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crítica
Sobrinhos, ela até que canta bem!
MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha
Muitos teóricos têm tentado explicar o fenômeno Tiazinha. Afinal, depois de estourar nas paradas, tal fenômeno precisa ser desvendado para o bem da nação, perplexa diante dos caminhos seguidos pela sua música popular.
Na trilha por onde passou o samba de Noel, a bossa de Jobim, a tropicália de Veloso, o rock de Russo e
a batida de Science, o carro alegórico extravagante de Carla Perez e
Tiazinha encerra o desfile. O país
se rende em definitivo ao "shake-to-shake" de traseiros femininos.
"Decifra-me ou te devoro, sou a
máscara fêmea. Onde o mundo vai
parar?", canta com ironia a própria
Tiazinha, na música "Tiazinha,
Você é Minha" do CD que acaba de
sair do forno batizado de "Tiazinha Faz a Festa" (produzido por
Líber Gadelha).
Acho que foi o jornalista Elio
Gaspari quem a definiu como o
símbolo da era FHC: "Bate, que eu
gosto". Alguém já afirmou que ela
é a mulher ideal dos encantos machistas, bonita, lasciva e muda. Seu
criador, Luciano Huck, disse que o
segredo é a máscara, pois todas podem se transformar em Tiazinha
da noite pro dia. Basta um paninho
preto com dois furinhos nos olhos.
Pensei que, talvez, sua representação espelhe o que o brasileiro
sente diante do neoliberalismo, assistindo inerte ao encolhimento do
Estado e a venda de algumas estatais, arrancadas como pêlos periféricos numa depilação: dói, mas
quem precisa deles, afinal?
Pode ser que Tiazinha não passe
de uma grande piada, o último respiro dos ideais da mulher objeto; o
homem sabe que seus dias estão
contados, que as mulheres vão
conquistar territórios e inventa
uma Tiazinha dominadora que
"mexe gostoso..."
"Mulher tem essa vantagem, não
tem que dar mole pra ninguém",
responde Tiazinha na faixa "Sou
Mais Eu": "Eu gosto de aparecer,
de sair e me divertir..." Definitivamente, ela não quer ficar em casa,
cuidar da cozinha, encostar o umbigo no tanque nem trocar as fraldas do Júnior.
É surpreendente como a tia mascarada, essa máquina de dinheiro,
é bem assessorada, finca os pés na
sua autenticidade, sabe o que faz.
Sua "Playboy" já bateu o recorde
de vendagem. E o CD não é desprezível. É funk de primeira, bem produzido, apesar de ter a companhia
de alguns pagodes de segunda.
O CD tem as mãos de Theo Wernek, Vinny, Fausto Fawcett, Michael Sullivan, DJ Cuca. É dançante. E mais. Ela canta. Canta bem.
Não é nenhuma Fitzgerald. Mas é
afinadinha, tem bossa e malícia.
Logo na abertura, a poética
Tchan mostra sua força: "Tiazinha, mexe essa bundinha..." As letras exploram o fenômeno. Pensando bem, as letras são bem ruinzinhas. Lembram o diário de um
adolescente onanista e pouco criativo. Mas o que se queria, uma reflexão sobre a condição humana?
O estilo Tchan é inspirado na
música "Dança da Tiazinha":
"Tem que saber depilar e mexer a
bundinha.. Põe a mão no joelho e
começa a descer..." Rola até um
pagode com a participação de Alexandre Pires (não é ele o homem
de Carla Perez?). Rola ainda uma
faixa bônus multimídia interativa,
com fotos inéditas da tia mascarada acessíveis pelo computador.
O disco é para vender. Como
num pacto, todos querem faturar
alguns cobres, numa corrida contra o tempo, antes que o fenômeno
seja esquecido ou substituído. E
quem vai substituí-la, Sobrinhazinha ou Priminha? A Vovozinha
não tem e$$e apelo. Não a minha.
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