São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2005

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GRANA

Conheça alguns jovens que topam tudo para arrumar qualquer tipo de emprego, mesmo que não tenha nada a ver com o que querem da vida

Loucos por trabalho

Leonardo Wen/Folha Imagem
Carlos Eduardo, 16, desmonta computador na loja do pai, na Vila Olímpia, em São Paulo


LUCRECIA ZAPPI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele aturou bufês lotados de crianças para ganhar R$ 30 por dia. Em seu único emprego, que durou três meses, Yuri Baccarin, 18, trabalhava, em geral, nos fins de semana, da manhã até a noite, e faturava R$ 15 por festa.
Yuri é mais um adolescente que faz qualquer negócio por um emprego, sem importar muito a função, nem mesmo o salário. O que vale é sentir o peso da independência e de uns trocados no bolso.
"Tinha que tomar conta dos brinquedos e das crianças, mas a parte que eu mais gostava era no fim da festa, quando eu recebia meu dinheiro", diz Yuri.
Para o estudante, pedir dinheiro aos pais é constrangedor. "Tenho 18 anos, está na hora de conquistar minha independência financeira", diz o adolescente.
Nos três meses em que "foi independente", Yuri disse que deu para fazer muita coisa com o que ganhou. "Era bastante dinheiro! [Risos.] Comprei CDs e roupa", conta.
"Agora estou dando um tempo, só estudo." No final do ano, Yuri diz que vai tentar uma vaga no curso de medicina ou de relações internacionais na faculdade. Mas, depois, quer voltar ao batente.
Fernanda Resende, 16, também age por "independência total financeira". A teen encontrou trabalho em lojas de shopping, desde os 13 anos, mas diz que, justamente por ser tão nova, em diversas ocasiões foi parar no olho da rua.
"Acho legal trabalhar porque sou muito consumista. Adoro comprar roupa, sapato, fazer luzes no cabelo. Daí custa uma grana, e não quero ficar dependendo da minha mãe", conta Fernanda. "Acho o máximo trabalhar em uma loja de surfe porque fico no emprego que eu gosto e conheço muitas pessoas", conta a teen, que diz conseguir conciliar o primeiro anos do ensino médio com trabalho. Em dezembro, diz que já garantiu vaga em outra loja de shopping.
No assunto trabalho, Fernanda se diz influenciada por seus irmãos. "Já fiz tudo o que você puder imaginar", diz Murilo, 19, o mais velho dos três. "Lavei carro quando tinha 12 anos, desmontei barraca de feira, trabalhei em funilaria, entreguei panfleto."
"Quero conseguir tudo pelas minhas próprias mãos", conta Murilo, que está no terceiro colegial e quer estudar direito. Enquanto não passa no vestibular, estuda de manhã e, à tarde, é motoboy. "Comprei uma moto faz dois meses e arrumei trabalho com ela há um mês", conta ele.
"Minha mãe sempre disse que não precisava trabalhar, ela aparecia no emprego para me tirar, mas eu sempre arrumava outra coisa em seguida", explica Murilo, que diz que o trabalho em sua vida é uma questão de princípio: "Não posso esperar ganhar dos outros as coisas que eu quero", conta.
Ellen Carvalho, 16, quer comprar um carro. Ainda não foi empregada por ninguém, mas não desanima. Desde o começo do ano, entrega seu currículo -no qual diz que cursa o segundo ano do ensino médio, que estuda inglês e que fez curso de computador -em bufês de festa infantil.
"Tentei também trabalhar em uma videolocadora. Tem uma aqui perto de casa que vai abrir uma filial. O dono me falou que a loja abre em 20 dias. Estou superansiosa", diz a adolescente, que também vende bolos de festa. "Quero ser chef, vou estudar gastronomia", anuncia Ellen.
Assim como ela, Mariana da Silva Rogiero,19, tem revirado a cidade para achar um emprego, desde que a agência de modelos em que trabalhou por um ano e meio como recepcionista fechou, há dois meses.
A estudante de enfermagem diz que ter emprego é bom, mas sair procurando um por aí não tem a menor graça.
"Não é nada agradável. Tem que ligar, ficar na fila. Sempre fui muito ansiosa, acho que sempre vai ter alguém melhor ou mais bonito do que eu. Dizem que beleza não põe a mesa, mas isso é mentira, percebi isso quando trabalhei na agência de modelos."
Como Yuri, Mariana se concentra nos estudos e sonha em fazer um pé-de-meia para comprar um apartamento.
Seu irmão, Carlos Eduardo, 16, também começou a trabalhar cedo. Dudu, como é conhecido entre os amigos, arrumou um "bico" há dois anos na loja de computação do pai. Seu cargo é office boy, mas, só de observar o serviço, aprendeu a consertar computadores e já tem clientela.
"A maioria é de bares daqui da Vila Olímpia. Já desmontei e arrumei uns 25 computadores", conta Dudu, que diz juntar dinheiro para comprar algumas peças para seu próprio computador. "Para você ganhar a vida, tem que trabalhar", fala Dudu.

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