São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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POBRE MENINA RICA

Saias de tenista são vistas como indecentes

Indiana faz história e sofre com decreto

DA REPORTAGEM LOCAL

Em menos de um ano, Sania Mirza saiu do anonimato e ganhou o coração dos indianos, apaixonados por críquete.
O amor de seus conterrâneos, no entanto, também trouxe a indignação de grupos radicais islâmicos, inconformados com o fato de a tenista usar saias e blusas curtas nas competições.
Revelação no circuito profissional, a adolescente de 18 anos que pulou do número 326 do ranking feminino no ano passado para o atual 34º posto acabou virando alvo de uma fatwa.
O decreto religioso condena suas roupas, que classifica como "indecentes", e afirma ainda que "seu uniforme não só deixa de cobrir partes importantes de seu corpo como não deixa nada para a imaginação". Em outras palavras, pede que ela se cubra para poder jogar.
Em setembro, durante o Torneio de Calcutá, temendo a reação da torcida e após a ameaça de um grupo que queria impedi-la de jogar, os organizadores do evento resolveram colocar guarda-costas 24 horas por dia no encalço da jovem indiana.
"Tudo o que eu digo, toda saia que uso é discutida e analisada. Tenho que tentar usar tudo isso a meu favor", disse Sania durante o Aberto dos EUA. "Qualquer lugar que eu vá, as pessoas olham para mim. Por isso ultimamente tenho preferido ficar em casa. É um pouco perturbador pensar que a minha roupa esteja causando tanta controvérsia", completou.
Sania se recusa a comentar especificamente a fatwa, mas faz questão de se desculpar com qualquer um que tenha ofendido "por qualquer coisa que tenha feito em quadra como uma menina de 18 anos".
"Todos cometem erros, mas isso não significa que eu não seja uma muçulmana. Talvez eu esteja errada, mas não estou tentando justificar nada."
Vinda de uma família muçulmana de classe média alta de Hyderabad, filha de Imran, um empreiteiro, e Nassema, que trabalha na indústria gráfica, Sania não gosta muito de tocar no assunto religião. Diz apenas que é religiosa, que reza cinco vezes por dia em direção a Meca, lê o Alcorão e faz o que qualquer outro muçulmano faz.
Sua marca registrada é um piercing de argola no nariz e as camisetas com frases provocativas que usa nos torneios. Em Wimbledon, exibia uma com os dizeres: "Mulheres bem comportadas raramente fazem história". No Aberto dos EUA, foi a vez de "Você pode ou concordar comigo ou... estar errado". Outra de suas favoritas diz: "Sou velha o suficiente para saber das coisas, mas jovem demais para me importar".
A tenista indiana afirma que as roupas não são uma afronta a ninguém. "São somente camisetas. Acho que as pessoas deveriam levar bem menos a sério as coisas que eu uso."
Inteligente e bem articulada, Sania tenta se esquivar de perguntas polêmicas e diz que quer se concentrar só em seu jogo. Para melhorar seus pontos fracos (saque e voleio), terá ajuda de peso no fim do ano.
Durante três semanas, ela será treinada para o Aberto da Austrália por Tony Roche, técnico do suíço Roger Federer, primeiro do ranking mundial.
Sania começou a jogar aos cinco anos e nunca imaginou que fosse se tornar a primeira tenista indiana entre as top 50 e a primeira a ganhar um título da WTA -justamente em sua cidade natal. Nem pensou que seria a primeira representante da Índia a ir à quarta rodada de um Grand Slam. Agora pensa grande. "Rezo e sonho com uma Ferrari. Vermelha." (TC)


Com agências internacionais

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