São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2007

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Copa 2014

Nacionalismo marca volta da Copa ao país após 57 anos

Confirmação do Brasil como sede do Mundial de 2014 leva CBF e políticos a exaltar patriotismo e Fifa a condenar questionamentos

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE

Cinqüenta e sete anos depois da única Copa do Mundo sediada no Brasil, a Fifa confirmou ontem que o país voltará a organizar o evento, em 2014.
O anúncio não causou surpresa, pois a candidatura brasileira era a única. O que marcou foi a exaltação nacionalista de políticos, cartolas e membros do estafe da CBF durante a cerimônia na Fifa, em Zurique.
Essa postura descambou para reação irritada do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, quando uma jornalista estrangeira questionou problemas de segurança no país. O presidente da Fifa, Joseph Blatter, repreendeu a repórter. Já o técnico Dunga cobrava "patriotismo" da imprensa nacional.
O tom nacionalista da delegação brasileira perdurou desde o discurso de abertura de Teixeira até o agradecimento final do presidente Lula. Sobraram promessas de que a Copa será boa para o país e de que o mundo se surpreenderá positivamente com a competição.
O ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., em seu discurso, resumiu ao dizer que o Brasil é "uma pátria de chuteiras", citando Nelson Rodrigues.
Marcada pela Fifa para as 12h30 (9h30 de Brasília), a apresentação brasileira começou 26 minutos após o previsto, por atraso do presidente Lula.
No auditório lotado, em que se destacava a grande comitiva brasileira, com 12 governadores, três ministros -além de Silva Jr., Marta Suplicy, do Turismo, e Celso Amorim, das Relações Exteriores- e ao menos duas dezenas de acompanhantes, predominou o clima de celebração, pois o suspense foi esvaziado pela falta de concorrência à candidatura brasileira.
Teixeira, de terno com emblema da Fifa, da qual é um dos 23 membros do Comitê Executivo, concentrou seu discurso no "impacto positivo" que a Copa terá para o Brasil.
"Segundo estudos da Fifa, a última Copa, na Alemanha, deixou como legado a criação de 40 mil empregos permanentes", disse. "O modelo proposto para a Copa no Brasil prevê a prioridade para os investimentos privados na construção e na reforma dos estádios, deixando os recursos públicos para a modernização da infra-estrutura."
Os discursos foram entremeados de dois vídeos, dominados por depoimentos de artistas da TV Globo e de imagens da emissora, com cenas de paisagens naturais, jogadas e uma narração em inglês que repetia as promessas de que a Copa será um grande investimento para o Brasil. Ao fundo, samba.
Depois de um intervalo de duas horas, chegou o momento mais esperado. Com o envelope ainda fechado, Joseph Blatter, presidente da Fifa, disse que a escolha do Comitê Executivo havia sido unânime. Em seguida veio o anúncio, confirmando a sede da Copa de 2014 para "o melhor futebol do mundo".
Convocado a discursar, o presidente Lula abraçou Teixeira, Romário, Dunga e os ministros presentes, enquanto a cobiçada Copa do Mundo era passada de mão em mão.
"Essa escolha é motivo de muita alegria e de muita festa, mas sobretudo motivo para regressarmos ao Brasil sabendo que organizar uma Copa é uma grande responsabilidade", disse o presidente. "Mas se o Brasil já foi capaz de realizar uma Copa em 1950, quando eu tinha apenas quatro anos e seis meses de idade, imagino o que o Brasil não poderá fazer quando eu tiver 69."
Pouco antes de definir o Brasil para 2014, a Fifa escolheu a Alemanha para sediar a Copa do Mundo Feminina, em 2011. Bateu o Canadá. Ao vencer a concorrência, os alemães festejaram, polidamente.


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