São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

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COMPORTAMENTO

Festas de arromba

Sexo, drogas, rockíníroll: sem ninguÈm para ditar as regras, jovens fazem farra na ausÍncia dos pais

( POR DIOGO BERCITO E CHICO FELITTI )

CRESCIMENTO DESCONTROLADO
Quando Mateus*, 17, soube da viagem a trabalho de seus pais, comentou com alguns colegas que queria fazer um encontro entre amigos em sua casa. "Mas aí a notícia se espalhou pela escola", conta o garoto. E a festinha virou festão. "Comecei a ficar com medo, porque não paravam de chegar pessoas!"
Pagando R$ 5 para entrar na casa, cerca de 40 convidados participaram do evento. Misturaram vodca com suco, fizeram caipirinha, pediram pizza e ouviram bastante música eletrônica e funk. Segundo o rapaz, o boato é de que uma garota transou naquela noite -"mas eu nem conhecia ela", afirma. Na época, tinham 16 anos.
Seus pais até hoje não sabem da algazarra, que durou até a madrugada. Como teve dois dias para arrumar a casa, o garoto "soube esconder os fatos e as provas".
* Todos os nomes são fictícios

A PROVA DO CRIME
Fazer farra em casa na ausência dos pais hoje é rotina para o gaúcho Roberto, 22. Agora que é maior de idade, só precisa avisá-los. Mas já fez também festinha às escondidas, quando tinha 16 anos.
Em uma delas conta que tomou o maior cuidado para ficar "na camufla", mas foi delatado pelo quadro de natureza morta pintado por sua mãe -derrubado por algum de seus dez convidados. "Meus pais, que estavam no interior, ficaram bastante chateados, porque tinham confiado em mim", diz.
No cardápio da festa, massa carbonara cozinhada por ele com os amigos. E caipirinha liberada. "Rolou pegação, era bem na época em que as coisas começaram a esquentar", conta. "Mas minha primeira vez não foi nessa festinha!", avisa.
Jogaram videogame, falaram sobre música e conversaram um bocado. Mas até que horas foi a bagunça? "Não sei", confessa o rapaz. "Só sei que acordei no sofá."

CALOR HUMANO
A bagunça de Felipe, 21, começou com uma brincadeira. "O que você quer de aniversário de 18 anos, uma festa no apartamento?", perguntou-lhe sua mãe. E ele gostou da ideia.
De comum acordo, os pais foram dormir fora, a irmã foi para a balada e o garoto amontoou 30 amigos em um apartamento de 60 metros quadrados. "Você não tem ideia de como estava apertado!", diz o estudante.
O espaço pequeno tinha a vantagem de deixar tudo ao alcance da visão do rapaz, que conta que nada foi quebrado na festança. "Mas tomaram algumas bebidas dos meus pais que estavam no armário."

BAIXANDO O NÍVEL
Sonolenta, Vera, 21, nem queria sair de casa na noite em que fez sua festa mais de arromba. Na época, tinha 18 anos e tinha ido para a balada na noite anterior, motivo de seu cansaço.
O incentivo para a bagunça veio, curiosamente, de uma algazarra na casa vizinha, às 21h.
"Começaram um culto, colocaram cadeiras na calçada e uma caixa amplificadora, um monte de gente gritando, cantando e orando ao mesmo tempo...".
Como a mesma vizinha era a primeira a reclamar de suas festas, decidiu se vingar. "E sempre fui rápida no gatilho!" Ligou para um amigo e pediu que ele trouxesse o carro de caixas de som potentes. Colocou o automóvel na garagem, ligou a música no último volume e convidou a galera para a festa -cerca de 15 convidados.
Segundo a garota, o "nível econômico" da festa foi caindo ao longo da noite. Começaram com uísque, passaram para a cerveja e terminaram com rum de baixa qualidade. Às 2h, a polícia bateu no portão e pediu que abaixassem o som.
Abaixaram e logo aumentaram de novo. Enquanto isso, seus amigos mais animados começavam a nadar na caixa d'água.
Foi só às 4h, na segunda visita da polícia e já com a sensação de ter se vingado, que a garota interrompeu a farra. "Foi hora de parar", confessa.

ESFUMAÇADA
A festa de Joana, 21, já tinha fugido ao controle quando seus cinco convidados se transformaram em 25.
"Tinha copo em cima do rack novo, lata de cerveja em cima do som, um colchão jogado na sala...", lembra-se. Na época, tinha 20 anos.
Além das bebidas alcoólicas, a garotada aproveitou o ensejo para fumar maconha e cheirar cocaína. Em um dos banheiros Joana conta que seus amigos fizeram "sauna" -reuniram-se em um espaço pequeno para fumar maconha juntos.
Às três horas da madrugada a garota se irritou. "Desceu o espírito de mãe em mim e mandei metade da festa embora!", diz. Um rapaz que não conhecia a agarrou, começando uma briga.
Depois de chorar, tomar banho e colocar o pijama, Joana dormiu. Quando acordou, ainda encontrou alguns convidados dormindo pelos cantos, mas a bagunça tinha sido organizada por uma amiga.
Apesar de não fazer mais festas grandes, Joana não abre mão de reunir os amigos na ausência dos pais. Tem até um truque: faz bagunça nos primeiros dias de viagem dos genitores, para ter tempo de arrumar tudo. "E digo a eles que foi uma festa cristã", brinca.


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