São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

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NA ESTRADA

MAYRA DIAS GOMES mayradiasgomes@uol.com.br

O perigo de chegar perto demais

QUANDO AMO uma banda desesperadamente, preciso vê-la de perto. Se eu tiver dinheiro sobrando, compro um ingresso VIP, não importa. Ficar na grade de um show a que quero muito assistir pode ser emocionante.
Em 2001, cismei em ficar na grade do Ozzfest, um festival de rock que reunia atrações como Marilyn Manson, Black Sabbath e Papa Roach. Havia viajado com a família para San Francisco e a obriguei a me acompanhar. Após o Rock in Rio 3, precisava ver o Papa Roach de perto de novo.
Minha mãe rapidamente se arrependeu de ter realizado meu desejo adolescente. Ao ver o "corredor da morte" que havia se formado durante o show do Black Label Society, imediatamente quis ir embora.
Contudo, foi só durante o show do Disturbed que ela gritou para que o segurança nos salvasse. Eu e minha irmã caçula fomos esmagadas contra a grade, e minha irmã caiu e quase foi pisoteada. Enquanto isso, a banda pedia para a galera ficar mais e mais selvagem.
Dez anos depois, morando em Los Angeles, fui ver o Papa Roach na House of Blues. Fiquei na grade. Estou com gelo no nariz, pois levei um chute no rosto. Pelo menos 20 pessoas fizeram "crowd surf" (a arte de "surfar" na galera) e foram jogadas por cima da minha cabeça. Uma delas me atingiu.
Admito que, depois do episódio, procurei conforto no rosto da minha banda querida. E quando vi que continuavam incentivando aquele comportamento violento, tive de sair da frente do palco. "Lide com isso, você está num show de rock", disse o segurança.
Nove pessoas morreram em "mosh pits", e mais de 10 mil se machucaram seriamente. Mesmo assim, bandas incentivam a atitude.
Quem você acha que está errado? O fã que se arrisca na grade ou a banda que arrisca a vida do fã? "Mosh pits" fazem parte de shows de rock ou são simplesmente um costume ridículo?


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