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GRANA
Conheça alguns jovens que topam tudo para arrumar qualquer tipo de emprego, mesmo que não tenha nada a ver com o que querem da vida
Loucos por trabalho
Leonardo Wen/Folha Imagem
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Carlos Eduardo, 16, desmonta computador na loja do pai, na Vila Olímpia, em São Paulo |
LUCRECIA ZAPPI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele aturou bufês lotados de crianças
para ganhar R$ 30 por dia. Em seu
único emprego, que durou três meses, Yuri Baccarin, 18, trabalhava, em geral,
nos fins de semana, da manhã até a noite, e
faturava R$ 15 por festa.
Yuri é mais um adolescente que faz qualquer negócio por um emprego, sem importar muito a função, nem mesmo o salário.
O que vale é sentir o peso da independência
e de uns trocados no bolso.
"Tinha que tomar conta dos brinquedos
e das crianças, mas a parte que eu mais gostava era no fim da festa, quando eu recebia
meu dinheiro", diz Yuri.
Para o estudante, pedir dinheiro aos pais
é constrangedor. "Tenho 18 anos, está na
hora de conquistar minha independência
financeira", diz o adolescente.
Nos três meses em que "foi independente", Yuri disse que deu para fazer muita coisa com o que ganhou. "Era bastante dinheiro! [Risos.] Comprei CDs e roupa", conta.
"Agora estou dando um tempo, só estudo." No final do ano, Yuri diz que vai tentar
uma vaga no curso de medicina ou de relações internacionais na faculdade. Mas, depois, quer voltar ao batente.
Fernanda Resende, 16, também age por
"independência total financeira". A teen
encontrou trabalho em lojas de shopping,
desde os 13 anos, mas diz que, justamente
por ser tão nova, em diversas ocasiões foi
parar no olho da rua.
"Acho legal trabalhar porque sou muito
consumista. Adoro comprar roupa, sapato,
fazer luzes no cabelo. Daí custa uma grana,
e não quero ficar dependendo da minha
mãe", conta Fernanda. "Acho o máximo
trabalhar em uma loja de surfe porque fico
no emprego que eu gosto e conheço muitas
pessoas", conta a teen, que diz conseguir
conciliar o primeiro anos do ensino médio
com trabalho. Em dezembro, diz que já garantiu vaga em outra loja de shopping.
No assunto trabalho, Fernanda se diz influenciada por seus irmãos. "Já fiz tudo o
que você puder imaginar", diz Murilo, 19, o
mais velho dos três. "Lavei carro quando tinha 12 anos, desmontei barraca de feira,
trabalhei em funilaria, entreguei panfleto."
"Quero conseguir tudo pelas minhas
próprias mãos", conta Murilo, que está no
terceiro colegial e quer estudar direito. Enquanto não passa no vestibular, estuda de
manhã e, à tarde, é motoboy. "Comprei
uma moto faz dois meses e arrumei trabalho com ela há um mês", conta ele.
"Minha mãe sempre disse que não precisava trabalhar, ela aparecia no emprego para me tirar, mas eu sempre arrumava outra
coisa em seguida", explica Murilo, que diz
que o trabalho em sua vida é uma questão
de princípio: "Não posso esperar ganhar
dos outros as coisas que eu quero", conta.
Ellen Carvalho, 16, quer comprar um carro. Ainda não foi empregada por ninguém,
mas não desanima. Desde o começo do
ano, entrega seu currículo -no qual diz
que cursa o segundo ano do ensino médio,
que estuda inglês e que fez curso de computador -em bufês de festa infantil.
"Tentei também trabalhar em uma videolocadora. Tem uma aqui perto de casa
que vai abrir uma filial. O dono me falou
que a loja abre em 20 dias. Estou superansiosa", diz a adolescente, que também vende bolos de festa. "Quero ser chef, vou estudar gastronomia", anuncia Ellen.
Assim como ela, Mariana da Silva Rogiero,19, tem revirado a cidade para achar um
emprego, desde que a agência de modelos
em que trabalhou por um ano e meio como
recepcionista fechou, há dois meses.
A estudante de enfermagem diz que ter
emprego é bom, mas sair procurando um
por aí não tem a menor graça.
"Não é nada agradável. Tem que ligar, ficar na fila. Sempre fui muito ansiosa, acho
que sempre vai ter alguém melhor ou mais
bonito do que eu. Dizem que beleza não
põe a mesa, mas isso é mentira, percebi isso
quando trabalhei na agência de modelos."
Como Yuri, Mariana se concentra nos estudos e sonha em fazer um pé-de-meia para comprar um apartamento.
Seu irmão, Carlos Eduardo, 16, também
começou a trabalhar cedo. Dudu, como é
conhecido entre os amigos, arrumou um
"bico" há dois anos na loja de computação
do pai. Seu cargo é office boy, mas, só de
observar o serviço, aprendeu a consertar
computadores e já tem clientela.
"A maioria é de bares daqui da Vila Olímpia. Já desmontei e arrumei uns 25 computadores", conta Dudu, que diz juntar dinheiro para comprar algumas peças para seu próprio computador. "Para você ganhar a vida, tem que trabalhar", fala Dudu.
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