São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2001

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TÊNIS

O que acontece?

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

O norte-americano Brad Gilbert nunca empolgou muita gente no tênis. Chegou a ser o número quatro do ranking mundial, mas nunca foi uma estrela que inspirava crianças, adolescentes e adultos, torcedores em busca de um bom jogo e jovens tenistas em busca da fama.
Gilbert jogava feio. Ele mesmo admitia isso. Quase ao fim da carreira profissional, escreveu, em parceria com um jornalista, "Winning Ugly" (algo como "ganhando com um jogo feio"), livro que, dizem, Michael Chang e Ievguêni Kafelnikov chegaram a ler em suas fases mais críticas.
Criança, Gilbert recebeu de seu pai as primeiras orientações para rebater a bolinha na parede de casa e um aviso: "Você só sobe à rede para cumprimentar o adversário". O problema é que Gilbert não tinha força para jogar no fundo da quadra.
Para vencer, então, Gilbert desenvolveu um jogo feio. Feio, mas eficiente. Explorava como ninguém as falhas do adversário. Não hesitava em levantar a bola se isso lhe ajudasse, não hesitava em irritar o outro jogador.
Um dia, há sete anos já, Andre Agassi puxou conversa com Gilbert. Perguntou o que ele, Agassi, podia melhorar em seu jogo. Gilbert discorreu cerca de 40 minutos sobre as falhas que via. Contou como costumava ganhar e acabou contratado como técnico.
O próprio Gilbert relatou recentemente à jornalista Sally Jenkins quais foram as primeiras influências sobre Agassi. Segundo ele, Agassi era afobado. Por saber que tinha talento, tentava matar os pontos na primeira bola. Gilbert fez o tenista "se programar" para matar o ponto na quarta bola. "Quem mata o ponto na primeira bola é Sampras", dizia.
Sabemos todos nós hoje que Agassi é um dos mestres da tática, da troca de bolas, do uso de golpes variados e da exploração da falha do adversário. É certamente algo de Gilbert que está nisso.
Gilbert também se espantou quando Agassi revelou que só decidia onde ia sacar no momento em que levantava a bola para o saque. "Eu sabia com sete meses de antecedência como ia sacar cada bola contra este ou aquele jogador", exagera o treinador.
Hoje, sabemos todos nós, Agassi é o tenista com a melhor devolução de saque no circuito e um dos sacadores mais táticos também. O talento é, sem dúvida, de Agassi, mas algum mérito, mínimo que seja, cabe a Gilbert.
Em troca de e-mails com Steve Jamison, jornalista que escreveu o livro com Gilbert e acompanhou os primeiros passos do amigo com Agassi, fico sabendo mais sobre o estilo de trabalho desse californiano ex-top quatro do mundo.
Gilbert é cruel. Quando orienta Agassi, pensa em como Agassi pode machucar o adversário. Parece querer, parece esperar que Agassi tire sangue, literalmente, do rival.
Gilbert é paciente. Não admite que Agassi desista de um jogo. No quarto do hotel, até aceita que o pupilo desista de jogar, de disputar um torneio. Mas, em quadra, não admite um jogo entregue ao outro tenista.
Gilbert costuma dizer que Agassi não perde, o jogo é que acaba antes do programado.

Ontem, Gustavo Kuerten finalmente venceu. Derrotou o tcheco Bohdan Ulihrach na estréia em Paris. As palmas são para Kuerten, mas alguma coisa de Larri Passos tem nessa vitória.

Entre elas lá
As melhores disputam o Masters nesta semana, mas nem todas. Martina Hingis, recém-operada, não foi. Venus Williams, alegando contusão, não foi. Monica Seles, atacada na Alemanha, não foi. Jeniffer Capriati e Lindsay Davenport disputam o posto de melhor do mundo ao fim da temporada. Será que é esse o duelo do ano?

Entre elas aqui
Obrigada a abandonar uma série de cinco torneios na Europa, a brasileira Joana Cortez viu que foi apenas um susto as dores que sentiu nas costas. Ela volta a treinar já nesta segunda-feira, meio que uma pré-temporada para 2002.

Entre nós aqui
Para quem ainda quer ver tênis de bom nível, aviso desde já: o Rio vai receber no começo de dezembro o Masters da Copa Ericsson. Com mais de um mês de antecedência, está dado o recado.

E-mail: reandaku@uol.com.br



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