São Paulo, segunda-feira, 05 de março de 2007

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livros

Um caso para Edgar Allan Poe

Escritor americano coloca o autor de "O Gato Preto" para resolver um misterioso homicídio de um cadete no século 19

LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL

O escritor americano Edgar Allan Poe (1809-1849) criou o gênero romance policial no conto "Os Assassinatos da Rua Morgue", de 1841, sobre um bárbaro homicídio de duas mulheres em uma casa em Paris. Sem pistas, a polícia francesa se vê obrigada a convocar o detetive C. Auguste Dupin, personagem que ainda protagonizaria mais outros dois trabalhos de Poe.
Mais de um século e meio depois, Dupin ressurge sob o nome de Gus Landor, no livro "O Pálido Olho Azul", do escritor americano Louis Bayard. E, agora, ele é convocado pelo Exército dos EUA para desvendar um caso na tradicional academia de West Point: o enforcamento de um cadete, Leroy Fry, que teve ainda seu coração retirado. O homicídio se passa no curto período em que Poe esteve nessa escola militar.
Landor, ao perceber que encontra mais perguntas do que respostas, decide que o único jeito de solucionar o enigma é usar um dos cadetes como espião. E o intrometido e romântico Poe se encaixa como uma luva aos propósitos do detetive.
Os capítulos de "O Pálido Olho Azul" se dividem entre as narrativas de Landor e os relatórios de Poe. Então, Bayard teve de imitar o estilo de um dos mais importantes escritores americanos.
Como? "Li o máximo de obras que pude e também escutei fitas com textos gravados por atores antigos, como Vincent Price. Em alguns casos, eu usei uma frase ou duas de Poe. O resultado final foram 1% de Poe e 99% eu canalizando Poe", contou ao Folhateen.
O romance, segundo Bayard, acabou sendo uma maneira de pagar Poe pelos serviços prestados à literatura. "Qualquer um que escreve livros de mistério deve gratidão a Poe. Há modo melhor de pagar a dívida do que colocá-lo para resolver um mistério como os que criou?"
Outra preocupação do autor ao escrever os relatórios de Poe foi criar uma voz que contrastasse com a prosa dura e lacônica de Landor. "Ele traz uma sensibilidade muito diferente, muito detalhista e romântica, bem século 19, e, é claro, quando há dois narradores, eles deixam um vestígio de dúvida no discurso do outro. Não dá para saber quem diz a verdade."
O livro traz dezenas de referências às obras de Poe. "A mais óbvia é "O Coração Revelador", que é a fonte do título. O narrador quer matar um velho simplesmente por causa de seus pálidos olhos azuis", diz.
Outros personagens também saíram do universo de Poe. Lea Marquis, a deprimida garota por quem o jovem Poe se apaixona, segundo Bayard, tem a ver com a sonoridade de outras mulheres de poemas do escritor, como Lenore, Annabel Lee, Eleonora... "Ele parece ter gostado desse padrão sonoro."
O nome Gus (apelido de Auguste) Landor foi um jeito de homenagear o grande detetive de Poe, Auguste Dupin. "O sobrenome vem de um conto desconhecido, "Landor's Cottage"."


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