São Paulo, segunda-feira, 11 de setembro de 2006

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Dois críticos trocam e-mail

Lúcio Ribeiro e Álvaro Pereira Jr. discutem Panic! at the Disco e a febre mundial do emocore

De: Lúcio Ribeiro
Data: sexta-feira, 8 de setembro de 2006 16:07
Para: Álvaro Pereira Jr.
Assunto: emo
Fala, Álvaro. Faz tempo que eu não via uma ação e reação tão forte na música. Nos EUA, a molecada usa camiseta na linha "Emo bom é emo morto", que eu vi num skatista em Chicago, no dia de um show do Panic! at the Disco. A moçada lá não curte muito meninos tristes que passam delineador no olho, né?

De: Álvaro
Para: Lúcio
Como é que pode isso? Um tipo de música em que, ao mesmo tempo, tanta gente ama e tanta gente odeia de morte. Engraçado que tem banda emo, tipo o Panic! mesmo, que agora diz que já está além do emo, que evoluiu. Os caras estão com vergonha de ser emo?

De: Lúcio
Para: Álvaro
Acho que eles dão mole. Não dá para aguentar aqueles cabelos e os nomes de música compridos que parecem título de enredo de escola de samba. A galera mais rocker fica louca com isso. Eu nem acho o som deles ruim. Curto um pouco aquele Fall Out Boy, My Chemical Romance, All-American Rejects (que odeiam ser chamados de emo).

De: Álvaro
Para: Lúcio
Tem uma coisa que eu gosto nos emos: a sinceridade. Eles berram, se emocionam, sofrem... Tenho uma certa prevenção contra artistas que são irônicos o tempo todo, tipo, sei lá, Chicks on Speed ou o Cansei de Ser Sexy. A gente nunca sabe como eles são de verdade, do que eles gostam de verdade. Já os emos abrem o coração. Acho que vou virar emo.

De: Lúcio
Para: Álvaro
Então, mas é sinceridade demaaaaaais, vc não acha? O vocalista do Panic! at the Disco levou uma garrafa de plástico na cara no Reading e desabou no chão, parou o show, fez drama, chorou de borrar a maquiagem como se tivesse sido atingido por um torpedo. Dá a impressão de que, naquele exato segundo entre o susto da garrafada e o chão, ele lembrou de tudo o que ele sofria na escola na mão dos meninos mais fortes, todos os amores incompreendidos, todo os problemas dos maltratos à natureza. E foi só uma garrafadinha. O Carlinhos Brown, no Rock in Rio, lidou melhor com o "momento difícil". Falta um pouco mais de deboche pra esses caras, penso eu. Dá pra "sofrer" sem tanto drama.

De: Álvaro
Para: Lúcio
Discordo que o Brown "lidou o melhor" com a chuva de garrafas. Ele cantou o hino nacional, pô! Tem coisa mais nojenta e demegógica do que isso? Mas voltando à história da sinceridade: vc acha que o moleque do Panic! chorou mesmo, ou estava só se lembrando de que, sendo emo, ele precisa ser... "sensível"?

De: Lúcio
Para: Álvaro
Tá bom, eu tava zoando. Não dá pra tomar partido do Brown nunca, principalmente para dar exemplo para a molecada, que deve sempre fazer o contrário do que ele faz, seja lá o que esse contrário for. Acho que o Brendon Panic chorou, sim, mas algum amiguinho da banda deve ter falado para ele se recompor já, voltar lá e mostrar pra aqueles indies com quanta sinceridade e sentimento se faz um show emo. Mas eu gosto deles. Bom, eu amava Smiths, que foi a maior banda emo da história, bem menos hardcore, mas com o triplo de sinceridade. Acho só que o vocal do Panic! devia cantar com flores no bolso de trás, tipo o Morrissey.

De: Álvaro
Para: Lúcio
Agora vc botou lenha na fogueira: os Smiths eram emo!!! Será que essa é a chave da história toda e eu não tinha me tocado? Será que a verdade é que todos os emos são um cruzamento de Morrissey com Ian MacKaye, do Fugazi? Falando em MacKaye, vc sabe se ele admite na boa que é o pai do emo, ou fica irado? (No caso, o Morrissey seria a mãe.)

De: Lúcio
Para: Álvaro
Hahaha. Já li uma vez que o MacKaye disse algo do tipo "Onde foi que eu errei?", mas não sei se é verdade. E agora que a gente já levantou a "verdadeira" genealogia emo, nos resta ir conferir a última ponta do emo no show do Fall Out Boy aqui em SP em outubro. Já vi o Panic! ao vivo uma vez e gostei médio. Mas com o Fall Out Boy acho que não vai ter erro. Vamos lá no teat..., quer dizer, no show?

De: Álvaro
Para: Lúcio
Pode entrar gente de cabelo branco?

De: Lúcio
Para: Álvaro
Se caprichar na franja, pode.


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