São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2007

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Borderô da Fonte Nova "despreza" a manutenção

Aluguel barato responde só por 17% do total das despesas de jogo lotado e contrasta com despesas altas do estádio

Em nenhuma das grandes arenas públicas o valor da locação pesa tão pouco nos custos de uma partida como no campo, palco de tragédia


PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O mesmo borderô que maltrata a Fonte Nova é generoso com uma extensa lista de beneficiários de suas rendas.
A arena, onde morreram sete pessoas no domingo por um acidente causado ao que tudo indica por suas péssimas condições, é, entre os grandes estádios públicos do país, o que tem o valor do aluguel mais baixo (6% da renda bruta, contra 10% ou 12% da maioria dos outros).
Em compensação, tem uma imensa lista de taxas. Isso significa que na Fonte Nova o valor do aluguel, o dinheiro que efetivamente deveria ser gasto na sua manutenção, responde por só 17% do total das despesas de um jogo com casa cheia.
Em outros estádios públicos essa marca varia dos 19% do Mineirão, em Belo Horizonte, aos 36% do Machadão, em Natal. Estádios particulares também valorizam mais o aluguel -no último clássico entre Corinthians e Palmeiras a locação do Morumbi respondeu por um quarto das despesas.
"Fizemos de tudo para ajudar o Bahia, por isso cobramos um aluguel barato", diz Bobô, ex-ídolo do clube e hoje diretor da Sudesb (Superintendência dos Desportos da Bahia), que administra a Fonte Nova.
Os 14 jogos com portões abertos do clube pelo torneio renderam R$ 301 mil para a Fonte Nova. A federação bahiana teve direito a R$ 251 mil para quase nada, já que até para mandar alguns funcionários encarregados de funções como afixar o regulamento da competição a entidade faz cobranças extras -contra o Vila Nova-GO foram quase R$ 5.000.
"Os funcionários da federação servem para nos fiscalizar", afirma Claus Dieter, gerente operacional do Bahia.
Salvador é uma das raras cidades que cobram ISS no futebol nacional -isso não existe em São Paulo, Rio e Porto Alegre. A alíquota é de 2,5%. Só na Série C isso representou uma sangria de R$ 50 nos borderôs.
Uma federação de jogadores profissionais morde 1% da renda bruta, o que acontece em praticamente todo o país.
Quem joga na Fonte Nova ainda precisa pagar pelo policiamento e até pelo lanches dos agentes -no último domingo, foram quase R$ 5.000.
A empresa que confecciona e vende os ingressos também recebe mais do que a Fonte Nova -foram R$ 34 mil de aluguel no domingo e quase R$ 38 mil para a Ingresso Fácil.
De uma arrecadação bruta de R$ 568 mil no jogo da tragédia, o endividado clube de Salvador ficou com apenas R$ 364 mil.
O regulamento dos Brasileiros prevê desconto de 5% em favor das federações em todos os jogos. Só em 2007, as três séries do torneio despejaram mais de R$ 5 milhões nos cofres das entidades, ou dez vezes o que a Fonte Nova arrecadou de aluguel na terceira divisão.


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