, gloriabundo leitor, o que lhe traria mais felicidade: grana ou glória? Os leitores sonhadores hão de argumentar que os heróis gregos buscavam a glória, não a grana. Mas os leitores práticos podem lembrar que hoje em dia não há mais heróis. Já os leitores sonhadores-práticos dirão que, com a glória, vem, geralmente, um tanto de grana. E os práticos-sonhadores responderão que, com um tanto de grana, compra-se a glória. É um assunto complexo. Minha dúvida surgiu quando pensei no caso de Kleber. Mas também diz respeito ao caso Robinho, ao caso Breno, ao caso Douglas, ao caso e ao ocaso de vários jogadores que, após conseguirem certa glória, saíram de seus clubes atrás de grana. Mas foquemos em Kleber. Sua volta foi a realização de um sonho da torcida palmeirense. Mas, depois do assédio do Flamengo, Kleber deixou de ser o Gladiador. E agora vai deixar o clube. Ele trocou a glória, ou seja, uma torcida que o amava, pela possibilidade de um salário maior. Para Kleber, parece melhor ouvir o tilintar do dinheiro que o alarido das palmas. Mas quantos de nós não trocaríamos nosso atual emprego, mesmo que felizes, por outro que nos pagasse mais? A questão é que, no caso de Kleber, e de vários jogadores de futebol, já se ganha uma boa grana. Não é a escolha entre um ou outro. O que se está trocando é a glória por um dinheiro inútil. E digo inútil porque, segundo uma pesquisa da Universidade de Princeton, publicada no periódico científico "Proceedings of the National Academy of Sciences", o bem-estar emocional das pessoas (ou seja, a felicidade) é proporcional à sua renda até o patamar de US$ 75 mil anuais (algo como R$ 130 mil). Depois disso, a grana não faz grande diferença. Muitos jogadores de futebol já ganham esses R$ 130 mil num único mês. Kleber, calculo, ganha isso em 12 dias. Ora, se o sujeito já resolveu o problema da grana, tem que ir atrás da glória. Robinho foi brilhante no Santos e uma sombra no exterior. Breno surgiu como um gênio na zaga tricolor, mas foi para a Alemanha e seu fogo apagou. Douglas era ótimo no Corinthians. Depois que saiu... Os três trocaram glória por grana. E não me parecem mais felizes agora. Creio que hoje há uma falta de sede de glória. Mas deixo claro que a sede de glória não é algo de heróis. É coisa de vaidosos. O problema é que, no futebol, há mais cobiça que vaidade. E, para ser feliz, há que se cometer todos os pecados, não só a cobiça. Texto Anterior: Muricy se poupa por seu sonho Próximo Texto: Numerada na TV: Basquete do Brasil volta a 'emocionar' Oscar no Pan Índice | Comunicar Erros |
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