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Tão perto, tão longe
ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando falamos em vila, imaginamos um local com cara de cidade do
interior, com casinhas pequenas,
onde todos se conhecem. Mas a vila que o
Folhateen vai apresentar aqui é bem diferente. Ela fica próxima ou até dentro das
maiores cidades do país e, na maioria das
vezes, tem casas bem grandes. Se você suspeita que estamos falando de condomínios
fechados, acertou.
Como foram mais difundidos no início
dos anos 80, os residenciais têm hoje seus
primeiros adolescentes, que nasceram e
cresceram ali. A vida deles é bem diferente
da dos jovens que moram em casas e apartamentos dentro das cidades. Conhecem os
vizinhos pelo nome, têm serviços de cidade
grande e tranqüilidade de cidade pequena.
Mesmo assim, os garotos costumam reclamar da vida ali. E a razão é simples, faltam baladas, e o transporte até a capital, onde elas acontecem, nem sempre é fácil.
Opção de moradia hoje bastante difundida pelas famílias de classes de alto poder
aquisitivo, os condomínios têm investido
em lazer para atender crianças e adolescentes. Mas, apesar das novidades introduzidas, como pistas de skate e LAN houses, os
jovens sentem falta de opções noturnas e
culturais.
Segundo o consultor imobiliário Celso de
Sampaio Amaral Neto, a insatisfação dos filhos tem feito com que alguns pais desistam de viver nos residenciais e procurem
imóveis mais próximos do centro.
A estudante Gabriela Salinas, 17, que nasceu em Alphaville (espécie de bairro de
condomínios localizado a cerca de 30 km
de São Paulo), se queixa e só consegue citar
o cinema como opção de passeio. "Chega a
noite de sexta-feira e não há o que fazer. O
jeito é ir para São Paulo ou ficar no posto de
gasolina daqui, o que é muito "fim de carreira". Eu não gosto", declara.
Para ir a São Paulo a aniversários ou a alguma festa específica, Gabriela e as amigas
alugam vans. A "passagem" sai por R$ 10.
Para baladas comuns, conta com a irmã
mais velha, que dirige e a acompanha.
"Meus pais deixam na boa", diz. Acrescenta que ainda vai a São Paulo de ônibus, com
os amigos, e de carro, com a mãe.
Morador de condomínio há 11 anos, André Mattana, 16, também vai bastante à capital. Toda semana, assiste a um filme no
cinema e gosta de passear pelos bairros.
Apesar da falta de opções de saída, André
não reclama da vida no condomínio. "Aqui
é possível andar na rua sem ter medo de ser
assaltado. Você tem todos os confortos de
uma cidade do lado de São Paulo. Não é
uma cidade de interior", afirma.
André comenta sobre o fato de ser morador de um complexo residencial fechado:
"A gente sabe que Alphaville é diferente do
resto do Brasil. Às vezes dá insegurança de
como vamos agir quando sairmos daqui".
Assim como André, vários outros moradores adolescentes de condomínios citaram a segurança como principal vantagem
desse tipo de moradia.
Segundo dados do 2º Distrito Policial de
Barueri -cidade que abriga Alphaville-,
há assaltos no local, ainda que raros e, geralmente, na parte comercial dos condomínios. O delegado Gilberto Pereira de Brito
diz que dois seqüestros relâmpagos também foram registrados no início do ano,
próximo aos bancos do bairro.
Leonardo Rodrigues da Cunha, gerente
geral da Area (Associação Residencial e
Empresarial de Alphaville), nega que aconteçam seqüestros dentro da área de casas.
Segundo ele, os furtos são os crimes mais
comuns.
O sistema de segurança e as câmeras usadas em pontos centrais do condomínio não
incomodam o adolescente Pedro Ribeiro
Vergani, 16, que vive em Alphaville há cinco anos. "Quanto mais vigia, melhor", diz.
Pedro, que já morou em várias outras cidades do país, faz parte do grupo de adolescentes que reconhece que não há muito o
que fazer para se divertir no residencial onde vive. Mesmo assim, raramente vai a São
Paulo. "Só vou para visitar algum parente
ou para passear. Aqui tem tudo o que eu
preciso", conta.
No condomínio, costuma sair com os
amigos para restaurantes próximos e para
o cinema, ou fica em casa "mexendo no
computador". No geral, avalia que a vida
no residencial compensa e diz ainda que
não tem planos de mudar de Alphaville no
futuro. "Mesmo quando estiver na faculdade, vou tentar morar aqui", completa.
Luciana Pereira de Lima, 15, que também
é caseira, pensa um pouco diferente. Aponta as longas distâncias e o isolamento como
desvantagens de morar em um condomínio fechado.
"A gente se sente meio isolado do resto
do mundo. Para tudo precisamos de carro.
Não tem como ir a pé para os lugares. Ficamos muito fechados, e a nossa mentalidade
talvez não seja tão ampla como a do pessoal
de São Paulo", diz a menina, que conhece a
história de Alphaville como se fosse sua cidade natal.
Mesmo assim, Luciana diz que não sente
falta de mais lazer na vizinhança; prefere ficar em casa e ler livros. Quando sai, vai ao
cinema da vizinhança com a avó.
A adolescente mudou-se da zona sul,
quando ainda era um bebê. Segundo a mãe,
Vera Lúcia Pereira, 38, o motivo foi a insegurança do local. "Lá, nós fomos assaltados
várias vezes. Aqui, é bom no sentido da segurança. Agora, tem muita gente que cria
os filhos como se estivesse em uma redoma
de vidro. Quando eles saem, acabam tomando um susto. O ideal seria que houvesse um meio termo", diz Vera, que confessa
que está esperando que a filha fique um
"pouquinho mais velha" para deixar que
saia com os amigos.
As longas distâncias e o isolamento dos
condomínios, citados por Luciana, permitem e até fazem com que muitos adolescentes menores de idade dirijam tranqüilamente dentro dos residenciais.
Em Alphaville, quando esses jovens são
pegos dirigindo pela primeira vez, os pais
são avisados e o caso é registrado em um
boletim interno. Na reincidência, o adolescente é levado para o juizado de menores.
O administrador do condomínio Villa
Nova Granja Vianna, Aparecido Grandchamp, explica que os procedimentos no
residencial são semelhantes. Os adolescentes que são pegos dirigindo pela primeira
vez recebem somente uma advertência. Na
segunda, eles devem pagar uma multa ao
condomínio, que pode chegar a até um salário mínimo (R$ 260).
Moradora de um condomínio na Granja
Vianna, em Cotia (32 km de São Paulo) há
seis anos, Gabriela Lie Garrubo, 11, não vê
nenhum problema no estilo de vida que leva no local. Ela conta que estuda perto de
casa, que pode ficar com os amigos na rua e
que todos moram no mesmo residencial.
"Tenho liberdade para ficar com meus
amigos em qualquer lugar. Não tem tanto
carro assim na rua e, quando passa, é bem
devagar", explica.
Antes de morar no condomínio, Gabriela
viveu na Noruega. "Lá eu morava na cidade, mas como era supercalmo, não estranhei a vida no residencial", diz a menina,
que vai a São Paulo toda semana.
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