São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2005

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CINEMA

Em "O Jardineiro Fiel", Fernando Meirelles conduz suspense em solo africano, com direção arrojada, moderna e funcional

A beleza e pobreza

JOÃO PAPA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pois é. Quando um cara é bom, é impossível que ele não suba na vida. Aconteceu com Walter Salles e Fernando Meirelles (se não os mais talentosos, ao menos os mais conhecidos diretores brasileiros), que foram para Hollywood, quase simultaneamente.
Na próxima sexta-feira, dia 14, estréia "O Jardineiro Fiel" ("The Constant Gardener"), novo filme de Meirelles.
A obra narra a saga de Justin Quayle, um diplomata britânico que trabalha na África. Lá, sua mulher, uma ativista social, é assassinada, e tudo indica que por gente que não queria que ela descobrisse algo que acabou descobrindo. Justin parte então em busca de respostas, num suspense fantástico.
O legal é o que suspense funciona só porque o diretor é bom, pois o roteiro (péssimo) nem tenta esconder os motivos da morte, quem a matou ou o porquê.
O espectador já sabe essas respostas e acaba só tendo que descobrir os detalhes, o que é uma pena. Mas felizmente a direção de Meirelles é maravilhosa (e podem apostar dinheiro, que ela tem grandes chances de levar Oscar).
O diretor provou seu talento mais uma vez com uma direção arrojada, moderna e absolutamente funcional. Reparem como, em alguns momentos, a tensão é construída sem a utilização de nenhuma trilha sonora ou cara assustada.

Atuações fantásticas
Contando com Ralph Fiennes (que também interpreta o vilão megalomaníaco Voldemort, no próximo filme da saga Harry Potter) e Rachel Weisz para os papéis principais, o longa-metragem expôs um trabalho de atuação fantástico (assim como o visto em "Cidade de Deus", que tinha propósitos diferentes, mas funciona na tela tão bem quanto).
A África, nesse caso, é bem diferente da vista em "Hotel Ruanda". Enquanto em "Hotel..." praticamente todas as cenas se passavam dentro do chiquérrimo hotel Milen Collines, "O Jardineiro Fiel" mostra a África da qual ouvimos falar no noticiário: pobre, muito pobre, e linda, muito linda.
O continente é exposto com essa ambigüidade que o torna ainda mais interessante. Um lugar lindo, porém de uma pobreza imensurável (podemos dizer o mesmo do Brasil, não?).

Importância
Esse filme tem uma importância maior do que aparenta. O fato de o cinema nacional ter chegado a Hollywood nesse momento é no mínimo divertido.
Meirelles e Salles estão entre os melhores e já foram reconhecidos por isso, e o Brasil está formando mais diretores como eles (existem vários outros no mesmo patamar, totalmente qualificados).
Agora que os EUA já reconheceram que tem gente boa fazendo cinema no Brasil, só falta o brasileiro reconhecer, não? Afinal, quem nunca ouviu alguém dizer que, no Brasil, só se faz filme ruim?

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