São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

música

Hip hop tchê

Estado do Rio Grande do Sul desponta na cena nacional com identidade própria

BRENO COSTA
DA EDITORIA DE TREINAMENTO

No lugar dos "manos", os "guris". A mais de mil km de São Paulo, principal centro nacional da cena hip hop, o Rio Grande do Sul desponta como um pólo peculiar de produção de músicas do gênero. Para rappers gaúchos e estudiosos do movimento, já é possível falar em um hip hop com raízes fincadas nas tradições dos pampas.
Não há dados oficiais sobre o número de grupos de rap e hip hop em atividade no país. Mas levantamento em um dos principais sites de divulgação de músicos independentes no Brasil (www.palcomp3.com.br) mostra que o Rio Grande do Sul é o quarto Estado do país com mais grupos do gênero na ativa. Perde para SP, DF e MG. São 59 grupos, de acordo com dados do site. A capital Porto Alegre abriga 45,8% do total. No interior também aparecem centros de pólos de destaque, como Santa Cruz do Sul, Pelotas e Rio Grande. MG, terceiro no ranking, tem 71 cadastrados.
"Estamos vivendo o momento mais forte dos últimos dez anos. A incidência de grupos é enorme, com cada vez mais pessoas, estúdios e produtores envolvidos", diz o rapper porto-alegrense Diego Divox, 21.
O MC se apresentou no Festival Hutuz -o maior do gênero na América Latina- no ano passado, no Rio. O grupo Rafuagi, produzido por ele, recebeu um dos prêmios distribuídos na edição 2006 do festival. Segundo ele, o rap produzido hoje no RS é um "rap regional".
A visão do rapper encontra respaldo no meio acadêmico. Uma das que vêem o rap gaúcho com uma alma própria é a pesquisadora do movimento hip hop, doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade Autônoma de Barcelona, Deisimer Gorczevski. "Hoje o hip hop produzido aqui já tem uma cara gaúcha", diz.

Encontro com as raízes
Um exemplo dessa particularidade do rap dos pampas em relação à produção realizada nas periferias de São Paulo, segundo Gorczevski, é a incorporação da musicalidade tradicionalista às letras e batidas rap.
Um exemplo é a música "Não Tá Morto Quem Peleia", um símbolo do orgulho gaúcho no Estado, que ganhou uma versão na base do ritmo e poesia pelo grupo Ultramen em parceria com os Trovadores RS.
Divox também protagonizou um casamento entre os músicos de bombacha e os de bermudão. Ele conseguiu fazer uma música em parceria com Luiz Marenco, um dos principais músicos regionais do RS.
Apesar do nativismo incorporado às letras, o rapper diz que a intenção do movimento no Estado é expandir o modelo gaúcho para outras praças do país. "Mas, enquanto isso, vamos criando essa identidade da nossa música. As pessoas estão assimilando e gostando dos nossos diferenciais", afirma Divox, que ajudou a criar o TR.O.PA (Trovadores Originais de Porto Alegre). O grupo é formado por nove integrantes, pinçados na nata da produção de hip hop local.
Um dos ícones da cena paulista, o rapper Rappin Hood vê qualidade e peculiaridades na produção gaúcha. "Lá tem uma organização grande no movimento, coisa que não existe em São Paulo. Musicalmente eu não vejo muita diferença, mas com o tempo isso vai ser acentuado, sem dúvida", diz.
O rapper Divox vê uma preocupação maior no Sul em relação ao acréscimo de outros elementos instrumentais nas canções. "Ao contrário de São Paulo, a gente tenta trabalhar mais com guitarrista, baixista e faz um som de banda mesmo."
Outra diferença apontada pelos envolvidos com o hip hop dos pampas é a ausência de apologia à violência nas letras.


Texto Anterior: Música: Do sertão... para a floresta
Próximo Texto: Em Santa Cruz, hip hop convive com cigarro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.