São Paulo, segunda-feira, 06 de junho de 2005

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MÚSICA

Conheça o grime, novo estilo musical, derivado do garage, que tem conquistado a juventude londrina com letras ferozes e bases ordinárias

Faça você mesmo

IGOR RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Incomodados com a progressiva sofisticação da música jovem, adolescentes suburbanos e cheios de fúria começam a produzir e a tocar canções cruas e diretas, na base do "faça você mesmo". Essas linhas poderiam descrever a Londres dos anos 70 e o início do punk rock. Mas não: apesar de a cidade ser a mesma, o momento é o atual e o som se chama grime.
A comparação vem de gente gabaritada, como o jornalista Simon Reynolds, autor de diversos artigos e livros sobre cultura urbana, como "Rip It Up and Start Again", sobre os anos do pós-punk, que acaba de lançar nos EUA. "Como o punk naquela época, o grime é um movimento rude e sem meias-palavras", atesta ele.
O grime evoluiu de um estilo conhecido como UK garage -uma espécie de drum'n'bass com batidas mais quebradas e MCs cantando frases de efeito sobre as bases. Por volta de 2000, o garage começou a ser constantemente associado a problemas como violência e drogas, o que foi afastando o público, principalmente adolescentes.
Em busca de novos caminhos, jovens do leste de Londres começaram a fazer suas próprias produções, muitas vezes de forma rudimentar. Os MCs passaram a ser fundamentais e o duelo entre eles, improvisando rimas no chamado "freestyle", virou mania em centros culturais, estúdios caseiros ou qualquer outro lugar onde se pudesse ligar picapes, caixas de som e microfones. O ápice veio com um jovem de 17 anos chamado Dizzee Rascal, que produziu, em 2003, no computador do colégio, um álbum inteiro de grime, "Boy in da Corner". Com o disco, o adolescente ganhou o Mercury Prize de melhor álbum daquele ano.
Desde 2004, a grande mídia inglesa repercute a cena, gravadoras importantes contratam artistas de grime e figuras carimbadas do pop britânico são parceiras de expoentes do gênero, como o rapper The Streets e o MC Kano. "O gênero está crescendo e criando novas releituras, algumas voltadas para o dub e dancehall, outras mais ligadas ao electro", diz o DJ inglês Kode 9, que esteve no Brasil recentemente participando do festival Hype, do Sesc Pompéia.

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