São Paulo, segunda-feira, 05 de novembro de 2007

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esportes

Caiaques furados, torsões, dermatites...

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para encher a galera de alegria, a Ecomotion começou com um trecho de 47 km de caiaque. Foram aproximadamente dez horas remando no meio de navios pela Baía da Guanabara. Achou tranqüilo?
Pois nem só de força e suor é feita uma corrida de aventura. Outro elemento importante e temido é o imprevisto. Após quatro horas no mar no meio da noite, dois times brasileiros tiveram seus caiaques furados e tiveram que ser resgatados pela equipe de segurança do evento. E não foram só eles que tiveram problemas.
Por volta das 6h30, todos os caiaques ficaram atolados no Canal do Mangue, região oeste da Baía. Enquanto aguardavam a maré subir, algumas equipes tentavam vencer a natureza e empurrar seus caiaques para assegurar alguma vantagem.
Mais azarada ainda foi a equipe canadense Lost in Transition (perdidos na transição), cujo nome é uma brincadeira com o filme dirigido por Sofia Coppola, "Lost in Translation" (perdidos na tradução).
Além de empacarem no manguezal, os Perdidos ainda perderam no mar um dos cinco mapas que compõe a prova e que não podem ser repostos.
Outro ponto importante é a chamada "navegação". Nada a ver com o mar: um dos integrantes da equipe fica responsável pela orientação do time, com a ajuda dos mapas fornecidos, bússola e altímetro.

Noite na caverna
Cada time também recebe um rádio lacrado para uso em caso de uma emergência. Se optar por ativá-lo, a equipe pode ser desclassificada da competição, caso o motivo não seja considerado bom o suficiente.
E foi justamente a navegação o fator determinante no puxado trecho de trekking pela Serra dos Órgãos, considerado o mais difícil e perigoso.
Andando em picos de até 2.263m de altitude e com visibilidade zero por causa da forte neblina, muitas equipes se perderam e amargaram uma longa noite na mata. Pelo menos, descobriram uma caverna.
"Estava muito difícil achar as trilhas e a sensação térmica era abaixo de zero. Nos juntamos então à SOS Mata Atlântica e à Landscape e decidimos fazer uma festa na caverna", conta Eleonora Audrá, da equipe Athena.
A fatídica noite na selva pôs Jonas Amaro, enfermeiro, e Edson Dutra, bombeiro da equipe médica, para trabalhar. Preocupados com quadros de hipotermia, eles atenderam atletas com machucados nos pés, torções e dermatites por causa do contato com algumas plantas. "Felizmente nunca houve casos mais graves", diz o enfermeiro.

Luta com ratos
Além de plantas daninhas, a vida selvagem também traz outros incômodos, como constatou Márcio Campos, da equipe ECP Selva. Ele conta que, durante o trekking, seu companheiro Chiquito teve que travar uma luta com um rato que entrou num saco de salgadinho e se recusava a sair.
De bicicleta, foram até a lindíssima Cachoeira do Frade, em Teresópolis. Lá, as equipes aproveitavam para dormir. Zé Pupo teve suas primeiras horas de sono desde o início da prova, há três dias.
Equipes preparam o jantar: açaí, purê de batatas com azeitonas e até um bolo floresta negra. Outros detonavam quentinhas com arroz, macarrão, farofa e frango. Os menos preocupados com a dieta tentavam trocar jujuba por refrigerante, mas nada feito. Cheios de açúcar e calorias, os refrigerantes são muito valorizados pelos participantes.

Chuva sem tréguas
Papo vai, pão vem e... epa! Mais um imprevisto. O esperado trecho de técnicas verticais foi cancelado por causa da chuva. Por razões de segurança, o rapel e a tirolesa foram substituídos por mais um trecho de trekking.
Nos 19 quilômetros de cavalgada, as equipes tiveram que abrir e fechar porteiras e cuidar para não cair do cavalo. Zé Pupo achou a prova a mais divertida. "O arreio do cavalo estava solto e, para não cair, tive que dar um abraço no bicho", contou ele, que percorreu os quase 200 quilômetros finais com o agradável perfume do eqüino.
A chuva continuava sem dar trégua e era a maior reclamação, até mesmo dos estrangeiros que temiam o forte calor brasileiro. Com os pés e mãos já cheios de bolhas, as equipes tiveram ainda pela frente mais de 80 quilômetros de caminhadas e mountain bike até a revelação de um novo segredo: a prova especial.
(JULIANA CALDERARI)


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