São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2009

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jogos

Diversão ao cubo

>>Conheça a matemática que conseguiu decifrar o enigma do cubo criando um método que ainda é usado pelos cubistas

Arquivo Pessoal
Jessica Fridrich encontra o campeão de cubo mágico de 2003, Dan Knights

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se hoje um cubo mágico original pode ser comprado por poucos dólares pela internet, na Tchecoslováquia do início da década de 1980 ter o brinquedo era privilégio para poucos. E Jessica Fridrich, aos 17, não fazia parte desse grupo. A privação, no entanto, não impediu que se apaixonasse pelo desafio matemático e rascunhasse sua resolução em uma folha de papel antes mesmo de ter o cubo em suas mãos. As horas que dedicou ao quebra-cabeça logo se transformaram em segundos -23.55 cronometrados, que garantiram a ela a primeiro lugar no campeonato nacional de 1982.
De repente, e contra todas as expectativas, alguém havia criado um método eficaz para resolver o enigma do cubo mágico. Baseado em um conjunto de algoritmos, no mínimo 53, passou a ser chamado de método Fridrich -e a ser utilizado no mundo inteiro. Ainda hoje, campeões internacionais dedicam suas vitórias àquela jovem que transformou um punhado de peças coloridas desordenadas em um sistema matemático previsível. Leia entrevista. (DB)
 

FOLHA - O que há de tão especial no cubo mágico?
JESSICA FRIDRICH - Depende. Cada um de nós tem uma relação diferente com o cubo. Alguns têm medo, outros se fascinam.
E os que se fascinam querem resolvê-lo o mais rápido possível, devotam muito tempo a isso porque é uma necessidade.

FOLHA - Você é um dos fascinados?
FRIDRICH - Certamente.

FOLHA - Como você se sentiu, quando concluiu seu método?
FRIDRICH - Não foi algo como acordar e perceber "olhe só, criei um método". Eu não me recordo de nenhum instante em especial. O método foi desenvolvido durante anos. Outras pessoas, inclusive, contribuíram com o seu desenvolvimento. É dinâmico. Não acredito que exista um ponto final, ele será continuamente aperfeiçoado com o tempo.

FOLHA - Como você se sente hoje, sabendo que muitos cubistas utilizam o método que você criou?
FRIDRICH - Sinto orgulho. Não sabia que seria tão popular, havia outros métodos muito bons naquela época. As pessoas levaram o que eu criei para além do que eu considerava possível. Isso é engraçado na ciência -você desenvolve alguma coisa e pensa que sabe tudo a respeito, mas as gerações seguintes provam que você estava enganado.

FOLHA - Para quem está começando a resolver o cubo e a criar seu próprio método, que dica você daria?
FRIDRICH - Certamente diria que hoje tanta coisa já foi feita e otimizada que desenvolver um método próprio tomaria muito tempo e não traria grandes resultados. Recomendaria que estudasse os métodos que já existem, prestando atenção aos novos algoritmos que têm sido criados. O segredo está nos algoritmos que a pessoa escolhe. Alguns serão bons para ela, outros serão estranhos.

FOLHA - Por que o cubo está se tornando novamente popular?
FRIDRICH - Há uma série de razões. Em primeiro lugar, é uma questão de geração. A geração atual foi capturada pelo cubo, assim como a minha tinha sido. Em seguida, há a internet, que conecta as pessoas e permite que compartilhem informações e inovem. Antes, os cubistas conversavam na escola sobre o cubo, mas nunca com alguém de outro continente. É incrível o quão rápido as coisas podem acontecer hoje, como podem ser otimizadas.

FOLHA - Quantos e-mails você recebe com perguntas sobre o cubo?
FRIDRICH - Eu diria que recebo de cinco a dez por semana e tento responder a todos. Eles perguntam onde comprar bons cubos, como fazer o mecanismo deslizar rapidamente, como resolver um algoritmo...

FOLHA - Você vê no cubo alguma espécie de metáfora para a vida?
FRIDRICH - Não. Quando me fazem essa pergunta, costumo dizer que é apenas um brinquedo.


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