São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

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Ex-nômade, técnico lava louça e namora

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2005, ainda técnico do Internacional, Muricy Ramalho recebeu um ultimato: ou retornava para São Paulo ou ficava desempregado.
O apelo era de Roseli, a companheira há mais de 30 anos. Ela e os três filhos queriam ficar mais tempo perto do homem que, em casa, em nada lembra o ranzinza que esbraveja à beira do campo nos jogos do São Paulo.
"Pelo contrário, ele é muito tranqüilo, ótimo marido, ótimo pai. Agora que está aqui, as crianças estão adorando", conta Roseli.
Ela também. Além da companhia do marido, ganhou novamente um ajudante em casa, que tem prazer até nos serviços domésticos.
"Ele adora lavar uma louça. Diz que mexer na água é terapia. Às vezes, não deixa a empregada lavar", diz Roseli.
A presença constante do pai é novidade para os filhos. Quando Fabíola, 26, nasceu, Muricy estava no México. Conheceu a filha somente dois meses e meio depois. Também não acompanhou todos os aniversários de Muricy Jr., 19, e Fábio, 14.
Roseli viveu com o marido no México, em Recife, na China, em Florianópolis... Às vezes com os filhos, às vezes sem eles. Com o passar dos anos, porém, ficou muito difícil manter a vida nômade.
"As crianças não criavam vínculos, ficavam trocando de escola, era muito complicado. Por isso, parei de acompanhá-lo. E aí ficou difícil também ficar longe."
Além de se preocupar com os filhos, Roseli tinha saudade dos bons papos e do romantismo do marido. Muricy costumava esconder presentes em casa para ela procurar. Quando ouve uma música que lembre a mulher, liga para ela ouvir. "Borbulhas de Amor", de Fagner, é uma das canções preferidas do técnico, fã de sertanejo.
"A gente também conversa muito. Eu não entendo de futebol e em casa evitamos falar muito sobre o assunto porque cansa. Então, quando meu marido quer conversar sobre algo do trabalho, eu fico escutando os desabafos."
Em 2006, ela passou madrugadas ouvindo. O ano de volta ao São Paulo foi difícil, e a importância da família ficou evidente ao fim do campeonato. Quando recebeu o prêmio de melhor treinador do Brasileiro, Muricy ofereceu o troféu a Roseli e não conteve as lágrimas.
"Foi a surpresa mais bonita que ele já me fez", diz ela.
Os papos do casal também acontecem no refúgio que eles encontraram em Ibiúna.
É na casa de campo que ele faz churrascos, anda descalço, ou senta ao lado de Roseli para tomar vinho à sombra de uma árvore.
Os filhos e a mulher só perdem espaço na vida do treinador para Julie e Tutty, a maltês e a yorkshire que também elegeram Muricy como xodó. "Só elas não levam bronca dele em casa", brinca Roseli.


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