São Paulo, domingo, 30 de maio de 1999

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O pé frio de Pelé e a Copa-2006 no Brasil

JUCA KFOURI
Colunista da Folha Ao saber que Pelé disse em Barcelona que o grupo que quer fazer a Copa do Mundo de 2006 no Brasil busca apenas ganhar dinheiro sem trabalhar, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, reagiu e chamou o "Atleta do Século" de pé-frio.
De fato. Foi com seus pés frios que ele marcou quase 1300 gols -com o esquerdo e o direito.
Foi com os mesmos pés frios que ele ganhou cinco títulos mundiais -três pela seleção e dois pelo Santos.
E foi com a cabeça fria que, além de marcar também muitos gols e ganhar todos os títulos que um atleta pode ganhar, Pelé disse o que disse.
O mesmo Pelé que em seu discurso de posse como ministro extraordinário dos Esportes admitiu fazer a Copa do Mundo no país, desde que sem dinheiro público.
Ora, parece óbvio que se recentemente a Argentina e o México organizaram Copas deste lado do mundo, o Brasil também pode.
O problema, para Pelé, está em quem toca o projeto.
Consta, até, que a CBF estaria disposta a propor que a empresa de Pelé fizesse as reformas necessárias nos estádios brasileiros, desde que, em troca, apoiasse a idéia.
Como, novamente, ele rechaçou uma proposta desse tipo, reinstalou-se o bate-boca, e sobrou para Zico ser o "embaixador" de nosso futebol, como Michel Platini foi para a Copa da França e Beckenbauer e Bob Charlton são para os projetos bem mais realistas da Alemanha e da Inglaterra.
É claro que a oposição de Pelé não ajuda os planos da CBF e, eventualmente, pode alertar o governo FHC, que, surpreendentemente, os endossa -como se não fosse capaz de perceber o tamanho do desgaste que a aventura causará.
Seja como for, e por falar nisso, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, já não faz segredo e veta qualquer possibilidade de uma cidade brasileira voltar a se candidatar às Olimpíadas a curto prazo.
Onde a última coluna questionava se Galvão Bueno gritava mais longamente um gol do Flamengo "do que" um do Palmeiras, o gato escreveu "ou" um do Palmeiras -o que a prejudicou bastante. Porque a questão é: palmeirenses enfurecidos estão convencidos de que o narrador é mais entusiasmado ao celebrar um gol rubro-negro que um alviverde.
E para que não pairem dúvidas: nada mais natural que torcer para qualquer adversário do rival mais próximo.
E nada mais covarde que a violência da massa contra quem está em minoria.
O que é natural, aqui, não precisa ser contido, mas a covardia deve ser reprimida, antes de mais nada, dentro de cada um de nós.
Uma séria dúvida paira sobre a Vila Belmiro: terá o time do Santos chegado a seu limite antes do tempo? Estará o grupo estressado pelo rigor de Emerson Leão, a exemplo do que teria ocorrido também com o Atlético-MG no ano passado?
A coluna, que votou em Leão como melhor treinador de 98, dá conta da preocupação e indaga, ainda no condicional, curiosa por ver qual será o desempenho santista nas finais do Campeonato Paulista.


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às sextas-feiras


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