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POR UM FIO
Atirador paraplégico colocou duas pontes de safena e já voltou ao esporte e ao trabalho
Exames salvaram infartado sem dor
DA REPORTAGEM LOCAL
Cillas Marci Viana, 46, já subiu
morros, invadiu mansões e não
sabe o que é mais perigoso. Já sobreviveu a um ataque de granadas
e a um tiro à queima-roupa, que o
deixou paraplégico. Diz não temer a morte. Mas, quando esteve
diante dela, não foi por causa de
suas atividades como policial. Cil-las vestia um agasalho de atleta.
Sargento da PM, carioca, membro da equipe paraolímpica de tiro, ele é o exemplo extremo de como os exames periódicos podem
salvar a vida de esportistas. "Não
sentia nada. Só uma queda de
pressão um pouco antes. Não
imaginava, não tinha a mínima
idéia do que estava acontecendo."
Para contar sua história, Cillas
retorna a agosto do ano passado.
Ele havia acabado de voltar da
Holanda, onde conquistara o
bronze por equipes em um torneio, e viajou a Recife para uma
série de exames de rotina do CPB
(Comitê Paraolímpico Brasileiro).
"Uma das etapas é fazer um eletrocardiograma seguido por uma
prova de esforço. Logo no exame
achamos características de infarto", diz o médico Marcelo Leitão.
Os médicos mergulharam no
caso e pediram um ecocardiograma, espécie de ultrassom que
mostra as estruturas cardíacas, e
descobriram que Cillas havia sido
vítima de um "infarto silencioso",
sem dor. Começou, então, uma
investigação para descobrir o motivo para isso. A primeira hipótese, diabetes, foi logo eliminada. Só
após queimarem outras possibilidades os profissionais que atenderam Cillas mataram a charada.
"Quando ele tomou o tiro que o
deixou paraplégico, houve uma
lesão no nervo vago, que é o responsável por levar ao cérebro as
informações sensitivas do coração. Ou seja, ele sofreu um infarto
e não sentiu dor. Ainda bem que
descobrimos isso antes do teste de
esforço", conta o médico do CPB.
Dois meses e várias baterias de
exames depois, Cillas foi submetido a uma cirurgia para implantação de duas pontes de safena. Hoje, um ano após a operação, já voltou a trabalhar no sistema de monitoramento de câmeras de vídeo
da PM do Rio e a praticar tiro, na
modalidade pistola olímpica.
"Não tive alternativa. Fiz a cirurgia e acabou. Hoje faço minhas
competições num ritmo mais leve
e larguei de vez a carne vermelha."
Segundo ele, o susto, pelo inesperado da situação, foi maior do
que no tiroteio que o colocou numa cadeira de rodas, em 1992,
após assalto a um Banco do Brasil
em Duque de Caxias (Baixada
Fluminense). Durante a perseguição, os bandidos chegaram a jogar
granadas contra o carro da PM.
"Conseguimos desviar e depois,
no tiroteio, acertei um tiro de [calibre] 12 no marginal, que caiu no
mato. Eu tinha certeza de que ele
estava estrebuchando, mas, quando cheguei perto, ele deu o último
suspiro e atirou em mim. Acertou
minha segunda vértebra."
"Não vi arma, não vi nada. Ele
tirou a mão do mato e atirou. Depois, morreu. E eu, que nunca tive
medo da morte, fiquei então com
medo de dar trabalho às pessoas.
Ainda bem que sei me virar sozinho. E acho também que tudo isso serviu para me deixar mais durão para aquela coisa do infarto."
A história de Cillas deve ser publicada pelos médicos que o atenderam. "O caso é interessantíssimo. Vamos publicar esse relato
em breve", promete Leitão.(FSX)
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