São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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Miranda, 24, curte o auge sem empresário

Zagueiro diz que chegada à seleção sem a ajuda de agentes surpreende colegas

Pouco frequente, prática tem outros adeptos; meia Alex "demitiu" Juan Figer, e atacante Luizão passou dez anos sem ter um empresário

CAROLINA ARAÚJO
MARTÍN FERNANDEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles são raros, mas ainda existem. Onze anos após a criação da Lei Pelé, alguns jogadores resistem à ideia de utilizar um empresário para gerenciar suas carreiras no futebol.
Atleta mais assediado do São Paulo nesta janela de transferências, Miranda, 24, não tem agente. É sozinho que o zagueiro ouve e negocia propostas.
Neste meio de ano, Lazio, Fiorentina e Milan, da Itália, Villarreal, da Espanha, e Manchester City, da Inglaterra, mostraram interesse no atleta. Tanto que o beque é quem mais preocupa a diretoria são-paulina por uma possível saída.
A escolha do jogador de não ter empresário é tão incomum que deixou admirados até seus companheiros de seleção. Miranda esteve nas cinco últimas listas de convocação de Dunga.
"Os colegas ficam surpresos e perguntam como eu cheguei à seleção sem ter um empresário. Fico feliz porque foi com minhas próprias pernas", afirma.
Segundo Miranda, a decisão de não contar com agentes ocorreu antes de sua chegada ao time do Morumbi. "Tive dois ou três empresários que só me prejudicaram. Aí decidi que poderia tocar tudo sozinho", conta o zagueiro, que chegou ao São Paulo em 2006, vindo do clube francês Sochaux.
Com a janela de transferências aberta até amanhã, Miranda diz não sentir falta de um agente. Afirma separar, todos os dias, dez minutos para cuidar de questões extracampo.
Escuta propostas, conversa com dirigentes ou intermediários de clubes europeus e, caso o negócio lhe interesse, avisa ao presidente Juvenal Juvêncio.
"Hoje, os meios de comunicação são tão acessíveis que os clubes conseguem achar qualquer jogador de qualquer país. Eles me encontram mesmo sem que um empresário me ofereça na Europa", diz.
A exposição obtida graças às convocações para a seleção brasileira tornou-o mais visado. Além de assediado por clubes estrangeiros, o beque voltou a ser alvo de empresários.
"Muitos me procuram querendo me agenciar. Mas, se cheguei à seleção sem eles, por que vou querer um agora?"
Enquanto Miranda experimenta o auge em "voo solo", o meia Alex, 32, ex-Palmeiras, esperou o ocaso da carreira para dispensar o uruguaio Juan Figer. "Continuamos amigos, mas achei melhor tocar as coisas sozinho", declarou o jogador, por telefone, de Istambul, onde atua pelo Fenerbahce.
"Nos últimos contratos, eu tive participação direta, porque aprendi muita coisa na carreira. Aí avisei que não precisaria mais do trabalho dele", disse o meia, que afirma indicar o ex- -agente para jogadores jovens.
A "demissão" de Figer ocorreu há três meses, quando o atleta renovou seu contrato com o clube turco até 2011.
Desde que decretou sua independência, Alex diz ter recusado duas propostas: uma do Brasil e outra do Oriente Médio. Mas não quis revelar os clubes.
"O que mudou é que agora ligam direto para mim. Antes, quando ligavam, eu passava para o Juan. Hoje eu mesmo analiso e negocio", falou o atleta.
Se Alex não tem nada contra seu ex-agente, o mesmo não ocorre com outro veterano.
O atacante Luizão, 33, afirma que não foi "mais longe" na carreira por causa da má atuação de seus ex-empresários, o espanhol Fernando Torcal e o italiano Giovani Branchini.
Por isso, o jogador, que não atua desde o Paulista deste ano -defendeu o Guaratinguetá em dois jogos-, passou os últimos dez anos sem ter agente.
"Empresário é legal se te ajuda. Os meus não fizeram isso. Eu mesmo tinha que brigar com cartola, me expor", disse.


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