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MÚSICA
Tucaemell usam o hip hop como arma para a inclusão social
Em busca da batida perfeita
MARCOS DÁVILA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Sabe o White Stripes, né? Aquela
banda de rock de Detroit (EUA)
com a estranha formação de bateria
e guitarra. Imagine agora um White
Stripes com duas Megs na bateria,
só que com o mesmo peso e desenvoltura de Jack, o guitarrista. Assim,
dá para ter uma idéia da dupla Tucaemell, uma máquina de grooves
que vem demarcando seu espaço na
cena do hip hop brasileiro.
Formado em março de 2002, pelas
bateristas e percussionistas Ursula
"Tuca" Pedrosa Milan, 25, e Melissa
"Mell" Pazzanese, 24, o duo se apresenta em campeonatos de break nas
periferias de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba.
Em dezembro do ano passado, as
meninas fizeram um pocket-show
na festa do evento de cultura hip
hop Agosto Negro, organizado pela
Prefeitura de São Paulo. Foram 20
minutos ininterruptos de quebradeira total, enquanto os b.boys
abriam a roda na pista.
Mell é canhota, e Tuca, destra. Então, as duas ficam lado a lado em
suas baterias, como se fossem uma
pessoa só. "A gente vira a mulher
polvo", brinca o lado direito do duo.
Na platéia, entre os muitos marmanjos embasbacados com as duas
pequenas, que não deixavam beat
sobre beat, estava o rapper Xis,
igualmente impressionado. Na
mesma noite, o rapper, que não é
bobo nem nada, convidou as duas
para tocar com ele no show no vale
do Anhangabaú, em comemoração
aos 450 anos de São Paulo, quando
as duas se apresentaram para um
público de mais de 50 mil pessoas.
As paulistanas Tuca e Mell estudaram juntas no colégio e, depois de
um tempo de afastamento, se reencontraram numa oficina de percussão dada pelo mestre Airto Moreira.
Levantamento de rua
Um dia, da janela do carro, Mell
viu o menino de rua João (nome fictício), 15, dançar break pela primeira vez, com os amigos. "Falei para a
Tuca: "a gente tem de tocar com
eles", lembra Mell. Depois de alguns
dias, ela já estava com a parceira na
rua com os garotos. Munidas apenas de caixa e de surdo, elas começaram ali mesmo um trabalho que
mais tarde se transformou no grupo
de b. boys Levantamento de Rua.
"É um incentivo para levantar na
vida, sair das ruas. Agora, eu tenho
responsabilidade. Antes, eu só queria fazer coisas que eu sei que são erradas. Quero voltar para casa, voltar
a estudar, fazer tudo que eu tenho
direito", diz João, o b. boy pioneiro.
A equipe é formada por oito garotos de rua. "Eles têm casa e mãe, mas
ficam mesmo é na rua", afirma Mell.
O envolvimento foi tão grande que
ela resolveu ir morar também na favela, para ficar mais próxima da comunidade. Os ensaios aconteciam
na rua, na casa de Mell e às vezes na
USP. Depois de um mês, o Levantamento de Rua estreou uma coreografia no projeto Engenho Teatral,
realizado no Campo Limpo (na periferia de São Paulo). O grupo continua crescendo e já participou de um
clipe do rapper Marcelo D2.
As garotas, no entanto, sabem que
não é só de música que eles precisam e se esforçam para marcar reuniões com psicólogos e com educadores, além de contar com a ajuda
de mais duas voluntárias.
"Queremos montar uma sede. É
muito difícil trabalhar desse jeito,
sem dinheiro nenhum. Estamos
procurando algumas parcerias com
ONGs, mas pretendemos em breve
fazer a nossa própria organização",
diz Mell. Interessou? E-mail nelas:
tucaemell@yahoo.com.br.
"Todo mundo pensa que duas
mulheres tocando batera não vai
dar certo. Mas chega a hora, e fica
todo mundo, assim, de boca aberta", afirma o garoto. Quer saber? Tucaemell está nas ruas. E o White Stripes, onde está mesmo?
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