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Demônios do metal continuam a seduzir os jovens com sua poção transgressora
O despertar da besta
Flávio Florido/Folha Imagem
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Boneco do Eddie, mascote do Iron Maiden, na vitrine da loja Stamp Rockwear, em São Paulo |
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma hipótese científica sugere que um
meteoro pode ter acabado com a vida
dos dinossauros na Terra. Nenhum fenômeno físico, porém, conseguiu dar cabo dos dinossauros do heavy metal. Passam os anos, o metal sofre mutações,
mas uma coisa não muda: o fascínio que
o universo metaleiro, com suas quase infinitas subdivisões, exerce sobre os adolescentes, principalmente os garotos.
Um exemplo está nos dez melhores
discos do ano, segundo votação dos leitores do Folhateen na internet. Entre os
nacionais, entrou o Angra. Entre os internacionais, há espaço tanto para o nu-metal do Linkin Park quanto para os veteranos do Iron Maiden.
"O heavy metal fica vivo porque é uma
música de muita energia, em que tudo
vai ao extremo. Ou o vocal é o mais agudo possível ou o mais gutural. A guitarra
é muito rápida ou tem uma afinação bem
grave. Ir ao extremo é uma coisa de adolescentes, que querem atingir a última fase do videogame ou tocar o mais rápido
possível. Quando comecei a tocar, fui
atrás dos guitarristas mais rápidos", diz
Kiko Loureiro, 31, guitarrista do Angra,
que vê uma renovação incessante no público. "Nos shows, o que a gente vê é uma
garotada de 13 a 20 anos."
Já para o vocalista do Shaman, Andre
Matos, 32, a imaginação está por trás
dessa perenidade. "Acho que o encanto,
desde a época em que eu era um garoto,
está no fato de o metal lidar muito com o
imaginário e de ter um lado lúdico. Desde Black Sabbath e Deep Purple, as bandas escrevem muito sobre fatos épicos,
temas heróicos e mitologia", conta.
Andre diz que o Shaman atrai gente de
todas as idades, mas deve enfrentar um
desafio no próximo sábado (17/1), quando abrirá o show para o Iron Maiden, no
estádio do Pacaembu, em São Paulo.
Quem quiser ir, os ingressos custam de
R$ 50 a R$ 120 (informações pelo tel. 0/
xx/11/6846-6000). Antes, o Iron toca na
sexta (16/1) no Claro Hall, no Rio (informações pelo tel. 0/xx/21/2430-0751).
Forja do metal
Tanto o virtuosismo quanto o imaginário mítico já estavam presentes na demoníaca trindade do metal. Black Sabbath,
Led Zeppelin e Deep Purple são as pedras
fundamentais do gênero, que lançaram
as bases da cultura metaleira na virada
dos anos 60 para os 70.
Principalmente nos precursores, outro
tema igualmente forte é a transgressão,
que aparecia de duas formas: na glorificação da velocidade, simbolizada pela estrada, e no sexo, com uma forte carga
machista. É explorando essas temáticas
que o metal ganha força até sofrer um impacto que iniciaria sua subdivisão em infinitos gêneros.
Muitos metaleiros da velha-guarda não
gostam de assumir, mas o punk, sobretudo a ideologia do "faça você mesmo", pôs
o metal de pernas para o ar.
É na Inglaterra, sob o impacto dos
punks, que surge o movimento batizado
de NWOBHM (New Wave of British
Heavy Metal), que acelera e dá peso à matriz blueseira do metal dos anos 70, e vai
ainda mais fundo nos temas históricos e
ocultistas. A banda mais importante e
duradoura dessa época é o Iron Maiden,
que deixou duas impressões indeléveis
na cultura pop: o monstro Eddie e a figura do virtuoso que rompe limites, encarnada pelo baixista Steve Harris.
Bandas como Motörhead, Saxon, a anglo-australiana AC/DC e algumas mais
antigas, como o Judas Priest, se alinharam à energia do NWOBHM para formar
o som que passa na cabeça da maioria
das pessoas quando se fala em metal.
Da veia macabra do NWOBHM, nasceram bandas como o Venom, cujo álbum
"Black Metal" (82) definiu um estilo, com
suas letras mórbidas/satânicas e muito
peso e velocidade. Essas duas últimas características foram associadas, mais tarde, ao thrash metal de bandas como Metallica e Anthrax. Já a morbidez e o ocultismo são fontes do death metal de hoje,
cujo maior celeiro é a Escandinávia.
Do lado pop, surgiram bandas de muito sucesso, mas que tiveram de conviver
com a pecha de hair metal, como Poison
e Bon Jovi. Elas tinham em sua raiz uma
linha do hard rock americano, que passa
por Kiss, Van Halen e Mötley Crüe. No
meio do caminho, indo fundo no hard
rock e experimentando um sucesso de
massa, surge o Guns N" Roses.
Nos anos 90, além de inúmeros subgêneros, o metal passa a conviver com os
híbridos que desembocam no nu-metal.
Bandas como Korn, Deftones, Linkin
Park e Slipknot, incorporam o rap e a eletrônica, desafiam os fãs mais tradicionais, mas ganham uma legião de garotos
que, fatalmente, acabam fazendo o caminho de volta até a demoníaca trindade.
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