São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

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análise

Cartola toca clube como antigamente

RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

Badalado como modelo de modernidade, o projeto são-paulino é tocado por um dirigente fiel à moda antiga.
Para levar o time ao inédito tri nacional seguido, Juvenal Juvêncio rasgou o manual do cartola moderno. Centraliza decisões referentes ao futebol e se sente à vontade até para dar palpites na escalação do time.
Sob a justificativa de que o presidente da empresa deve se manifestar quando não está satisfeito, ele despeja suas opiniões em Muricy.
Por muito menos, Tite, no milionário time corintiano da MSI, botou o então aprendiz de dirigente Kia Joorabchian para correr do vestiário. E cavou sua sepultura.
No Morumbi, porém, Juvenal conseguiu manter o treinador, apesar da fase cambaleante na temporada, justamente por tomar decisões sozinho. Não ouviu os que queriam sua demissão.
Com pouca gente perto do centro das decisões, Juvenal consegue apagar mais rapidamente os incêndios.
Ao contrário de seus colegas em outros clubes, que despacham diante de uma legião de conselheiros, Juvenal age sem alarde. Se algo dá errado, é possível consertar sem estragos maiores.
No Morumbi, algumas das queixas da oposição são iguais às ouvidas em outros clubes, como a suspeita de comissões generosas a um ou outro empresário. Mas o barulho é menor, em parte por causa do comportamento mais discreto dos opositores.
É comum ouvir rivais políticos de Juvenal dizerem que vão lavar a roupa suja em casa, algo impensável em outros clubes. Mesmo assim, o presidente já encarou queixas públicas por ter uma filha trabalhando num patrocinador. Nem se abalou.
Estivesse ele no papel de opositor, o presidente estaria em apuros. Quando esteve longe do poder, o cartola ligava para redações de jornais usando codinomes para não ser identificado. Passava documentos que comprometiam quem estava com o poder naqueles momentos.
Hoje, mantém relações diplomáticas com seus rivais políticos. Até convida os adversários para viagens com o time, principalmente em jogos da Libertadores.
Para manter o São Paulo na crista da onda, porém, Juvenal estendeu sua atuação para além dos portões do Morumbi. Ele se aproximou de políticos e empresários influentes. Gaba-se de conseguir com mais facilidade do que os rivais aprovar projetos no governo e obter verbas na iniciativa privada.
Para isso, porém, usa também certas táticas antigas. Uma delas é distribuir camisas e chaveirinhos do clube "mais moderno do país".


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