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Renato Russo nunca esteve tão presente
Hoje faz três anos que o líder da Legião
morreu, deixando quase 200 canções que
continuam a conquistar novos fãs. Agora,
chega às lojas o disco do "Acústico MTV",
gravado em 1992, para perpetuar o mito
THALES DE MENEZES
da Reportagem Local
Três anos depois da morte de
Renato Russo, o culto ao cantor e
compositor da Legião Urbana
cresce cada vez mais. Agora, com
um aditivo poderoso: o lançamento do esperado álbum acústico do grupo, tirado da gravação
de especial para a MTV em 1992.
Um disco que
será consumido com nostalgia pelos trintões e com ansiedade desenfreada pela garotada. O público da Legião
é cada vez mais
moleque.
A empatia de
Renato Russo
com os jovens
não pode ser
mais natural. A
poesia de suas
canções era alicerçada na inquietude do adolescente, essa eterna
sensação de que no mundo não
existe lugar para ele.
Por causa disso, ganha fãs a cada ano, gente que conhece seu trabalho como um conjunto de quase 200 canções, algumas obras-primas, algumas geniais, muitas
boas e nenhuma desinteressante.
Todas falando da beleza e do sofrimento que é ter de andar pelo
mundo sem entendê-lo ou ser
compreendido por ele. Sensação
que bate forte na adolescência e,
para alguns, segue por anos.
Seu público "novo" não acompanhou o Renato jovenzinho, que
desceu de Brasília para tocar em
casas noturnas do circuito udigrúdi paulistano. Quem é teen hoje não viu Renato ser vaiado na
Napalm, há uns 16 ou 17 anos,
sendo xingado de "MPB de merda" pelo público punk.
Há gente que não sabe, mas a
canção "Será" era confundida
com uma nova música de Jerry
Adriani quando começou a tocar
nas rádios. O próprio Renato dava entrevista esclarecendo o equívoco e dizendo ser fã de Jerry, que
se tornaria um amigo dele e dos
outros integrantes da Legião.
Quem tinha menos de 12 anos
em 1986 não pode ter idéia do que
foi o lançamento do álbum
"Dois". Aquele é o álbum da década, o disco que tinha tudo que era
preciso ouvir no escuro do quarto, naquelas horas mais difíceis.
Não era um som "pra cima", como o dos Paralamas, não era rock
"cabeça", como o dos Titãs, não
era pop, como o som do RPM. Era
às vezes melancólico, às vezes
cheio de esperança, como é a vida.
A partir desse disco, a Legião
passou a fazer parte da vida do
pessoal. O grupo seguiu carreira
afastado das pressões do mercado, da moda. Fez um disco de sobras de estúdio com uma canção
sem refrão de quase dez minutos.
Fez um álbum anticomercial da
primeira à última faixa ("V").
Gravou um "Acústico MTV" tocando de Menudo a Neil Young.
A morte de Renato, após conviver com a Aids por quase seis
anos, mexeu muito com seu público. Num primeiro momento,
os discos venderam loucamente.
Depois, uma espécie de luto respeitoso deixou os fãs quietos.
Em 1997, no primeiro aniversário da morte de Renato, músicos
amigos subiram ao palco com os
legionários sobreviventes, Dado
Villa-Lobos e
Marcelo Bonfá,
para um show
que virou especial de TV. No
ano passado, a
Legião Urbana
Cover fez um
show histórico
em Campinas,
com fãs de todo o Brasil.
Desta vez,
nenhum show
é necessário
para marcar a
data. Descoberta por uma nova geração, gente que nem era nascida quando a
banda começou, a Legião toca nas
rádios como um grupo na ativa.
O lançamento de "Forza Sempre", disco em que Jerry Adriani
canta músicas de Renato Russo
vertidas para o italiano, já agitou
os fãs-clubes legionários -há dezenas de páginas na Internet sobre a banda. Trabalhando com
Carlos Trilha, produtor dos discos solo de Renato, Jerry Adriani
fez um disco belíssimo, que emociona os fãs por mostrar que a beleza das canções não arrefeceu.
"Forza Sempre" ameniza a angústia daqueles que aguardam há
três anos os novos trabalhos de
Dado e Bonfá. Os dois não têm
pressa. Afinal, a Legião nunca teve. Os fãs ainda esperam mais um
álbum ao vivo da Legião. Há material para esse projeto, mas ainda
é cedo, como diz a canção.
Agora é o tempo de ouvir o
"Acústico MTV". A emissora vai
reapresentar o programa no próximo dia 23, e, dias depois, o disco
e a fita de vídeo chegam às lojas.
Vai ser munição suficiente para
adolescentes de todas as idades se
entrincheirarem nos quartos ouvindo os versos do guru. Não, guru não pode, porque Renato odiava. É melhor chamá-lo de irmão
mais velho, aquele que dá os toques certos porque gosta da gente. E entende a gente.
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