|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Muricy só é ranzinza para a platéia
Treinador gosta de testemunhas quando dá bronca na equipe, mas perde mau humor nas folgas com amigos e parentes
Considerado perfeccionista por dirigentes e jogadores,
técnico, que faz 53 anos hoje, ganha fãs no ritmo em que perde a descontração
EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC
Manhã gelada em Porto Alegre. O relógio ainda não marca
9h, e os jogadores do Internacional já se exercitam no gramado. Muricy Ramalho entra
no vestiário e se surpreende ao
ver Daniel Carvalho na maca,
enrolado num cobertor, vestindo gorro e ouvindo música.
Em seu primeiro ano no clube (2003), o treinador ouve do
médico que o jogador, tratado
como promessa, não pode correr nem treinar com bola.
"E andar, ele pode? Ah, pode?
Então, levanta e vai andar lá fora passando frio com os companheiros", ordenou o técnico,
que hoje completa 53 anos.
O episódio no Inter dá uma
idéia do que os jogadores do
São Paulo enfrentam em busca
do tricampeonato nacional,
que pode ser conquistado hoje.
Essa é uma das histórias que
amigos de Muricy contam para
justificar porque o consideram
perfeccionista e ranzinza.
As broncas nos jogadores geralmente têm testemunhas.
Assim ele evita que seja a palavra de um contra a do outro.
Domingo, no intervalo do jogo com o Vasco, a dura foi coletiva, por causa do gol do adversário. O goleiro reserva Bosco
reproduz o pito: "A gente passa
vídeo. Faz preleção. É para
prestar atenção. A gente estuda
o time dos caras. Agora, não dá
para entrar em campo e não fazer o que foi pedido".
Nem os cartolas escapam.
Após uma derrota do São Paulo
no Pacaembu, a vítima foi o superintendente Marco Aurélio
Cunha. O cartola estava numa
roda de corneteiros e foi surpreendido pelo treinador.
"Ele me viu lá, se sentiu traído e disse: "Vai lá, fica com eles".
Como eu estava com a razão,
porque fui tentar dissipar a rodinha, respondi duro. Depois, o
Muricy me pediu desculpas."
O jeito rude incomoda conselheiros são-paulinos mais tradicionais. "Ele é excelente treinador, mas o pessoal fala daquele sotaque dele muito paulistano", diz Osvaldo Vieira de
Abreu, vice financeiro do clube.
Quando está com os amigos e
com a família, a rabugice some.
Muricy, então, diverte-se com
histórias do passado. Uma das
mais famosas, contada por ex-colegas, é de que, quando começou a jogar no profissional
do São Paulo, tinha medo de
fantasmas. E os jogadores veteranos o faziam buscar água à
noite nos corredores do Morumbi, onde se concentravam.
E Muricy ia de olhos fechados.
Se conserva o perfeccionismo de quando estagiava como
treinador, candidatando-se a
perambular pelo interior observando adversários do time
principal, o técnico perdeu o
jeito descontraído que tinha
com a imprensa.
Em sua primeira passagem
pelo clube como treinador, em
1994, relaxava contando "causos" aos jornalistas após os treinos. Um dos assuntos preferidos era a amizade com Serginho Chulapa, colega no São
Paulo como jogador.
"O negão tinha hemorróida.
Se falassem algo, ele enchia de
porrada. Menos eu, que podia
dizer até que usava absorvente.
Não fazia nada", contava.
Colaborou TONI ASSIS, da Reportagem Local
Texto Anterior: Capitão evoca arrancada do time no returno Próximo Texto: Ex-nômade, técnico lava louça e namora Índice
|