|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Esporte e música são as diversões da galera
DA REPORTAGEM LOCAL
O motoboy Ricardo Fernandes, 21, detesta quando falam mal do Jardim
Ângela, onde vive desde que nasceu.
"Quem mora aqui vê mesmo um monte
de tretas, mortes, neguinho se drogando.
Mas isso não é coisa só do Ângela, rola
em qualquer lado da periferia", diz.
Para não se meter em confusão, ele tem
uma receita simples: "É só não se meter
com má companhia que não tem erro".
Quando não está trabalhando, Ricardo
se encontra com os amigos para empinar
pipa ou jogar basquete na quadra que fica no Jardim Planalto.
"Aqui, se não fosse o esporte e a música, a gente não teria nada para fazer", diz
Milton Patrício da Paixão, 20. Aspirante
a pagodeiro, Milton frequenta o curso de
DJs da paróquia Santos Mártires. "Ainda
quero ser famoso e poder ganhar a vida
tocando pagode", sonha o rapaz, que toca violão no grupo que formou junto
com alguns colegas, o Fria Lição.
Como a maioria dos amigos, Milton está desempregado. "Já trabalhei como office-boy. Mas agora achar emprego está
quase impossível", diz. O último dinheiro que conseguiu foi um cachê de R$ 150
por uma apresentação de seu grupo de
pagode numa quermesse no Ângela.
"Mas tivemos de dividir a grana entre os
sete integrantes." Quando não está ensaiando com o grupo, Milton passa o
tempo jogando futebol.
Cristina Barbosa, 20, colega de Milton
no curso de DJs, bolou um método para
poder sair de casa à noite sem ser incomodada por ladrões nem traficantes:
"Saio de casa com minhas amigas às 22h,
e só voltamos depois que o dia amanhece, lá pelas seis da manhã". Mas e se der
sono antes disso? "O jeito é dormir na casa de alguém. Voltar para casa no meio
da madrugada, nem pensar", diz.
A garota fica indignada com a audácia
de alguns traficantes da região. "Tem
uma viela perto da minha casa que, se
você quiser atravessar, tem de dizer uma
senha para quem estiver tomando conta.
É o fim da picada."
Os pais do estudante Almir de Oliveira,
18, estão tão assustados com a violência
do bairro que mal deixam o garoto sair
de casa à noite. "Só posso ir até a igreja,
onde faço aula de catequese, e tenho de
voltar direto para a casa", conta. A nóia
dos pais se justifica. "Um cara deu um tiro na cabeça do meu cachorro no quintal
de casa. Só fez isso porque estava doidão.
No dia seguinte, ele veio pedir desculpas
a minha mãe, e ela teve de aceitar para
não ter problemas depois."
(CA)
Texto Anterior: Igreja combate violência no bairro Próximo Texto: Jd. Ângela não quer ser campeão da violência Índice
|