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Respeito ao público anda em falta no Brasil
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Colunista da Folha
Bagunça e revolta dos fãs antecederam a apresentação da banda americana Red Hot Chili Peppers em São Paulo, anunciada
para sexta-feira que passou.
O motivo foi o de sempre: uma
monumental lambança na venda
do ingresso mais barato, a tal
meia-entrada.
Por muitos anos, bastava o estudante brasileiro apresentar a
carteirinha da escola para ganhar
descontos bacanas em shows, cinemas, teatros etc. Um dia isso
acabou, para voltar, mais recentemente, em forma de burocracia
e monopólio. Agora, é preciso ter
a carteirinha da União Nacional
dos Estudantes, a UNE, controlada desde o paleozóico pelo Partido Comunista do Brasil.
A UNE já teve papel de destaque no cenário político nacional,
principalmente durante os primeiros anos do regime militar.
Depois, o movimento estudantil
foi massacrado pelos governantes de farda e reconstruído, com
muita coragem, na segunda metade dos anos 70.
O terrível é que, de certa forma,
o governo autoritário conseguiu
o que queria: há muito tempo a
UNE não representa mais ninguém, exceto as tendências políticas que eventualmente estejam
no poder.
Na minha época (e imagino
que continue assim), os congressos da UNE, da União Estadual
dos Estudantes (UEE) e outras
entidades eram marcados por
batalhas verbais de alta temperatura. Oradores, em geral brilhantes, gastavam horas tentando
convencer os delegados com direito a voto.
Só que não precisava. A maioria esmagadora dos delegados tinha vínculos com tendências.
Por melhores que fossem os argumentos concorrentes, ninguém mudava de idéia. Todo
mundo sabia, desde o começo,
no que iria votar.
Sempre achei que seria muito
mais fácil, já no começo do congresso, contar quantos delegados
eram do PC do B, quantos do
PCB, da Caminhando, da Libelu,
da Convergência Socialista etc. O
tempo de discussão seria abreviado, e todo mundo iria para casa mais cedo.
Conto essa história toda para
chegar ao melancólico estado da
UNE hoje: mera atravessadora de
ingressos, que não consegue ser
competente nem mesmo nessa
mísera e última atribuição que
lhe restou.
Ainda falando de respeito ao público, os quatro americanos da
banda Man or Astro-man?, que
tocou em São Paulo na semana
passada, deram seguidos exemplos de profissionalismo, gentileza e infinita paciência.
Trouxeram um técnico de som
que também quebra o galho como roadie. E só. Eles mesmos
montam e desmontam equipamento, afinam guitarras, plugam
a parafernália toda.
No show de terça-feira passada, suportaram com bom humor o comportamento bestial
de parte da platéia. Continuaram tocando mesmo depois que
um dos guitarristas teve de
abandonar o palco, com um
corte profundo no supercílio. E,
depois da apresentação, ainda
perderam horas conversando
com a galera, dando entrevistas
para fanzines etc.
Exemplo legal, principalmente no Brasil, país das estrelas de
brilho fraco e pompa de sobra.
Interessante os Titãs lançarem
agora um disco de covers, depois de dois álbuns de músicas
antigas em versões acústicas.
Ao que parece, a pergunta importante ainda não foi feita a nenhum Titã, a saber: "Você poderia dar uma palhinha de uma
música nova, que vocês tenham
feito há pouco tempo?". Ou ainda, para ser mais direto: "Há
quanto tempo vocês estão sem
compor?".
Álvaro Pereira Júnior, 36, é chefe de Redação do "Fantástico" em São Paulo. E-mail: cby2k@uol.com.br
cd player
"Something About
Airplanes", Death Cab
for Cutie
Não se sinta ignorante por nunca ter ouvido falar dos ótimos
Death Cab for Cutie. Ultra-independentes, fazem um folk melancólico e incontrolavelmente
moderno.
"Premiers Symptomes", Air
Dica do Paulo César
Martin, que apresenta o programa ""Garagem", na Brasil 2000 FM (107,3
MHz). Registros do começo de
carreira desses franceses hoje
consagrados. São sete faixas, e só
uma legal: "Californie".
Farofa Carioca
Um amigo informa:
seu Jorge, líder da Farofa Carioca, puxou o
carro, e a banda acabou. Mas como? Eles não eram o máximo?
Não iam deixar marcas indeléveis na história da MPB? Não
eram modernos para caramba?
Como pode?
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