São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2006

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comportamento

Deixa ele dormir em casa?

Adolescentes conquistam o direito de passar a noite com seus namorados em casa; para convencer os pais, relação de confiança é fundamental

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dormir com o namorado no mesmo quarto pode parecer privilégio de pessoas mais velhas, independentes, que moram sozinhas. Mas não é. Muitos adolescentes já conquistaram esse direito e levam seus namorados e namoradas para dormir na casa dos pais.
No começo, quartos separados. Depois de algum tempo, quando os pais se acostumam com o novo "membro" da família, liberam o casal para dormir no mesmo quarto.
A primeira vez pode ser por acaso. André (nome fictício), 18, por exemplo, pediu para sua mãe deixar sua namorada dormir em casa numa noite em que o casal estava voltando tarde de uma festa. A garota percebeu que tinha esquecido a chave de casa. "Perguntei para minha mãe se ela poderia ficar em casa e ela topou."
Naquela noite, eles dormiram em quartos separados. Hoje, no entanto, dormem juntos. "Quando minha mãe pegou confiança e viu que o namoro era para valer, ela liberou", diz André, que namora há um ano e nove meses.
Confiança no namoro e no namorado também foram fundamentais para Helen, 17, conquistar essa liberdade dentro de casa. Ela mora em São Paulo com o pai, mas o namorado mora em outro Estado. "Ele queria me visitar, mas não tinha onde ficar. Eu comentei com meu pai e ele mesmo sugeriu que meu namorado ficasse em casa. Fiquei um pouco surpresa, mas achei muito legal", conta.
Na véspera da primeira viagem, o pai dela e o dele trocaram e-mails, para acertar os detalhes. "Acho que esse contato entre as famílias foi importante para o meu pai sentir mais segurança", diz Helen, que namora há um ano e quatro meses.

Vergonha
Mariana, 16, cujo namorado também mora em outra cidade, confessa que morreu de vergonha na primeira vez que teve que pedir aos pais para hospedar o garoto em casa. "Acho que eu fiquei até mais incomodada do que eles, mas eles concordaram numa boa", diz.
Já Ana Paula, 45, mãe de Ana Carolina, 16, não encarou tão numa boa quando a filha resolveu dormir com o namorado, Gabriel, em casa. "Fui vencida pelo cansaço. No começo, pedia para eles dormirem em quartos separados, mas, quando acordava, via os dois saindo juntos do mesmo quarto. Tentei resistir, mas chegou uma hora em que não tinha mais o que fazer e eu tive que liberar. Se ela já tem vida sexual ativa, melhor que seja em casa, com segurança, sem correr riscos", diz a mãe.
Na primeira vez que Gabriel, 18, dormiu na casa da Ana Carolina, outras duas amigas dela fizeram companhia para o casal. Hoje, eles dormem juntos uma vez por semana. "Não vejo por que proibir. Não é esse tipo de proibição que vai impedir um adolescente de fazer sexo", diz Ana Carolina.
Apesar de pensar assim, ela tem vergonha de transar em casa sabendo que a mãe está no quarto ao lado. "Eu respeito o espaço da minha mãe, ela não é obrigada a ouvir barulhos no meio da noite", diz a estudante, que só transa com o namorado quando está sozinha em casa.
Antes da primeira relação sexual, Ana Carolina conversou com a mãe e pediu para ir ao ginecologista para se informar sobre métodos contraceptivos.
Já Mariana diz que nem sente vontade de transar quando os pais estão por perto. "Acho estranho, tenho medo de alguém entrar no quarto. Só rola quando eu sei que não tem mais ninguém em casa ou quando estou na casa dele", afirma a estudante, que contou para os pais quando transou com o namorado pela primeira vez.
"A gente tem uma relação franca, mas não somos permissivos demais ", diz Roberto, 44, pai de Mariana.

De porta aberta
Já André, que mora com a mãe e a avó, fica tão sem graça que deixa a porta do quarto aberta quando dorme com a namorada. "É por respeito à minha avó. Eu sei que ela não liga, mas eu fico pensando que eles podem achar que a gente está fazendo alguma besteira, não me sinto à vontade", diz.
Para transar com a namorada, ele pede a casa de um amigo "emprestada" ou espera ficar sozinho.


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