São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

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O mundo (im)perfeito do Morumbi

Na iminência de se tornar hexacampeão brasileiro, clube usufrui imagem empreendedora no meio do futebol

Com histórico de vencedor pelos títulos que coleciona e com trânsito nos bastidores, São Paulo se projeta com marcas de ordem e eficiência


DA REPORTAGEM LOCAL

A fama vem com os títulos. O poder, com a força para emplacar cartolas na política e negociar a seu favor no milionário universo que será a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. O dinheiro, na forma do clube de futebol que mais fatura no país.
O trinômio que é sinônimo de ambição veste hoje, com perfeição, o São Paulo.
Se confirmar dentro de casa o título brasileiro, o clube irá ampliar sua vantagem como o mais vitorioso do país.
Ironicamente, tanta "perfeição" é fruto de uma máquina errática, que talvez tenha, como grande vantagem, a comparação com a concorrência.
Em 2008, pela primeira vez em quatro anos, o São Paulo deverá ter prejuízo, que deve ficar na casa dos R$ 12 milhões, segundo prevê a diretoria.
Mas o clube caminha a passos largos para se manter como o que mais arrecada no país.
Muito por causa de ser um bom vendedor de jogadores. Mas também porque consegue faturar em setores que sozinhos arrecadam para o clube mais do que outras agremiações de bom porte conseguem com todos os tipos de receita.
Para o superintendente Marco Aurélio Cunha, a diferença é estrutural. "O São Paulo sempre foi pioneiro, empreendedor. Está voltado para a mudança", comentou.
No ano passado, segundo balanço oficial do clube, só com seu projeto de sócio torcedor, licenciamento da marca e camarotes no Morumbi, o São Paulo arrecadou R$ 16 milhões, ou mais do que, segundo levantamento da Casual Auditores, todo o faturamento de Vitória e Coritiba em 2007.
O São Paulo, no entanto, entra na vala comum quando a questão é o aumento de gastos.
Novamente levando em conta seu balanço oficial, o clube gastou R$ 23 milhões com despesas de "pessoal" no seu departamento de futebol em 2006. Esse valor aumentou 64% no ano passado, batendo nos R$ 37,7 milhões.
O São Paulo não está livre de dívidas, tanto que também contava com a Timemania para quitar seus débitos com órgãos do governo federal.
Governo e política, aliás, são os tipos de ambiente em que o São Paulo tem bom trânsito.
Seu diretor de futebol, João Paulo de Jesus Lopes, é também secretário-adjunto de Estado dos Transportes Metropolitanos na gestão José Serra.
Mais forte ainda é a presença no clube na política paulistana.
Nas eleições municipais de outubro, dois candidatos de forte ligação com o São Paulo foram eleitos, isso em um pleito em que ex-jogadores dos rivais Corinthians e Palmeiras, como Dinei, Wladimir e Ademir da Guia, fracassaram.
Um foi o superintendente Marco Aurélio Cunha. O outro foi Aurélio Miguel, o candidato da oposição à presidência do São Paulo. Ambos fazem parte da bancada que vai apoiar o prefeito Gilberto Kassab na sua próxima gestão.
O trânsito nas esferas municipal e estadual foi decisivo para o São Paulo reverter a opinião de Ricardo Teixeira, o presidente da CBF, sobre o estádio paulistano para a Copa de 2014.
O cartola era contra o Morumbi. Mas o clube montou uma ampla aliança para apoiar a sua arena, que acabou indicada para a competição, o que vai facilitar a obtenção de recursos para a sua modernização.
Tudo isso fez o São Paulo também mudar sua posição de relativa independência com a CBF. O clube chegou a se abster na reeleição de Ricardo Teixeira em 2004. Na votação do ano passado, aderiu ao cartola.
O clube do Morumbi também foi o que melhor se articulou para buscar recursos no programa de incentivo fiscal do governo federal.
O São Paulo conseguiu aprovar projetos que irão totalizar quase R$ 14 milhões.
(PAULO COBOS E TONI ASSIS)


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