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música
Sargento pimenta, 40
O músico Paulo Ricardo, ex-RPM, escreve sobre o auge dos Beatles em 1967
PAULO RICARDO
ESPECIAL PARA A FOLHA
"It was 20 years ago
today." Na verdade, 40, mas com
essa frase sir James Paul
McCartney abria a ópera psicodélica dos Beatles, "Sgt.
Pepper's Lonely Hearts Club
Band", e, com ela, toda uma
nova era.
A partir daquele trabalho
(mas não subitamente; os
Beatles vinham ampliando os
limites de sua criatividade a
cada novo disco, com um salto significativo em "Revolver", seu antecessor), a música pop ganhava contornos de
grande arte, com notas elogiosas de gente como o maestro Herbert Von Karajan,
além de um envolvimento
com artes plásticas, cinema,
literatura e filosofia nunca
antes visto no "NME" ou na
"Melody Maker".
Lennon e McCartney haviam atingido um nível de excelência poucas (muito poucas!) vezes igualado como
compositores e é bom lembrar que as obras-primas como "Strawberry Fields Forever" e "Penny Lane" também
fizeram parte do mesmo período de gravações, e posteriormente optou-se por lançá-las como singles.
O álbum rompe com os paradigmas vigentes como uma
explosão de inteligência e inventividade, trazendo a banda dos corações solitários do
sgt. Pimenta como uma metabanda que reinventava, ao
mesmo tempo em que aludia
e ironizava, os já icônicos
John, Paul, George & Ringo,
The Beatles.
E dava assim início aos discos conceituais, que giravam
em torno de um único tema,
coisa que nos proporcionou
grandes e inesquecíveis momentos ("Dark Side of the
Moon", do Pink Floyd,
"Tommy", do The Who) e alguns perfeitamente esquecíveis ("Tales from Topographic Oceans", do Yes).
O que significa que o disco
tinha começo, meio e fim, no
caso, um grande show da
bandinha do sargento, e que
unia o passado (a banda foi
idealizada por Paul meio que
inspirado na banda de jazz de
seu pai, que tocava clarinete),
o presente (a explosão da psicodelia, das drogas e da filosofia hippie/hindu, por
exemplo) e o futuro (que começava agora!).
John Lennon desistiu de
provar que "Lucy in the Sky
with Diamonds" NÃO tem
nada a ver com as iniciais de
LSD, e acreditar que tem é como acreditar na campanha
"Paul is dead", do final dos 60.
Eu tô com o velho Winston.
OK, a versão de Joe Cocker
para "With a Little Help from
My Friends" pode ser mais
intensa, mas Ringo mandou
muito bem. E George faz seu
gol de placa com "Within
You, Without You", apenas
ele e uma pequena orquestra
de músicos indianos, tornando-se para sempre o pai de toda essa imensa influência que
marcaria definitivamente os
60 e 70 (vale lembrar que o citarista Ravi Shankar é pai de
Norah Jones!).
"It's Getting Better" é hoje
tema da campanha mundial
da Philips, mas Paul não podia imaginar o que lhe esperava quando gravou "When
I'm Sixty-Four" (composta
aos 16), o furacão Heather!!
John dá um banho de musicalidade e surrealismo com
"Being for the Benefit of Mr.
Kite", inspirada num anúncio
de um circo. Enfim, canção
após canção, o álbum segue
surpreendendo, inovando artística e tecnologicamente,
até o "grand finale" de "A Day
in the Life", que, sozinha, resumia toda a ousadia e genialidade deste épico.
A mais completa tradução
da simbiose Lennon/McCartney, e essa faixa sozinha me consumiria os 3.000
toques tão gentilmente cedidos pelo Folhateen. Resumindo, irmãos: cuidado com
o sargento, o cara É FODA!
PAULO RICARDO , 44, foi jornalista musical
nos anos 80, antes de se tornar astro de rock
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