São Paulo, segunda-feira, 05 de março de 2007

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comportamento

Festa no apê

Do colo da mamãe às repúblicas universitárias, jovens aprendem a dividir espaço com pessoas desconhecidas

Fotos Leonardo Wen/Folha Imagem
Dia útil na República 171: quem perder no "Winning Eleven" arruma a bagunça da casa


THIAGO BRONZATTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pacote de bolacha em cima do sofá, casca de banana embaixo da cama, toalha molhada estendida no colchão, ralo entupido e uma montanha de louça suja amontoada na cozinha. "Pra que lavar pratos? Aqui, gostamos de criar fungos", resume o universitário Gabriel Alberto Trevizan, 23, morador do apartamento 171 de um edifício no Butantã, São Paulo.
Com ele, outros quatro estudantes da USP -Adriano Antunes, 24, Alexandre Caetano, 25, Lucas Amorim, 18, e o "bicho-agregado" Flávio Macarini, 18- dividem a República 171.
"Quase todas as sextas-feiras rola uma "vibe". Convidamos amigos e agregados. Às vezes, chega a ter 20 pela casa. Colchões pelo chão, ficamos deitados comendo, conversando, bebendo, curtindo um som, jogando truco e videogame", conta Trevizan, ou Betinho.
Segundo o estudante de geografia, "a polícia já tesourou várias baladinhas" por conta das reclamações dos vizinhos. Não é por menos. "As festas costumam ir até as 5h da manhã", reclama um dos vizinhos, que não quis se identificar.
Morar em república significa conquistar a independência dos pais. Para uns, isso implica não ter horário para chegar em casa, comer Miojo de segunda a sexta, ligar o som no último volume, convidar os amigos para uma festinha no apê e arrumar a cama quando der na telha.
Para outros, essa experiência também representa um desafio. Dividir o mesmo espaço com pessoas desconhecidas, ceder o controle da televisão, pagar as contas em dia e não vacilar com a vizinhança requer flexibilidade e jogo de cintura.
Esse é o caso de Lucas, do 171, que longe dos cuidados da mãe teve que aprender a cozinhar na marra. "Quando cheguei, não sabia nada. Era chato pedir pra alguém fritar um bife só porque eu estava com fome."
Adivinhe: após um ano convivendo com outras pessoas, qual é a especialidade do estudante de ciências sociais? "Ah, eu evoluí. Já frito nuggets."

Ajuda feminina
Para fugir do cardápio à base de congelados e comidas instantâneas, os meninos resolveram interagir com uma república feminina, três andares abaixo. As estudantes de letras da USP Mariane Pimenta da Silva, 20, Gisele Menegatti, 21, e Laysa Capoville, 20, dividem o apartamento 141.
"Somos solicitadas pelos rapazes nos momentos de desespero total para ajudar com a faxina ou cozinhar algo diferente." Mas o que vocês ganham em troca, meninas? "Somos boazinhas, só pedimos pra eles trocarem lâmpadas e consertarem o que quebra", diz Laysa.
Mas quem pensa que só de festas vive uma república está muito enganado. Pelo menos é o que garante Vitorino Antonio Dias, 39, o zelador do prédio.
Questionado sobre o comportamento dos universitários, ele logo endossa: "Esse pessoal é louco. Os meninos, principalmente. Começam a festa às 22h. Assim não dá, né?!".
Há dois anos no cargo, Dias conta que, às vezes, é preciso chegar junto e chamar a atenção dos pais. "Esses dias falei com a mãe do Gabriel. Contei sobre as festas e das reclamações dos vizinhos... Gosto deles, sabe? Mas, pra falar a verdade, a República 171 é o terror de qualquer zelador", desabafa.
Do outro lado da cidade, no Jardim Paulista, cinco estudantes naturais de São José do Rio Preto fundaram a República das Mulherzinhas.
Diferente do apê dos meninos, Liana Pandim, 21, Heloísa Oliveira, 20, Juliana Rodrigues, 19, e as gêmeas Renata e Natália Eid, 21, não dão festas, evitam deixar a louça empilhada na pia, nunca receberam reclamações dos vizinhos e, para manter a ordem, contrataram a empregada Vanete da Silva, 19, que auxilia nas tarefas domésticas.
"É claro que, às vezes, precisamos ir pra cozinha", conta Liana, estudante de administração. "Aliás, meu Miojo é fenomenal", alega.
A rotina dessa república é bem diferente das demais, como explica a estudante de jornalismo Heloísa. "Anotamos todas as despesas. A cada 15 dias, vamos ao supermercado. Deixamos sempre tudo organizado." E para que tantas regras? "Se alguma coisa está fora do lugar, a Natália, "sargentão", fica irritada", conta Heloísa. Tá explicado!


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