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CBF muda sorteio do apito e privilegia seus favoritos
Prática exigida pelo Estatuto do Torcedor fica cada vez mais dirigida e beneficia árbitros mais famosos, que têm chance dobrada de atuar e ganhar R$ 2,5 mil
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Futebol pode ser uma "caixinha
de surpresa", mas a surrada máxima não vale mais no sorteio dos
árbitros para o Brasileiro-04.
A prática instituída pelo Estatuto do Torcedor no ano passado
com o objetivo de coibir armações, é feita hoje pela Comissão
Nacional de Arbitragem da CBF
de uma forma que protege a elite
do apito e os preferidos da entidade e impede surpresas na escala.
No seu início, um grande número de juízes era selecionado para o
sorteio. Seus nomes iam sendo
distribuídos pelos jogos da rodada. Assim, um trio poderia ser escolhido para qualquer um dos 12
confrontos de cada jornada da
primeira divisão do Nacional.
Agora a coisa é bem diferente.
Para cada partida só existem dois
nomes disponíveis (eram três no
final do ano passado). E, para os
figurões, existem duas "bolinhas"
no sorteio que hoje está muito
longe de atrair a atenção pública
como no ano passado.
Em praticamente todas as rodadas a Comissão de Arbitragem indica um juiz da Fifa ou um homem de confiança de Armando
Marques, o chefe do órgão, para
ter seu nome sorteado para dois
jogos, o que aumenta em muito a
possibilidade de trabalhar e faturar -um árbitro Fifa ganha R$
2,5 mil brutos por partida.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com Márcio Rezende de Freitas na rodada que começa hoje.
Ele foi sorteado para trabalhar em
Atlético-PR x Grêmio, mas se tivesse passado por esse jogo ainda
teria a chance de apitar Internacional x São Paulo, jogo para qual
o seu nome também foi indicado.
A dupla indicação é restrita aos
árbitros mais famosos.
Além de Freitas, já foram agraciados com isso o paranaense Héber Roberto Lopes, o gaúcho Carlos Eugênio Simon e o paulista
Paulo César de Oliveira.
Coisa muito pior acontece na
definição dos bandeirinhas. Ana
Paula de Oliveira, uma das preferidas de Marques, teve seu nome
indicado em dois trios para o sorteio do mesmo jogo.
Marques reconhece que mudou
a fórmula do sorteio e diz ter feito
isso para melhorar o nível da arbitragem do campeonato.
A nova dinâmica do sorteio mudou o mapa do apito no Brasileiro. Menos gente trabalha agora e a
elite fica de fora numa freqüência
muito menor do que em 2003.
No ano passado, segundo levantamento do Datafolha, o máximo
que um juiz apitou foram 26 jogos, ou 57% das rodadas.
Agora, Héber Roberto Lopes é o
líder com 15 partidas, o que corresponde a 79% das jornadas disputas até o momento.
Praticamente todos os juízes de
padrão Fifa ganharam em participação. O caso de Lopes é o mais
radical -contra os 79% de agora,
teve trabalho em apenas 41% das
jornadas da temporada passada.
No caso de Simon, o índice passou de 48% para 68%.
As revelações do apito estão esquecidas. Depois de trabalhar em
oito partidas na Série A em 2003, a
paulista Sílvia Regina, que já foi
criticada por Marques, trabalhou
em apenas um jogo em 2004.
Apesar de ter tido seu nome incluído duas vezes num sorteio,
Márcio Rezende de Freitas, presidente da Associação Nacional de
Árbitros de Futebol até o início do
ano, se queixa dos critérios da
CBF. "Sou totalmente contrário a
este modelo. Atualmente, alguns
trabalham sete jogos por mês. Já
outros ficam sem entrar em campo no mesmo período."
Para o árbitro, que trabalhou na
Copa do Mundo de 1998, a Comissão de Arbitragem da CBF
precisa ter mais "feeling".
"O trabalho tem que ser mais
ponderado. Eles têm que dar mais
chance aos novatos. Apesar de fazer parte do quadro da Fifa, os
maiores beneficiados [pelo sorteio], sou contra estarmos em toda rodada", disse Freitas.
Ele é favorável que os árbitros
da Fifa atuem apenas em quatro
rodadas por mês. "Desse jeito, a
arbitragem brasileira fica na mão
de cinco ou seis árbitros. Do jeito
que está, vai ficar difícil aparecer
uma nova revelação", disse.
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