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comportamento
Festa no apê
Do colo da mamãe às repúblicas universitárias, jovens aprendem a dividir espaço com pessoas desconhecidas
Fotos Leonardo Wen/Folha Imagem
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Dia útil na República 171: quem perder no "Winning Eleven" arruma a bagunça da casa |
THIAGO BRONZATTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Pacote de bolacha em
cima do sofá, casca
de banana embaixo
da cama, toalha molhada estendida no
colchão, ralo entupido e uma
montanha de louça suja amontoada na cozinha. "Pra que lavar pratos? Aqui, gostamos de
criar fungos", resume o universitário Gabriel Alberto Trevizan, 23, morador do apartamento 171 de um edifício no
Butantã, São Paulo.
Com ele, outros quatro estudantes da USP -Adriano Antunes, 24, Alexandre Caetano, 25,
Lucas Amorim, 18, e o "bicho-agregado" Flávio Macarini,
18- dividem a República 171.
"Quase todas as sextas-feiras
rola uma "vibe". Convidamos
amigos e agregados. Às vezes,
chega a ter 20 pela casa. Colchões pelo chão, ficamos deitados comendo, conversando, bebendo, curtindo um som, jogando truco e videogame", conta Trevizan, ou Betinho.
Segundo o estudante de geografia, "a polícia já tesourou várias baladinhas" por conta das
reclamações dos vizinhos. Não
é por menos. "As festas costumam ir até as 5h da manhã", reclama um dos vizinhos, que não
quis se identificar.
Morar em república significa
conquistar a independência
dos pais. Para uns, isso implica
não ter horário para chegar em
casa, comer Miojo de segunda a
sexta, ligar o som no último volume, convidar os amigos para
uma festinha no apê e arrumar
a cama quando der na telha.
Para outros, essa experiência
também representa um desafio. Dividir o mesmo espaço
com pessoas desconhecidas,
ceder o controle da televisão,
pagar as contas em dia e não vacilar com a vizinhança requer
flexibilidade e jogo de cintura.
Esse é o caso de Lucas, do 171,
que longe dos cuidados da mãe
teve que aprender a cozinhar
na marra. "Quando cheguei,
não sabia nada. Era chato pedir
pra alguém fritar um bife só
porque eu estava com fome."
Adivinhe: após um ano convivendo com outras pessoas,
qual é a especialidade do estudante de ciências sociais? "Ah,
eu evoluí. Já frito nuggets."
Ajuda feminina
Para fugir do cardápio à base
de congelados e comidas instantâneas, os meninos resolveram interagir com uma república feminina, três andares
abaixo. As estudantes de letras
da USP Mariane Pimenta da
Silva, 20, Gisele Menegatti, 21,
e Laysa Capoville, 20, dividem
o apartamento 141.
"Somos solicitadas pelos rapazes nos momentos de desespero total para ajudar com a faxina ou cozinhar algo diferente." Mas o que vocês ganham
em troca, meninas? "Somos
boazinhas, só pedimos pra eles
trocarem lâmpadas e consertarem o que quebra", diz Laysa.
Mas quem pensa que só de
festas vive uma república está
muito enganado. Pelo menos é
o que garante Vitorino Antonio
Dias, 39, o zelador do prédio.
Questionado sobre o comportamento dos universitários,
ele logo endossa: "Esse pessoal
é louco. Os meninos, principalmente. Começam a festa às
22h. Assim não dá, né?!".
Há dois anos no cargo, Dias
conta que, às vezes, é preciso
chegar junto e chamar a atenção dos pais. "Esses dias falei
com a mãe do Gabriel. Contei
sobre as festas e das reclamações dos vizinhos... Gosto deles,
sabe? Mas, pra falar a verdade,
a República 171 é o terror de
qualquer zelador", desabafa.
Do outro lado da cidade, no
Jardim Paulista, cinco estudantes naturais de São José do
Rio Preto fundaram a República das Mulherzinhas.
Diferente do apê dos meninos, Liana Pandim, 21, Heloísa
Oliveira, 20, Juliana Rodrigues,
19, e as gêmeas Renata e Natália
Eid, 21, não dão festas, evitam
deixar a louça empilhada na
pia, nunca receberam reclamações dos vizinhos e, para manter a ordem, contrataram a empregada Vanete da Silva, 19, que
auxilia nas tarefas domésticas.
"É claro que, às vezes, precisamos ir pra cozinha", conta
Liana, estudante de administração. "Aliás, meu Miojo é fenomenal", alega.
A rotina dessa república é
bem diferente das demais, como explica a estudante de jornalismo Heloísa. "Anotamos
todas as despesas. A cada 15
dias, vamos ao supermercado.
Deixamos sempre tudo organizado." E para que tantas regras? "Se alguma coisa está fora
do lugar, a Natália, "sargentão",
fica irritada", conta Heloísa. Tá
explicado!
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