São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2007

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música

É noise na fita

Festival em Goiânia reúne bandas e picolés de todos os sabores

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM GOIÂNIA

A raticum, Mutamba, Gabiroba, Buriti e Cagaita foram alguns dos destaques do 13º Goiânia Noise Festival. Não, os nomes listados não batizam bandas do evento. São sabores de picolés da marca Frutos do Cerrado, que fizeram a alegria de músicos e jornalistas forasteiros na capital de Goiás entre 23 e 25 de novembro. Domenico Lancelotti e Stephane San Juan, do grupo Kassin + 2, não embarcaram de volta para o Rio de Janeiro sem antes lotarem dois isopores com o principal "aditivo" do Goiânia Noise.
Mais variado e inusitado do que o cardápio da sorveteria só mesmo a escalação do principal festival do calendário independente brasileiro. Na maior edição da história, 41 grupos e 9.000 fãs de música se encontraram nos dois palcos do nababesco Centro Cultural Oscar Niemeyer. Gente aberta, respeitosa e eufórica. Mesmo com atrações tão díspares quanto Sepultura e Pato Fu, não rolaram vaias nem conflitos.

Ecletismo
O ecletismo dos goianos é impressionante. Enquanto Kassin cantava "Água", canção que emula a guitarrada (ritmo paraense irmão do carimbó), um rapaz trajando camiseta do Black Sabbath dançava como se não existisse amanhã. Mais tarde o festival ainda receberia o metal dos paulistanos do Korzus e o pernambucano Cordel do Fogo Encantado. Este, se fosse um picolé da Frutos do Cerrado, seria o de queijo -"um gosto a ser adquirido", como definiu o ex-empresário do Cansei de Ser Sexy Eduardo Ramos, que flanou pelo evento durante os três dias.
Exceto pelo Cordel e pelo sorvete de queijo, a indigestão não teve vez. Um dos momentos mais refrescantes foi protagonizado pela tríade Macaco Bong, Pata de Elefante e Battles: três ótimas bandas (majoritariamente) instrumentais, mas com pouco em comum.
O trio cuiabano Macaco Bong, que promete o primeiro disco para 2008, vai de Joe Satriani a Jeff Buckley em alguns segundos. Os gaúchos do Pata experimentam menos, preferindo composições redondinhas, que poderiam ter sido escritas nos idos de 1960. Contratado da Monstro Discos (gravadora que promove o Noise), o trio de Porto Alegre aproveitou para lançar seu segundo CD: "Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha". Já os norte-americanos do Battles exibiram o mesmo rock hipnotizante que a platéia paulistana aprovara dias antes no Clash Club.

Chifrinhos
Relegados ao palco menor, os representantes latinos não fizeram feio. Quem se deu melhor foi o duo chileno Perrosky, que flerta com o blues e o folk. Acompanhado pelos Los Subtitulados (os legendados, em português), o cantor argentino Rubin arrancou menos aplausos, porém mostrou a classe e o talento de um verdadeiro Elvis Costello portenho. O hardcore desenfreado dos capixabas do Mukeka di Rato e o rock garageiro do paulistano Haxixins também funcionaram bem no palco diminuto.
Móveis Coloniais de Acaju e Superguidis ganharam o palcão. Os primeiros saíram de Goiânia consagrados após uma apresentação levada a plenos pulmões pelo público. Prejudicado por um som embolado, o Superguidis não pôde confirmar que é um dos melhores nomes do rock atual. Mas uma turma de fãs chegou a executar polichinelos na platéia de tão empolgada que estava com hits indies como "Malevolosidade".
Já o quarteto MQN, veterano da cena local, encontrou uma audiência perfeita para seu som pesado, que trata do capeta e de mulheres endemoniadas. Vários usavam tiaras com chifrinhos piscantes, vendidas a R$ 10 por um tiozinho evangélico.


O jornalista JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR viajou a convite do festival


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