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música
Hip hop tchê
Estado do Rio Grande do Sul desponta na cena nacional com identidade própria
BRENO COSTA
DA EDITORIA DE TREINAMENTO
No lugar dos "manos", os "guris". A
mais de mil km de
São Paulo, principal centro nacional
da cena hip hop, o Rio Grande
do Sul desponta como um pólo
peculiar de produção de músicas do gênero. Para rappers
gaúchos e estudiosos do movimento, já é possível falar em
um hip hop com raízes fincadas
nas tradições dos pampas.
Não há dados oficiais sobre o
número de grupos de rap e hip
hop em atividade no país. Mas
levantamento em um dos principais sites de divulgação de
músicos independentes no
Brasil (www.palcomp3.com.br) mostra que o Rio
Grande do Sul é o quarto Estado do país com mais grupos do
gênero na ativa. Perde para SP,
DF e MG. São 59 grupos, de
acordo com dados do site. A capital Porto Alegre abriga 45,8%
do total. No interior também
aparecem centros de pólos de
destaque, como Santa Cruz do
Sul, Pelotas e Rio Grande. MG,
terceiro no ranking, tem 71 cadastrados.
"Estamos vivendo o momento mais forte dos últimos dez
anos. A incidência de grupos é
enorme, com cada vez mais
pessoas, estúdios e produtores
envolvidos", diz o rapper porto-alegrense Diego Divox, 21.
O MC se apresentou no Festival Hutuz -o maior do gênero na América Latina- no ano
passado, no Rio. O grupo Rafuagi, produzido por ele, recebeu um dos prêmios distribuídos na edição 2006 do festival.
Segundo ele, o rap produzido
hoje no RS é um "rap regional".
A visão do rapper encontra
respaldo no meio acadêmico.
Uma das que vêem o rap gaúcho com uma alma própria é a
pesquisadora do movimento
hip hop, doutora em Ciências
da Comunicação pela Universidade Autônoma de Barcelona,
Deisimer Gorczevski. "Hoje o
hip hop produzido aqui já tem
uma cara gaúcha", diz.
Encontro com as raízes
Um exemplo dessa particularidade do rap dos pampas em
relação à produção realizada
nas periferias de São Paulo, segundo Gorczevski, é a incorporação da musicalidade tradicionalista às letras e batidas rap.
Um exemplo é a música "Não
Tá Morto Quem Peleia", um
símbolo do orgulho gaúcho no
Estado, que ganhou uma versão
na base do ritmo e poesia pelo
grupo Ultramen em parceria
com os Trovadores RS.
Divox também protagonizou
um casamento entre os músicos de bombacha e os de bermudão. Ele conseguiu fazer
uma música em parceria com
Luiz Marenco, um dos principais músicos regionais do RS.
Apesar do nativismo incorporado às letras, o rapper diz
que a intenção do movimento
no Estado é expandir o modelo
gaúcho para outras praças do
país. "Mas, enquanto isso, vamos criando essa identidade da
nossa música. As pessoas estão
assimilando e gostando dos
nossos diferenciais", afirma Divox, que ajudou a criar o
TR.O.PA (Trovadores Originais
de Porto Alegre). O grupo é formado por nove integrantes,
pinçados na nata da produção
de hip hop local.
Um dos ícones da cena paulista, o rapper Rappin Hood vê
qualidade e peculiaridades na
produção gaúcha. "Lá tem uma
organização grande no movimento, coisa que não existe em
São Paulo. Musicalmente eu
não vejo muita diferença, mas
com o tempo isso vai ser acentuado, sem dúvida", diz.
O rapper Divox vê uma preocupação maior no Sul em relação ao acréscimo de outros elementos instrumentais nas canções. "Ao contrário de São Paulo, a gente tenta trabalhar mais
com guitarrista, baixista e faz
um som de banda mesmo."
Outra diferença apontada
pelos envolvidos com o hip hop
dos pampas é a ausência de
apologia à violência nas letras.
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