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livro
Coração pirata
Lendário tatuador de celebridades cool,
o americano-brasileiro Jonathan Shaw escreve
livro que se passa nas areias de Copacabana
MAYRA DIAS GOMES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se tivesse que escolher
alguém para atravessar o inferno comigo,
escolheria Jonathan
Shaw (www.scabvendor.com). Para começar, é preciso dizer que este homem deixa uma tatuagem por onde
quer que passe. Na pele, no coração ou na alma. Quando ele
entra em sua vida, não há volta.
Nova-iorquino criado também em Los Angeles e no Rio
de Janeiro, passou a adolescência lendo histórias em quadrinhos da EC Comics e pegando
carona em navios cargueiros.
Foi quando se apaixonou pelas
figuras assombrosas encontradas nos inferninhos que rodeavam as docas e adentrou em
um movimento ainda clandestino: o da tatuagem. Jonathan
foi aprendiz de nomes lendários dessa subcultura.
Estúdio ilegal
Quando seu estúdio "Fun
City" foi inaugurado em Nova
York ilegalmente, a clientela,
que se tornou uma variação de
astros, era composta por uma
sub-sociedade. Jonathan desenhava na pele do cliente, o que
o preservou como um artista.
Defensor da "old school" e um
dos precursores do tribal moderno, lamenta o glamour que a
tatuagem ganhou. Sua arte se
dissimulou em uma busca por
estilo e atenção.
O laço que tem com o trabalho talvez possa ser compreendido se analisarmos sua história. Filho do grande músico de
jazz Artie Shaw, diz que o pai
era um ser humano miserável.
Casado muitas vezes, Artie
deixava claro: se não se dava
bem com as mulheres, não poderia se dar bem com os filhos.
Até o dia de sua morte em
2004, aos 94 anos, manteve sua
indiferença. Jonathan passou
só um ano com ele e, quando
iniciaram o relacionamento,
Artie o cortou de sua vida.
"Nenhuma pessoa com o mínimo de respeito por si mesmo
aturaria esse abuso", diz Jonathan. As conseqüências do abuso, porém, surgem sempre sob
diferentes formas.
Hoje ele é um adicto em recuperação e só tatua amigos.
Cansou de ser etiqueta de grife.
"Não vou voltar para essas sanguessugas corporativas."
Amigo de Bukowski
Depois de ter enveredado por
outras áreas artísticas, como o
cinema, se dedica à literatura.
Jonathan era amigo de Bukowski e aprendeu a escrever
lendo livros. Parou de estudar
aos 12 anos e foi para as ruas.
Passou a levar uma vida que oscilava entre botecos da Vila Mimosa e festas da alta sociedade.
Dizem que, se Kerouac estivesse vivo, teria que recolher a vida
de Jonathan para a continuação de "On The Road".
Seu romance "Narcisa - Our
Lady Of Ashes", que tem tudo
para virar um clássico, será publicado neste ano nos EUA e terá tradução em português.
O livro parece se agarrar ao
exorcismo e agir como cirurgião espiritual, apesar de apostar na descrição. Conta a comovente história de Narcisa, que
conhece Cigano na praia de Copacabana. Ela é uma jovem manipuladora, traumatizada e viciada em crack. Envolvida com
o namorado obcecado e a vida
marginal desde o início da pré-adolescência, diz que, se gostasse de homens, talvez o amasse. O vício de Cigano pela frieza
da moça certamente vem do
âmago de Jonathan.
É um sobrevivente manchado de sangue, um pirata. Nunca
faz algo sem entregar sua alma.
As más línguas dizem, porém,
que o chefinho lá de baixo não
perdeu tempo: já tem todos os
direitos reservados.
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