São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Só a ilusão nos salva

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Na análise do coração de um atleta, é preciso diferenciar os problemas vasculares das arritmias primárias (graves ou não), das hipertrofias fisiológicas dos atletas (não é doença) e das hipertrofias que aparecem em doenças cardíacas e que podem ocasionar graves arritmias. Seria o caso do Serginho, segundo os noticiários.
Mas nem sempre é fácil avaliar os riscos de um atleta. Nesse caso, é necessário escutar outra opinião mais qualificada. Profissionais de todas as áreas não costumam ter essa humildade. Medicina não é também ciência exata. Além disso, todas as pessoas, atletas e até médicos bem preparados cientificamente, agem às vezes como se as coisas ruins nunca fossem acontecer com elas. É a onipotência do pensamento.
Tudo precisa ser apurado para que se evite a morte de outros atletas.
Serviços especializados de urgência com pessoas treinadas e com desfribilador facilmente acessível (não é indicado em todos os pacientes), deveria ser obrigatório em todos os lugares públicos com grande número de pessoas.
Apesar de ter trabalhado e dado aulas durante anos em serviços de urgência e ter visto muitos jovens que eram aparentemente saudáveis chegarem ao hospital como o Serginho, não me acostumei com a morte. Por não conviver bem com essa realidade e por outros motivos, retornei ao esporte e continuo assistindo a essas tragédias.
Viver é perigoso, como disse João Guimarães Rosa, e também emocionante e trágico. Diante da fragilidade humana e da finitude da vida, só a ilusão, o sentimento e o bom humor nos salvam.

A lógica dos palpites
Neste momento do Campeonato Brasileiro, todos os técnicos, os jogadores, os torcedores e a imprensa esportiva têm diferentes palpites e argumentos lógicos e ilógicos para indicar o provável campeão, os quatro classificados para a Taça Libertadores da América e os quatro rebaixados.
Os poucos que vão acertar dirão: "Não falei?". O sonho de todo analista, em qualquer área, é antecipar os fatos. Os que vão errar as previsões, a maioria absoluta, vão falar que o futebol é uma caixinha de surpresas.
As nossas previsões e a dos comentaristas de economia têm a mesma média de acerto do que as das cartomantes e as dos que não entendem nada de futebol. São tantas as variáveis e os imprevistos que a melhor lógica para fazer uma boa previsão é não usar nenhuma lógica.
Mas como sou um animal racional, acredito que os times que perderam mandos de campo serão os que terão mais dificuldades para conseguirem os seus objetivos. Óbvio! Toda lógica é obvia. Se não fosse óbvia, não seria lógica.

Já era previsto
Apesar de todos os jogadores da seleção terem atuado mal contra a Colômbia, Alex não aproveitou a chance e perdeu a posição de reserva do Kaká. Adriano merece ser o substituto dos dois Ronaldinhos e do Kaká. Nesse caso, Ronaldinho Gaúcho faria a função do jogador do Milan.
Isso é um fato. Outro foi o Parreira chamar o Júlio Baptista para o lugar do Alex, além do Kleberson, que não joga nada há muito tempo.
A justificativa do técnico de dar mais força física ao banco de reservas por causa da altitude é risível. No futebol, há explicação para tudo.
Parreira aproveitou a chance para fazer o que desejava havia muito tempo. O técnico quis dizer também que o Brasil jogou mal contra a Colômbia por causa da má atuação do Alex e da ausência do Kaká.
Kaká fez falta (o time jogou mal também várias vezes com ele), mas a não-convocação do Alex serve ainda para encobrir os antigos erros coletivos da equipe.
O Brasil assistiu à Colômbia tocar a bola e jogou durante 90 minutos com três armadores marcando mais atrás para proteger quatro defensores contra um único atacante. Ter sete jogadores atrás da linha da bola é um dos dogmas do Parreira.
Apesar de ter mais craques do que nas últimas eliminatórias e uma base formada desde a Copa do Mundo de 2002, o Brasil tem os mesmos 20 pontos que tinha no mesmo momento da competição. Na época, a seleção era muito criticada. Hoje, por causa da liderança, falam que o time vive uma grande fase.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br

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