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música
É noise na fita
Festival em Goiânia reúne bandas e picolés de todos os sabores
JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM
GOIÂNIA
A
raticum, Mutamba,
Gabiroba, Buriti e
Cagaita foram alguns dos destaques
do 13º Goiânia Noise
Festival. Não, os nomes listados não batizam bandas do
evento. São sabores de picolés
da marca Frutos do Cerrado,
que fizeram a alegria de músicos e jornalistas forasteiros na
capital de Goiás entre 23 e 25
de novembro. Domenico Lancelotti e Stephane San Juan, do
grupo Kassin + 2, não embarcaram de volta para o Rio de Janeiro sem antes lotarem dois
isopores com o principal "aditivo" do Goiânia Noise.
Mais variado e inusitado do
que o cardápio da sorveteria só
mesmo a escalação do principal
festival do calendário independente brasileiro. Na maior edição da história, 41 grupos e
9.000 fãs de música se encontraram nos dois palcos do nababesco Centro Cultural Oscar
Niemeyer. Gente aberta, respeitosa e eufórica. Mesmo com
atrações tão díspares quanto
Sepultura e Pato Fu, não rolaram vaias nem conflitos.
Ecletismo
O ecletismo dos goianos é
impressionante. Enquanto
Kassin cantava "Água", canção
que emula a guitarrada (ritmo
paraense irmão do carimbó),
um rapaz trajando camiseta do
Black Sabbath dançava como se
não existisse amanhã. Mais tarde o festival ainda receberia o
metal dos paulistanos do Korzus e o pernambucano Cordel
do Fogo Encantado. Este, se
fosse um picolé da Frutos do
Cerrado, seria o de queijo
-"um gosto a ser adquirido",
como definiu o ex-empresário
do Cansei de Ser Sexy Eduardo
Ramos, que flanou pelo evento
durante os três dias.
Exceto pelo Cordel e pelo
sorvete de queijo, a indigestão
não teve vez. Um dos momentos mais refrescantes foi protagonizado pela tríade Macaco
Bong, Pata de Elefante e Battles: três ótimas bandas (majoritariamente) instrumentais,
mas com pouco em comum.
O trio cuiabano Macaco
Bong, que promete o primeiro
disco para 2008, vai de Joe Satriani a Jeff Buckley em alguns
segundos. Os gaúchos do Pata
experimentam menos, preferindo composições redondinhas, que poderiam ter sido escritas nos idos de 1960. Contratado da Monstro Discos (gravadora que promove o Noise), o
trio de Porto Alegre aproveitou
para lançar seu segundo CD:
"Um Olho no Fósforo, Outro na
Fagulha". Já os norte-americanos do Battles exibiram o mesmo rock hipnotizante que a
platéia paulistana aprovara
dias antes no Clash Club.
Chifrinhos
Relegados ao palco menor, os
representantes latinos não fizeram feio. Quem se deu melhor foi o duo chileno Perrosky,
que flerta com o blues e o folk.
Acompanhado pelos Los Subtitulados (os legendados, em
português), o cantor argentino
Rubin arrancou menos aplausos, porém mostrou a classe e o
talento de um verdadeiro Elvis
Costello portenho. O hardcore
desenfreado dos capixabas do
Mukeka di Rato e o rock garageiro do paulistano Haxixins
também funcionaram bem no
palco diminuto.
Móveis Coloniais de Acaju e
Superguidis ganharam o palcão. Os primeiros saíram de
Goiânia consagrados após uma
apresentação levada a plenos
pulmões pelo público. Prejudicado por um som embolado, o
Superguidis não pôde confirmar que é um dos melhores nomes do rock atual. Mas uma
turma de fãs chegou a executar
polichinelos na platéia de tão
empolgada que estava com hits
indies como "Malevolosidade".
Já o quarteto MQN, veterano
da cena local, encontrou uma
audiência perfeita para seu
som pesado, que trata do capeta e de mulheres endemoniadas. Vários usavam tiaras com
chifrinhos piscantes, vendidas
a R$ 10 por um tiozinho evangélico.
O jornalista JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR viajou a convite do festival
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