|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Borderô da Fonte Nova "despreza" a manutenção
Aluguel barato responde só por 17% do total das despesas de jogo lotado e contrasta com despesas altas do estádio
Em nenhuma das grandes arenas públicas o valor da locação pesa tão pouco nos custos de uma partida como
no campo, palco de tragédia
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O mesmo borderô que maltrata a Fonte Nova é generoso
com uma extensa lista de beneficiários de suas rendas.
A arena, onde morreram sete
pessoas no domingo por um
acidente causado ao que tudo
indica por suas péssimas condições, é, entre os grandes estádios públicos do país, o que tem
o valor do aluguel mais baixo
(6% da renda bruta, contra 10%
ou 12% da maioria dos outros).
Em compensação, tem uma
imensa lista de taxas. Isso significa que na Fonte Nova o valor do aluguel, o dinheiro que
efetivamente deveria ser gasto
na sua manutenção, responde
por só 17% do total das despesas de um jogo com casa cheia.
Em outros estádios públicos
essa marca varia dos 19% do
Mineirão, em Belo Horizonte,
aos 36% do Machadão, em Natal. Estádios particulares também valorizam mais o aluguel
-no último clássico entre Corinthians e Palmeiras a locação
do Morumbi respondeu por um
quarto das despesas.
"Fizemos de tudo para ajudar o Bahia, por isso cobramos
um aluguel barato", diz Bobô,
ex-ídolo do clube e hoje diretor
da Sudesb (Superintendência
dos Desportos da Bahia), que
administra a Fonte Nova.
Os 14 jogos com portões
abertos do clube pelo torneio
renderam R$ 301 mil para a
Fonte Nova. A federação bahiana teve direito a R$ 251 mil para
quase nada, já que até para
mandar alguns funcionários
encarregados de funções como
afixar o regulamento da competição a entidade faz cobranças extras -contra o Vila Nova-GO foram quase R$ 5.000.
"Os funcionários da federação servem para nos fiscalizar",
afirma Claus Dieter, gerente
operacional do Bahia.
Salvador é uma das raras cidades que cobram ISS no futebol nacional -isso não existe
em São Paulo, Rio e Porto Alegre. A alíquota é de 2,5%. Só na
Série C isso representou uma
sangria de R$ 50 nos borderôs.
Uma federação de jogadores
profissionais morde 1% da renda bruta, o que acontece em
praticamente todo o país.
Quem joga na Fonte Nova
ainda precisa pagar pelo policiamento e até pelo lanches dos
agentes -no último domingo,
foram quase R$ 5.000.
A empresa que confecciona e
vende os ingressos também recebe mais do que a Fonte Nova
-foram R$ 34 mil de aluguel no
domingo e quase R$ 38 mil para
a Ingresso Fácil.
De uma arrecadação bruta de
R$ 568 mil no jogo da tragédia,
o endividado clube de Salvador
ficou com apenas R$ 364 mil.
O regulamento dos Brasileiros prevê desconto de 5% em
favor das federações em todos
os jogos. Só em 2007, as três séries do torneio despejaram
mais de R$ 5 milhões nos cofres
das entidades, ou dez vezes o
que a Fonte Nova arrecadou de
aluguel na terceira divisão.
Texto Anterior: Goiás é goleado, mas diz que "nada está perdido" Próximo Texto: Demolição vai acabar com escola Índice
|