São Paulo, segunda-feira, 11 de junho de 2007

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música

Sargento pimenta, 40

O músico Paulo Ricardo, ex-RPM, escreve sobre o auge dos Beatles em 1967

PAULO RICARDO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"It was 20 years ago today." Na verdade, 40, mas com essa frase sir James Paul McCartney abria a ópera psicodélica dos Beatles, "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", e, com ela, toda uma nova era.
A partir daquele trabalho (mas não subitamente; os Beatles vinham ampliando os limites de sua criatividade a cada novo disco, com um salto significativo em "Revolver", seu antecessor), a música pop ganhava contornos de grande arte, com notas elogiosas de gente como o maestro Herbert Von Karajan, além de um envolvimento com artes plásticas, cinema, literatura e filosofia nunca antes visto no "NME" ou na "Melody Maker".
Lennon e McCartney haviam atingido um nível de excelência poucas (muito poucas!) vezes igualado como compositores e é bom lembrar que as obras-primas como "Strawberry Fields Forever" e "Penny Lane" também fizeram parte do mesmo período de gravações, e posteriormente optou-se por lançá-las como singles.
O álbum rompe com os paradigmas vigentes como uma explosão de inteligência e inventividade, trazendo a banda dos corações solitários do sgt. Pimenta como uma metabanda que reinventava, ao mesmo tempo em que aludia e ironizava, os já icônicos John, Paul, George & Ringo, The Beatles.
E dava assim início aos discos conceituais, que giravam em torno de um único tema, coisa que nos proporcionou grandes e inesquecíveis momentos ("Dark Side of the Moon", do Pink Floyd, "Tommy", do The Who) e alguns perfeitamente esquecíveis ("Tales from Topographic Oceans", do Yes).
O que significa que o disco tinha começo, meio e fim, no caso, um grande show da bandinha do sargento, e que unia o passado (a banda foi idealizada por Paul meio que inspirado na banda de jazz de seu pai, que tocava clarinete), o presente (a explosão da psicodelia, das drogas e da filosofia hippie/hindu, por exemplo) e o futuro (que começava agora!).
John Lennon desistiu de provar que "Lucy in the Sky with Diamonds" NÃO tem nada a ver com as iniciais de LSD, e acreditar que tem é como acreditar na campanha "Paul is dead", do final dos 60. Eu tô com o velho Winston.
OK, a versão de Joe Cocker para "With a Little Help from My Friends" pode ser mais intensa, mas Ringo mandou muito bem. E George faz seu gol de placa com "Within You, Without You", apenas ele e uma pequena orquestra de músicos indianos, tornando-se para sempre o pai de toda essa imensa influência que marcaria definitivamente os 60 e 70 (vale lembrar que o citarista Ravi Shankar é pai de Norah Jones!).
"It's Getting Better" é hoje tema da campanha mundial da Philips, mas Paul não podia imaginar o que lhe esperava quando gravou "When I'm Sixty-Four" (composta aos 16), o furacão Heather!!
John dá um banho de musicalidade e surrealismo com "Being for the Benefit of Mr. Kite", inspirada num anúncio de um circo. Enfim, canção após canção, o álbum segue surpreendendo, inovando artística e tecnologicamente, até o "grand finale" de "A Day in the Life", que, sozinha, resumia toda a ousadia e genialidade deste épico.
A mais completa tradução da simbiose Lennon/McCartney, e essa faixa sozinha me consumiria os 3.000 toques tão gentilmente cedidos pelo Folhateen. Resumindo, irmãos: cuidado com o sargento, o cara É FODA!


PAULO RICARDO , 44, foi jornalista musical nos anos 80, antes de se tornar astro de rock


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