|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TÊNIS
O que acontece?
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
O norte-americano Brad
Gilbert nunca empolgou
muita gente no tênis. Chegou a
ser o número quatro do ranking
mundial, mas nunca foi uma estrela que inspirava crianças, adolescentes e adultos, torcedores em
busca de um bom jogo e jovens tenistas em busca da fama.
Gilbert jogava feio. Ele mesmo
admitia isso. Quase ao fim da carreira profissional, escreveu, em
parceria com um jornalista,
"Winning Ugly" (algo como "ganhando com um jogo feio"), livro
que, dizem, Michael Chang e Ievguêni Kafelnikov chegaram a ler
em suas fases mais críticas.
Criança, Gilbert recebeu de seu
pai as primeiras orientações para
rebater a bolinha na parede de
casa e um aviso: "Você só sobe à
rede para cumprimentar o adversário". O problema é que Gilbert
não tinha força para jogar no
fundo da quadra.
Para vencer, então, Gilbert desenvolveu um jogo feio. Feio, mas
eficiente. Explorava como ninguém as falhas do adversário.
Não hesitava em levantar a bola
se isso lhe ajudasse, não hesitava
em irritar o outro jogador.
Um dia, há sete anos já, Andre
Agassi puxou conversa com Gilbert. Perguntou o que ele, Agassi,
podia melhorar em seu jogo. Gilbert discorreu cerca de 40 minutos sobre as falhas que via. Contou como costumava ganhar e
acabou contratado como técnico.
O próprio Gilbert relatou recentemente à jornalista Sally Jenkins
quais foram as primeiras influências sobre Agassi. Segundo ele,
Agassi era afobado. Por saber que
tinha talento, tentava matar os
pontos na primeira bola. Gilbert
fez o tenista "se programar" para
matar o ponto na quarta bola.
"Quem mata o ponto na primeira
bola é Sampras", dizia.
Sabemos todos nós hoje que
Agassi é um dos mestres da tática,
da troca de bolas, do uso de golpes
variados e da exploração da falha
do adversário. É certamente algo
de Gilbert que está nisso.
Gilbert também se espantou
quando Agassi revelou que só decidia onde ia sacar no momento
em que levantava a bola para o
saque. "Eu sabia com sete meses
de antecedência como ia sacar cada bola contra este ou aquele jogador", exagera o treinador.
Hoje, sabemos todos nós, Agassi
é o tenista com a melhor devolução de saque no circuito e um dos
sacadores mais táticos também. O
talento é, sem dúvida, de Agassi,
mas algum mérito, mínimo que
seja, cabe a Gilbert.
Em troca de e-mails com Steve
Jamison, jornalista que escreveu o
livro com Gilbert e acompanhou
os primeiros passos do amigo com
Agassi, fico sabendo mais sobre o
estilo de trabalho desse californiano ex-top quatro do mundo.
Gilbert é cruel. Quando orienta
Agassi, pensa em como Agassi pode machucar o adversário. Parece
querer, parece esperar que Agassi
tire sangue, literalmente, do rival.
Gilbert é paciente. Não admite
que Agassi desista de um jogo. No
quarto do hotel, até aceita que o
pupilo desista de jogar, de disputar um torneio. Mas, em quadra,
não admite um jogo entregue ao
outro tenista.
Gilbert costuma dizer que Agassi não perde, o jogo é que acaba
antes do programado.
Ontem, Gustavo Kuerten finalmente venceu. Derrotou o tcheco
Bohdan Ulihrach na estréia em
Paris. As palmas são para Kuerten, mas alguma coisa de Larri
Passos tem nessa vitória.
Entre elas lá
As melhores disputam o Masters nesta semana, mas nem todas.
Martina Hingis, recém-operada, não foi. Venus Williams, alegando contusão, não foi. Monica Seles, atacada na Alemanha, não foi.
Jeniffer Capriati e Lindsay Davenport disputam o posto de melhor
do mundo ao fim da temporada. Será que é esse o duelo do ano?
Entre elas aqui
Obrigada a abandonar uma série de cinco torneios na Europa, a
brasileira Joana Cortez viu que foi apenas um susto as dores que
sentiu nas costas. Ela volta a treinar já nesta segunda-feira, meio
que uma pré-temporada para 2002.
Entre nós aqui
Para quem ainda quer ver tênis de bom nível, aviso desde já: o Rio
vai receber no começo de dezembro o Masters da Copa Ericsson.
Com mais de um mês de antecedência, está dado o recado.
E-mail: reandaku@uol.com.br
Texto Anterior: O retorno: Zanardi afirma que voltará a competir Próximo Texto: Tênis: Guga quebra jejum, Hewitt ajuda, e bi da Corrida fica perto Índice
|