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02 Neurônio
Jô Hallack, Nina Lemos, JRaq Afonso - 02neuronio@uol.com.br
Barbie e o mal-estar na civilização
QUANDO A gente era pequena e as crianças ainda brincavam com bonecos, nós
tínhamos a Suzi. Era uma boneca tosca,
uma espécie de Barbie piorada. Quando a Barbie chegou ao mercado brasileiro, já não éramos tão crianças assim. Mas pedimos uma para
nossas mães, é claro! E fazíamos coisas incríveis com ela,
como pintar seu cabelo com
canetinha vermelha e raspar
sua testa com uma navalha.
Depois, inventávamos que
ela tinha sofrido um acidente de moto e que tinha ficado
desfigurada.
Se fôssemos crianças agora, a gente teria mais opções
para o Dia das Crianças. Afinal, nos anos 80 ainda não
existiam brinquedos trash.
Hoje, por exemplo, você pode pedir para o seu pai encomendar uma linha de bonecos bizarros na internet, os
Trash TalkinDolls. São bonecos que falam, mas falam coisas bizarras e engraçadas. E bem grossas.
Umas das que faz mais sucesso é uma versão Exu da Barbie, a
Turleen. Turleen está grávida, mas mesmo assim tem um cigarro na boca. E, quando você aperta a barriga dela, os dizeres
são o seguinte: "Me dá uma dose dupla. Tenho que beber por
dois". Sensacional! Nem nas nossas piores brincadeiras poderíamos pensar uma coisa dessas.
O comparsa de Turleen é Jer Wayne Junior, um aborígene
banguela que tem um mullet e bebe cerveja direto da lata. Sua
frase: "Depois de quinze cervejas, você continua feia". Maravilhoso. Ken nunca falaria uma grosseria dessas, mesmo que pegasse a Barbie na cama com outro.
Todos esses bonecos grosseiros são destinados a adultos, mas
ficamos tentadas a comprar e presentear as crianças conhecidas no próximo dia 12. Será que elas seriam adultos piores se
brincassem com essas coisas trash? Teriam algum tipo de
transtorno de personalidade? Daí vemos criancinhas de 6 anos
com página no Orkut, conversando horas no MSN... E pensamos que uma Turleen não cairia tão mal assim.
Afinal, a vida é dura mesmo. Tá, não é legal ser uma adolescente que fuma. Inclusive é bem errado. Agora, quem disse que
a Barbie dá bom exemplo só pode ser louco. Afinal, a menina é
uma anoréxica doida. Anoréxica ou bulímica. E o Ken é um
mauricinho neoliberal que deve apostar na bolsa de valores!
Bem que poderiam criar um Ken punk ou um Ken artista. E
uma Barbie normal. Ou seja, com cabelo meio ruim, espinha e
barriga. Só assim o mundo seria um local menos perverso. Só
assim...
Momento de histeria
Nós não somos a Barbie e nem procuramos um Ken!
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