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O pé frio de Pelé e a Copa-2006 no Brasil
JUCA KFOURI
Colunista da Folha
Ao saber que Pelé disse em
Barcelona que o grupo que
quer fazer a Copa do Mundo de
2006 no Brasil busca apenas
ganhar dinheiro sem trabalhar, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, reagiu e chamou o "Atleta do Século" de
pé-frio.
De fato. Foi com seus pés frios
que ele marcou quase 1300 gols
-com o esquerdo e o direito.
Foi com os mesmos pés frios
que ele ganhou cinco títulos
mundiais -três pela seleção e
dois pelo Santos.
E foi com a cabeça fria que,
além de marcar também muitos gols e ganhar todos os títulos que um atleta pode ganhar,
Pelé disse o que disse.
O mesmo Pelé que em seu discurso de posse como ministro
extraordinário dos Esportes
admitiu fazer a Copa do Mundo no país, desde que sem dinheiro público.
Ora, parece óbvio que se recentemente a Argentina e o
México organizaram Copas
deste lado do mundo, o Brasil
também pode.
O problema, para Pelé, está
em quem toca o projeto.
Consta, até, que a CBF estaria
disposta a propor que a empresa de Pelé fizesse as reformas
necessárias nos estádios brasileiros, desde que, em troca,
apoiasse a idéia.
Como, novamente, ele rechaçou uma proposta desse tipo,
reinstalou-se o bate-boca, e sobrou para Zico ser o "embaixador" de nosso futebol, como
Michel Platini foi para a Copa
da França e Beckenbauer e Bob
Charlton são para os projetos
bem mais realistas da Alemanha e da Inglaterra.
É claro que a oposição de Pelé
não ajuda os planos da CBF e,
eventualmente, pode alertar o
governo FHC, que, surpreendentemente, os endossa -como se não fosse capaz de perceber o tamanho do desgaste que
a aventura causará.
Seja como for, e por falar nisso, o presidente do Comitê
Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, já não faz segredo e veta qualquer possibilidade de uma cidade brasileira
voltar a se candidatar às Olimpíadas a curto prazo.
Onde a última coluna questionava se Galvão Bueno gritava mais longamente um gol do
Flamengo "do que" um do Palmeiras, o gato escreveu "ou"
um do Palmeiras -o que a
prejudicou bastante. Porque a
questão é: palmeirenses enfurecidos estão convencidos de que
o narrador é mais entusiasmado ao celebrar um gol rubro-negro que um alviverde.
E para que não pairem dúvidas: nada mais natural que
torcer para qualquer adversário do rival mais próximo.
E nada mais covarde que a
violência da massa contra
quem está em minoria.
O que é natural, aqui, não
precisa ser contido, mas a covardia deve ser reprimida, antes de mais nada, dentro de cada um de nós.
Uma séria dúvida paira sobre
a Vila Belmiro: terá o time do
Santos chegado a seu limite antes do tempo? Estará o grupo
estressado pelo rigor de Emerson Leão, a exemplo do que teria ocorrido também com o
Atlético-MG no ano passado?
A coluna, que votou em Leão
como melhor treinador de 98,
dá conta da preocupação e indaga, ainda no condicional,
curiosa por ver qual será o desempenho santista nas finais
do Campeonato Paulista.
Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às
sextas-feiras
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