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CINEMA
Quem tem um sonho não dança
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Esse carinha de cabelo espetado,
jeans rasgado, cinto de corrente,
olhos azuis e cara de bebê não é estranho, por mais que se esforce em trabalhar numa "atitude", em ter, se não fama,
pelo menos cara de mau. Puxando pela memória, era o grumete de "King Kong", não
era?, o filme-evento da sexta retrasada, que
vi num cinema do Upper West Side, em
Manhattan, que me dá entrevista agora,
com outros dois atores do elenco?
Era. Acabo de perguntar sobre a bonita
relação pai-filho que ele, como o ex-pivete
"Jimmy", desenvolve com o ator negro
Evan Parke, que interpreta "Hayes", um
dos comandantes do navio-expedição que
parte em busca da ilha do gorilão. Então,
cai a ficha. "Jimmy" foi "Billy Elliot", o menino-título do filme, que só queria dançar e
ser feliz. É o ator britânico Jamie Bell, 19.
De repente, uma luz vermelha acende no
fundo do cérebro e faz a sinapse: pai-"Billy
Elliot"-assunto delicado. Jamie Bell vem de
uma família de dançarinas amadoras, avó,
mãe, irmã e uma das tias, e foi ele próprio
um dançarino, descoberto em testes pelo
diretor Stephen Daldry, de "Billy Elliot", e
depois "adotado" pelo britânico, um pouco
como aconteceu com Hector Babenco e
Fernando Ramos da Silva (1967-1987) no
pungente "Pixote -A Lei do Mais Fraco".
Teve final feliz, diferentemente do brasileiro. Mas nunca conheceu seu próprio pai.
Ele olha para o chão. "Não, não diria que é
uma relação de pai e filho, mas de amigos",
responde o ator ao repórter da Folha. "De
amigos que confiam um no outro, mesmo
com a diferença de idade, a diferença de
cor, a diferença de cargos no navio. Não,
não vejo nenhuma relação paterna aí."
Jamie Bell nasceu em Billingham, cidade
rica em refinarias de petróleo e pobre em
beleza, que se prepara agora para sediar a
maior fábrica de biodiesel do mundo. Desde "Billy Elliot", já trabalhou com diretores
como Thomas Vintenberg (em "Dear
Wendy", em cartaz em São Paulo), produtores como Terrence Mallick (em "Contra
Corrente") e filmes como "Nicholas Nickleby", num total de cinco longas.
"Estou acabando agora "Flags of Our Fathers" (as bandeiras de nossos pais), com o
Clint", diz ele, sem pretensão. Clint, no caso, é Clint Eastwood, o próprio, e o filme
conta a história dos seis soldados que fincaram a bandeira norte-americana depois de
vencida a Batalha de Iwo Jima, no monte
Suribachi da ilha homônima do Pacífico,
um episódio decisivo da Segunda Guerra.
Seu papel em "King Kong" não existia no
roteiro original, de 1933. "Foi especialmente escrito por Pete [Peter Jackson, o diretor
do filme] e Fran [Walsh, mulher de Jackson
e co-roteirista] para dar um toque humano
no meio de tanta ação", revela o menino.
Que não gosta de ser chamado de menino. E, sinceramente, anda meio de saco
cheio de ser o eterno Billy Elliot. "Não me
entenda mal, eu me orgulho daquele papel
e sei que a tendência é me ligarem à minha
primeira aparição no cinema, mas eu fiz
outras coisas depois, porra!"
E fará outras mais, aparentemente. Para o
ano que vem, está previsto o próximo filme
em que interpretará o papel principal desde... Bem, desde "Billy Elliot". É "Hallam
Foe", dirigido por David Mackenzie, com
roteiro baseado no romance de Peter Jinks,
sobre um adolescente que desconfia que
sua madrasta (Tilda Swilton) foi a responsável pela morte de sua mãe -e se apaixona por ela pelas vias do voyeurismo.
Quando está filmando gosta de: "Jogar
PlayStation; sair com amigos; e escrever roteiros, nessa ordem". Escrever roteiros? "Já
escrevi dezenas. Talvez mostre um ao Stephen (Daldry). O mais recente é um sobre
um cara cujo melhor amigo vai à guerra,
morre e volta como um espírito, para se comunicar com ele." Um drama com toques
sobrenaturais? "Não, um musical, na verdade. Os mortos todos dançam."
Uma vez Billy Elliot...
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