São Paulo, Segunda-feira, 11 de Outubro de 1999
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Renato Russo nunca esteve tão presente


Hoje faz três anos que o líder da Legião morreu, deixando quase 200 canções que continuam a conquistar novos fãs. Agora, chega às lojas o disco do "Acústico MTV", gravado em 1992, para perpetuar o mito

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

Três anos depois da morte de Renato Russo, o culto ao cantor e compositor da Legião Urbana cresce cada vez mais. Agora, com um aditivo poderoso: o lançamento do esperado álbum acústico do grupo, tirado da gravação de especial para a MTV em 1992. Um disco que será consumido com nostalgia pelos trintões e com ansiedade desenfreada pela garotada. O público da Legião é cada vez mais moleque.
A empatia de Renato Russo com os jovens não pode ser mais natural. A poesia de suas canções era alicerçada na inquietude do adolescente, essa eterna sensação de que no mundo não existe lugar para ele.
Por causa disso, ganha fãs a cada ano, gente que conhece seu trabalho como um conjunto de quase 200 canções, algumas obras-primas, algumas geniais, muitas boas e nenhuma desinteressante. Todas falando da beleza e do sofrimento que é ter de andar pelo mundo sem entendê-lo ou ser compreendido por ele. Sensação que bate forte na adolescência e, para alguns, segue por anos.
Seu público "novo" não acompanhou o Renato jovenzinho, que desceu de Brasília para tocar em casas noturnas do circuito udigrúdi paulistano. Quem é teen hoje não viu Renato ser vaiado na Napalm, há uns 16 ou 17 anos, sendo xingado de "MPB de merda" pelo público punk.
Há gente que não sabe, mas a canção "Será" era confundida com uma nova música de Jerry Adriani quando começou a tocar nas rádios. O próprio Renato dava entrevista esclarecendo o equívoco e dizendo ser fã de Jerry, que se tornaria um amigo dele e dos outros integrantes da Legião.
Quem tinha menos de 12 anos em 1986 não pode ter idéia do que foi o lançamento do álbum "Dois". Aquele é o álbum da década, o disco que tinha tudo que era preciso ouvir no escuro do quarto, naquelas horas mais difíceis. Não era um som "pra cima", como o dos Paralamas, não era rock "cabeça", como o dos Titãs, não era pop, como o som do RPM. Era às vezes melancólico, às vezes cheio de esperança, como é a vida.
A partir desse disco, a Legião passou a fazer parte da vida do pessoal. O grupo seguiu carreira afastado das pressões do mercado, da moda. Fez um disco de sobras de estúdio com uma canção sem refrão de quase dez minutos. Fez um álbum anticomercial da primeira à última faixa ("V"). Gravou um "Acústico MTV" tocando de Menudo a Neil Young.
A morte de Renato, após conviver com a Aids por quase seis anos, mexeu muito com seu público. Num primeiro momento, os discos venderam loucamente. Depois, uma espécie de luto respeitoso deixou os fãs quietos.
Em 1997, no primeiro aniversário da morte de Renato, músicos amigos subiram ao palco com os legionários sobreviventes, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, para um show que virou especial de TV. No ano passado, a Legião Urbana Cover fez um show histórico em Campinas, com fãs de todo o Brasil.
Desta vez, nenhum show é necessário para marcar a data. Descoberta por uma nova geração, gente que nem era nascida quando a banda começou, a Legião toca nas rádios como um grupo na ativa.
O lançamento de "Forza Sempre", disco em que Jerry Adriani canta músicas de Renato Russo vertidas para o italiano, já agitou os fãs-clubes legionários -há dezenas de páginas na Internet sobre a banda. Trabalhando com Carlos Trilha, produtor dos discos solo de Renato, Jerry Adriani fez um disco belíssimo, que emociona os fãs por mostrar que a beleza das canções não arrefeceu.
"Forza Sempre" ameniza a angústia daqueles que aguardam há três anos os novos trabalhos de Dado e Bonfá. Os dois não têm pressa. Afinal, a Legião nunca teve. Os fãs ainda esperam mais um álbum ao vivo da Legião. Há material para esse projeto, mas ainda é cedo, como diz a canção.
Agora é o tempo de ouvir o "Acústico MTV". A emissora vai reapresentar o programa no próximo dia 23, e, dias depois, o disco e a fita de vídeo chegam às lojas.
Vai ser munição suficiente para adolescentes de todas as idades se entrincheirarem nos quartos ouvindo os versos do guru. Não, guru não pode, porque Renato odiava. É melhor chamá-lo de irmão mais velho, aquele que dá os toques certos porque gosta da gente. E entende a gente.

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