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esportes
Caiaques furados, torsões, dermatites...
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para encher a galera de alegria, a Ecomotion começou
com um trecho de 47 km de
caiaque. Foram aproximadamente dez horas remando no
meio de navios pela Baía da
Guanabara. Achou tranqüilo?
Pois nem só de força e suor é
feita uma corrida de aventura.
Outro elemento importante e
temido é o imprevisto. Após
quatro horas no mar no meio
da noite, dois times brasileiros
tiveram seus caiaques furados e
tiveram que ser resgatados pela
equipe de segurança do evento.
E não foram só eles que tiveram
problemas.
Por volta das 6h30, todos os
caiaques ficaram atolados no
Canal do Mangue, região oeste
da Baía. Enquanto aguardavam
a maré subir, algumas equipes
tentavam vencer a natureza e
empurrar seus caiaques para
assegurar alguma vantagem.
Mais azarada ainda foi a
equipe canadense Lost in Transition (perdidos na transição),
cujo nome é uma brincadeira
com o filme dirigido por Sofia
Coppola, "Lost in Translation"
(perdidos na tradução).
Além de empacarem no manguezal, os Perdidos ainda perderam no mar um dos cinco
mapas que compõe a prova e
que não podem ser repostos.
Outro ponto importante é a
chamada "navegação". Nada a
ver com o mar: um dos integrantes da equipe fica responsável pela orientação do time,
com a ajuda dos mapas fornecidos, bússola e altímetro.
Noite na caverna
Cada time também recebe
um rádio lacrado para uso em
caso de uma emergência. Se optar por ativá-lo, a equipe pode
ser desclassificada da competição, caso o motivo não seja considerado bom o suficiente.
E foi justamente a navegação
o fator determinante no puxado trecho de trekking pela Serra dos Órgãos, considerado o
mais difícil e perigoso.
Andando em picos de até
2.263m de altitude e com visibilidade zero por causa da forte
neblina, muitas equipes se perderam e amargaram uma longa
noite na mata. Pelo menos, descobriram uma caverna.
"Estava muito difícil achar as
trilhas e a sensação térmica era
abaixo de zero. Nos juntamos
então à SOS Mata Atlântica e à
Landscape e decidimos fazer
uma festa na caverna", conta
Eleonora Audrá, da equipe
Athena.
A fatídica noite na selva pôs
Jonas Amaro, enfermeiro, e
Edson Dutra, bombeiro da
equipe médica, para trabalhar.
Preocupados com quadros de
hipotermia, eles atenderam
atletas com machucados nos
pés, torções e dermatites por
causa do contato com algumas
plantas. "Felizmente nunca
houve casos mais graves", diz o
enfermeiro.
Luta com ratos
Além de plantas daninhas, a
vida selvagem também traz outros incômodos, como constatou Márcio Campos, da equipe
ECP Selva. Ele conta que, durante o trekking, seu companheiro Chiquito teve que travar
uma luta com um rato que entrou num saco de salgadinho e
se recusava a sair.
De bicicleta, foram até a lindíssima Cachoeira do Frade,
em Teresópolis. Lá, as equipes
aproveitavam para dormir. Zé
Pupo teve suas primeiras horas
de sono desde o início da prova,
há três dias.
Equipes preparam o jantar:
açaí, purê de batatas com azeitonas e até um bolo floresta negra. Outros detonavam quentinhas com arroz, macarrão, farofa e frango. Os menos preocupados com a dieta tentavam
trocar jujuba por refrigerante,
mas nada feito. Cheios de açúcar e calorias, os refrigerantes
são muito valorizados pelos
participantes.
Chuva sem tréguas
Papo vai, pão vem e... epa!
Mais um imprevisto. O esperado trecho de técnicas verticais
foi cancelado por causa da chuva. Por razões de segurança, o
rapel e a tirolesa foram substituídos por mais um trecho de
trekking.
Nos 19 quilômetros de cavalgada, as equipes tiveram que
abrir e fechar porteiras e cuidar
para não cair do cavalo. Zé Pupo achou a prova a mais divertida. "O arreio do cavalo estava
solto e, para não cair, tive que
dar um abraço no bicho", contou ele, que percorreu os quase
200 quilômetros finais com o
agradável perfume do eqüino.
A chuva continuava sem dar
trégua e era a maior reclamação, até mesmo dos estrangeiros que temiam o forte calor
brasileiro. Com os pés e mãos já
cheios de bolhas, as equipes tiveram ainda pela frente mais
de 80 quilômetros de caminhadas e mountain bike até a revelação de um novo segredo: a
prova especial.
(JULIANA CALDERARI)
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