São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 2006 |
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quadrinhos Outro olhos para Che Tudo é contado direitinho na HQ sul-coreana sobre a vida desse líder revolucionário comunista
SYLVIA COLOMBO DA REPORTAGEM LOCAL Você que nasceu do lado de cá do mapa-múndi certamente sabe que Che Guevara foi um líder revolucionário comunista, que nasceu na Argentina, usava boina, tinha barba e que mudou a história de uma ilha chamada Cuba. Tudo isso antes de virar estampa de camiseta de loja de grife, é claro. Mas imagine se você vivesse do outro lado do mundo, num país com uma outra história e com outras tradições, tanto culturais como políticas. Certamente ia saber bem menos sobre Che Guevara (1928-1967) e, ainda que fosse um excelente aluno na escola, não teria muita facilidade para entender o contexto da América Latina quando a Revolução Cubana aconteceu, em 1959. É por isso que o "manhwa" (versão coreana do mangá japonês) "Che", de Kim Yong-Hwe, que a editora Conrad lança agora no Brasil, vai servir menos para apresentar o personagem a você do que para mostrar como a história, dependendo do ponto a partir de onde se observa, sempre pode parecer um pouco diferente. Primeiro, você vai estranhar os traços, é claro. Os camponeses e os guerrilheiros cubanos parecem orientais, e o Che tem o olhar daqueles heróis de quadrinhos mesmo, que se sabem destinados a grandes missões. Com relação aos fatos, tudo é contado direitinho. A primeira viagem de motocicleta pelo continente, o encontro com Fidel Castro, a saga na selva de Sierra Maestra, a derrubada do regime do coronel Fulgencio Batista e até a morte de Che, em La Higuera, na Bolívia. Didaticamente, um garotinho oriental aparece de quando em quando nos cantos das páginas para explicar conceitos como "imperialismo", "teoria da dependência", a asma e os dilemas existenciais do líder. O problema desse simpático livrinho, entretanto, é que ele pinta Che apenas como um super-herói que queria livrar o povo de uma terrível opressão. As palavras "socialismo" e "comunismo", por exemplo, aparecem muito pouco, talvez porque introduzir uma discussão política mais séria pudesse estragar o clima da aventura. Yong-Hwe também não questiona o fato de Che ter usado um recurso violento, como a luta armada, para chegar ao poder. E deixa de dizer que, após a Revolução, Cuba virou uma ditadura, que perseguiu duramente os seus opositores. De todo modo, o fato de o quadrinista sul-coreano ter se interessado pela história de Che Guevara, pelos sonhos e pela utopia que tomou grande parte dos jovens do Ocidente naquela época, é um ótimo sinal. Afinal, querer conhecer o outro e divulgar sua história, seja por meio de um "manhwa" ou por qualquer outra via, é o primeiro passo para evitar desentendimentos maiores. Texto Anterior: Sexo & Saúde - Jairo Bouer: A luta continua Próximo Texto: Artes plásticas: Nesta semana ou em 2008 Índice |
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