|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAN-AMERICANO
Poluição inviabiliza provas de esqui aquático nas lagoas da Barra da Tijuca e ameaça levar mau cheiro à Vila
Rio-07 estuda atirar atletas em "lixeira"
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O Co-Rio (comitê organizador
do Pan) quer colocar os esquiadores para competir numa ""lixeira
aquática" em 2007.
Com o impedimento de levar o
esqui aquático para a lagoa Rodrigo de Freitas, que vai abrigar as
provas de remo e canoagem, o poluído sistema lagunar da Baixada
de Jacarepaguá está na mira dos
organizadores do evento. Na
quinta-feira, o Co-Rio divulgou
que as lagoas da zona oeste estão
em estudo para receber os esquiadores no Pan de 2007.
Se não for lá, a modalidade terá
que realizar as provas fora do Rio.
O esqui aquático é o único esporte
sem local de disputa confirmado
pelo Co-Rio. Todos os outros 33
vão ocorrer na cidade.
""Será um assassinato colocar
qualquer pessoa dentro dessas lagoas. No melhor trecho daqui, só
vacinado contra hepatite A e B.
Mesmo assim, é loucura. Isto é
uma verdadeira lata de lixo", disse
o biólogo Mário Moscatelli, especialista na região, que vai apresentar um dossiê sobre a situação na
Câmara Municipal do Rio.
Este sistema da zona oeste é formado pelas lagoas da Tijuca, Camorim, Lagoinha, Jacarepaguá e
Marapendi. Todas estão poluídas
pelo esgoto dos condomínios de
luxo da Barra da Tijuca e das favelas do bairro, pelo lixo e por algas
tóxicas. Vários trechos estão assoreados -em alguns lugares, peixes já não vivem mais.
Diariamente são lançadas nas
águas das lagoas cerca de 3.600 litros por segundo de esgoto. A lagoa da Tijuca, por sua vez, tem
cerca de 6 milhões de metros
cúbicos de lama e lixo. A água já
até mudou de cor lá. Está verde
por causa das algas tóxicas geradas pelo acúmulo de poluição.
Em 1997, a lagoa da Tijuca registrou 16 milhões de coliformes fecais por 100 ml de água -1.600
vezes o permitido pela legislação
federal para a balneabilidade.
""Além de colocarem a saúde em
risco, os atletas terão que desviar
de obstáculos insólitos", declarou
Moscatelli.
Anteontem, a Folha percorreu
as cinco lagoas. Três sofás, cinco
pneus e três bolas foram encontradas. No mesmo dia, uma mortandade de peixes começava na
lagoa de Marapendi, considerada
a de melhor qualidade.
""Esse cenário apocalíptico foi
construído pelo descaso das autoridades e da população. A cidade
foi crescendo, e o problema não
foi enfrentado. As principais causas são o esgoto lançado por ricos
e pobres nas lagoas, a ocupação
irregular do solo e o desmatamento", afirmou Moscatelli.
Quase todos os condomínios da
Barra têm estações de tratamento
do esgoto, o que pouco adianta.
""As estações só reduzem a demanda biológica de oxigênio, mas
vírus, protozoário, nitrogênio e
fósforo são jogados na água das
lagoas do mesmo jeito", disse.
Além dos problemas para a saúde dos esquiadores, a bacia hidrográfica de Jacarepaguá poderá
criar constrangimento aos organizadores do Pan de 2007. O canal
do Arroio Fundo passa atrás da
Vila do Pan, condomínio que
abrigará os atletas. O canal é um
dos mais poluídos da bacia. Ele
drena grande parte do esgoto de
Jacarepaguá. O nível de oxigênio
lá é quase zero 24 horas por dia.
""Devido à overdose de esgoto,
temos liberação de gás sulfídrico e
metano em várias lagoas e aqui
principalmente. Esses gases são
uma outra forma de decompor a
matéria orgânica. Se tivermos
uma ressaca no mar durante o
Pan, a água vai remexer o fundo, e
o cheiro de ovo podre vai subir,
acabando com a paz dos atletas",
disse Moscatelli, que vê no evento
das Américas "a última chance de
recuperação das lagoas".
""Este não é um cartão-postal
que queremos passar. Por isso, todos os governos têm que parar de
brigar entre si e encontrar um caminho para recuperar as lagoas",
finalizou o biólogo.
Texto Anterior: Pobre menina rica: Indiana faz história e sofre com decreto Próximo Texto: Esgoto faz Rio desaconselhar esporte na lagoa Índice
|