São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

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Muricy só é ranzinza para a platéia

Treinador gosta de testemunhas quando dá bronca na equipe, mas perde mau humor nas folgas com amigos e parentes

Considerado perfeccionista por dirigentes e jogadores, técnico, que faz 53 anos hoje, ganha fãs no ritmo em que perde a descontração


EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

Manhã gelada em Porto Alegre. O relógio ainda não marca 9h, e os jogadores do Internacional já se exercitam no gramado. Muricy Ramalho entra no vestiário e se surpreende ao ver Daniel Carvalho na maca, enrolado num cobertor, vestindo gorro e ouvindo música.
Em seu primeiro ano no clube (2003), o treinador ouve do médico que o jogador, tratado como promessa, não pode correr nem treinar com bola.
"E andar, ele pode? Ah, pode?
Então, levanta e vai andar lá fora passando frio com os companheiros", ordenou o técnico, que hoje completa 53 anos.
O episódio no Inter dá uma idéia do que os jogadores do São Paulo enfrentam em busca do tricampeonato nacional, que pode ser conquistado hoje.
Essa é uma das histórias que amigos de Muricy contam para justificar porque o consideram perfeccionista e ranzinza.
As broncas nos jogadores geralmente têm testemunhas.
Assim ele evita que seja a palavra de um contra a do outro.
Domingo, no intervalo do jogo com o Vasco, a dura foi coletiva, por causa do gol do adversário. O goleiro reserva Bosco reproduz o pito: "A gente passa vídeo. Faz preleção. É para prestar atenção. A gente estuda o time dos caras. Agora, não dá para entrar em campo e não fazer o que foi pedido".
Nem os cartolas escapam.
Após uma derrota do São Paulo no Pacaembu, a vítima foi o superintendente Marco Aurélio Cunha. O cartola estava numa roda de corneteiros e foi surpreendido pelo treinador.
"Ele me viu lá, se sentiu traído e disse: "Vai lá, fica com eles".
Como eu estava com a razão, porque fui tentar dissipar a rodinha, respondi duro. Depois, o Muricy me pediu desculpas."
O jeito rude incomoda conselheiros são-paulinos mais tradicionais. "Ele é excelente treinador, mas o pessoal fala daquele sotaque dele muito paulistano", diz Osvaldo Vieira de Abreu, vice financeiro do clube.
Quando está com os amigos e com a família, a rabugice some.
Muricy, então, diverte-se com histórias do passado. Uma das mais famosas, contada por ex-colegas, é de que, quando começou a jogar no profissional do São Paulo, tinha medo de fantasmas. E os jogadores veteranos o faziam buscar água à noite nos corredores do Morumbi, onde se concentravam.
E Muricy ia de olhos fechados.
Se conserva o perfeccionismo de quando estagiava como treinador, candidatando-se a perambular pelo interior observando adversários do time principal, o técnico perdeu o jeito descontraído que tinha com a imprensa.
Em sua primeira passagem pelo clube como treinador, em 1994, relaxava contando "causos" aos jornalistas após os treinos. Um dos assuntos preferidos era a amizade com Serginho Chulapa, colega no São Paulo como jogador.
"O negão tinha hemorróida.
Se falassem algo, ele enchia de porrada. Menos eu, que podia dizer até que usava absorvente.
Não fazia nada", contava.


Colaborou TONI ASSIS, da Reportagem Local


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