São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

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CINEMA

Quem tem um sonho não dança

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Esse carinha de cabelo espetado, jeans rasgado, cinto de corrente, olhos azuis e cara de bebê não é estranho, por mais que se esforce em trabalhar numa "atitude", em ter, se não fama, pelo menos cara de mau. Puxando pela memória, era o grumete de "King Kong", não era?, o filme-evento da sexta retrasada, que vi num cinema do Upper West Side, em Manhattan, que me dá entrevista agora, com outros dois atores do elenco?
Era. Acabo de perguntar sobre a bonita relação pai-filho que ele, como o ex-pivete "Jimmy", desenvolve com o ator negro Evan Parke, que interpreta "Hayes", um dos comandantes do navio-expedição que parte em busca da ilha do gorilão. Então, cai a ficha. "Jimmy" foi "Billy Elliot", o menino-título do filme, que só queria dançar e ser feliz. É o ator britânico Jamie Bell, 19.
De repente, uma luz vermelha acende no fundo do cérebro e faz a sinapse: pai-"Billy Elliot"-assunto delicado. Jamie Bell vem de uma família de dançarinas amadoras, avó, mãe, irmã e uma das tias, e foi ele próprio um dançarino, descoberto em testes pelo diretor Stephen Daldry, de "Billy Elliot", e depois "adotado" pelo britânico, um pouco como aconteceu com Hector Babenco e Fernando Ramos da Silva (1967-1987) no pungente "Pixote -A Lei do Mais Fraco".
Teve final feliz, diferentemente do brasileiro. Mas nunca conheceu seu próprio pai. Ele olha para o chão. "Não, não diria que é uma relação de pai e filho, mas de amigos", responde o ator ao repórter da Folha. "De amigos que confiam um no outro, mesmo com a diferença de idade, a diferença de cor, a diferença de cargos no navio. Não, não vejo nenhuma relação paterna aí."
Jamie Bell nasceu em Billingham, cidade rica em refinarias de petróleo e pobre em beleza, que se prepara agora para sediar a maior fábrica de biodiesel do mundo. Desde "Billy Elliot", já trabalhou com diretores como Thomas Vintenberg (em "Dear Wendy", em cartaz em São Paulo), produtores como Terrence Mallick (em "Contra Corrente") e filmes como "Nicholas Nickleby", num total de cinco longas.
"Estou acabando agora "Flags of Our Fathers" (as bandeiras de nossos pais), com o Clint", diz ele, sem pretensão. Clint, no caso, é Clint Eastwood, o próprio, e o filme conta a história dos seis soldados que fincaram a bandeira norte-americana depois de vencida a Batalha de Iwo Jima, no monte Suribachi da ilha homônima do Pacífico, um episódio decisivo da Segunda Guerra.
Seu papel em "King Kong" não existia no roteiro original, de 1933. "Foi especialmente escrito por Pete [Peter Jackson, o diretor do filme] e Fran [Walsh, mulher de Jackson e co-roteirista] para dar um toque humano no meio de tanta ação", revela o menino.
Que não gosta de ser chamado de menino. E, sinceramente, anda meio de saco cheio de ser o eterno Billy Elliot. "Não me entenda mal, eu me orgulho daquele papel e sei que a tendência é me ligarem à minha primeira aparição no cinema, mas eu fiz outras coisas depois, porra!"
E fará outras mais, aparentemente. Para o ano que vem, está previsto o próximo filme em que interpretará o papel principal desde... Bem, desde "Billy Elliot". É "Hallam Foe", dirigido por David Mackenzie, com roteiro baseado no romance de Peter Jinks, sobre um adolescente que desconfia que sua madrasta (Tilda Swilton) foi a responsável pela morte de sua mãe -e se apaixona por ela pelas vias do voyeurismo.
Quando está filmando gosta de: "Jogar PlayStation; sair com amigos; e escrever roteiros, nessa ordem". Escrever roteiros? "Já escrevi dezenas. Talvez mostre um ao Stephen (Daldry). O mais recente é um sobre um cara cujo melhor amigo vai à guerra, morre e volta como um espírito, para se comunicar com ele." Um drama com toques sobrenaturais? "Não, um musical, na verdade. Os mortos todos dançam."
Uma vez Billy Elliot...


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