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Ex-nômade, técnico lava louça e namora
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 2005, ainda técnico do
Internacional, Muricy Ramalho recebeu um ultimato:
ou retornava para São Paulo
ou ficava desempregado.
O apelo era de Roseli, a
companheira há mais de 30
anos. Ela e os três filhos queriam ficar mais tempo perto
do homem que, em casa, em
nada lembra o ranzinza que
esbraveja à beira do campo
nos jogos do São Paulo.
"Pelo contrário, ele é muito tranqüilo, ótimo marido,
ótimo pai. Agora que está
aqui, as crianças estão adorando", conta Roseli.
Ela também. Além da companhia do marido, ganhou
novamente um ajudante em
casa, que tem prazer até nos
serviços domésticos.
"Ele adora lavar uma louça. Diz que mexer na água é
terapia. Às vezes, não deixa a
empregada lavar", diz Roseli.
A presença constante do
pai é novidade para os filhos.
Quando Fabíola, 26, nasceu,
Muricy estava no México.
Conheceu a filha somente
dois meses e meio depois.
Também não acompanhou
todos os aniversários de Muricy Jr., 19, e Fábio, 14.
Roseli viveu com o marido
no México, em Recife, na
China, em Florianópolis... Às
vezes com os filhos, às vezes
sem eles. Com o passar dos
anos, porém, ficou muito difícil manter a vida nômade.
"As crianças não criavam
vínculos, ficavam trocando
de escola, era muito complicado. Por isso, parei de
acompanhá-lo. E aí ficou difícil também ficar longe."
Além de se preocupar com
os filhos, Roseli tinha saudade dos bons papos e do romantismo do marido. Muricy costumava esconder
presentes em casa para ela
procurar. Quando ouve uma
música que lembre a mulher,
liga para ela ouvir. "Borbulhas de Amor", de Fagner, é
uma das canções preferidas
do técnico, fã de sertanejo.
"A gente também conversa
muito. Eu não entendo de futebol e em casa evitamos falar muito sobre o assunto
porque cansa. Então, quando
meu marido quer conversar
sobre algo do trabalho, eu fico escutando os desabafos."
Em 2006, ela passou madrugadas ouvindo. O ano de
volta ao São Paulo foi difícil,
e a importância da família ficou evidente ao fim do campeonato. Quando recebeu o
prêmio de melhor treinador
do Brasileiro, Muricy ofereceu o troféu a Roseli e não
conteve as lágrimas.
"Foi a surpresa mais bonita que ele já me fez", diz ela.
Os papos do casal também
acontecem no refúgio que
eles encontraram em Ibiúna.
É na casa de campo que ele
faz churrascos, anda descalço, ou senta ao lado de Roseli
para tomar vinho à sombra
de uma árvore.
Os filhos e a mulher só perdem espaço na vida do treinador para Julie e Tutty, a
maltês e a yorkshire que
também elegeram Muricy
como xodó. "Só elas não levam bronca dele em casa",
brinca Roseli.
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