São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

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Em uma noite carioca

Reportagem saiu pelas ruas do Rio com Eugene, líder da Gogol Bordello

MAYRA DIAS GOMES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Desde que o ucraniano Eugene Hütz aterrissou no Rio, em maio deste ano, sua notoriedade no país cresceu de maneira arrebatadora. O líder da globalizada banda Gogol Bordello, de influências punks, ciganas e eslavas, foi apresentado pela mídia como um simpático bigodudo do Leste Europeu que estava morando em Ipanema com a namorada romena, que fazia tese de doutorado em antropologia sobre ciganos no Brasil.
A inspiradora história de luta e persistência de Eugene conquistou inúmeros curiosos que compareceram às duas edições da Ciganomania, festa realizada no Cine Lapa, da qual Eugene foi estrela, alternando uma discotecagem imaculável com performances dubladas no meio do público sedento.
Um grande bafafá o ladeava, afinal Eugene também trabalha como ator e havia acabado de atuar em "Filth and Wisdom", dirigido por Madonna.
Apesar do agastadiço hype que havia se alastrado pela Cidade Maravilhosa, o músico conseguiu passar adiante sua mensagem e abriu portas para a aceitação da world music.
Eugene tinha somente 13 anos quando ficou sabendo do acidente nuclear de Chernobyl, considerado o pior da história, que atingiu a ex-União Soviética, a Europa Ocidental, a Escandinávia e o Reino Unido.
Junto com sua família de ascendência cigana, embarcou em uma jornada dolorosa como refugiado político, passando por Polônia, Hungria, Áustria e Itália. Em 1990, chegou a Vermont através de um programa de assentamento e, mais tarde, mudou-se para Nova York, onde fundou a banda Gogol Bordello e se tornou um líder visionário que se esforça para resgatar, moralizar e preservar os direitos do povo cigano.

Pegou amizade
Eugene e eu ficamos amigos e tive a oportunidade de entrevistá-lo e de presenciar o efeito que sua figura, acompanhada somente por um violão, tem sobre passantes distraídos.
Numa noite em que vagamos pelo Leblon ao som encantador do instrumento de Eugene, o músico conseguiu arrastar seguidores saltitantes que nem sequer sabiam quem ele era.
Ele contou que esse é o esporte mais antigo em sua família e que sua mãe nunca teria se apaixonado por seu pai se ele não soubesse conduzir pessoas dessa forma.
Como uma fã passional do rock, surpreendi-me ao me dar conta de que a energia que o ucraniano possui tem os mesmos elementos arruaceiros e magnetizadores que as bandas punks que ouço. Não é a toa que o subgênero inventado por ele chama-se gypsy-punk.
"Isso foi algo que aprendi com o Sonic Youth. Eles eram um grupo tão inovador que os críticos não estavam equipados para descrevê-los. Eles chamavam sua música de artcore. Eu não queria que inventassem algum rótulo idiota para nós, então surgiu o gypsy-punk, que também é rock", explica.
"Acho que o verdadeiro rock'n'roll consiste em duas coisas: energia provocativa como um veículo e mensagens radicais. Um sem o outro não é rock'n'roll. Tem que ser alto e irritante, como o barulho de uma moto. É preciso ter algo a dizer sobre alguma cultura ou basicamente desafiar as autoridades. É um ciclo perpétuo."
Eugene embarcou em turnê pouco depois do sucesso que obteve por aqui, mas considera o Rio sua casa. "Não tenho mais um lugar para morar em Nova York, abri mão disso. Passo a maioria do tempo na estrada e, entre as turnês, venho para cá.
Se isso significa que moro aqui, então moro."
A banda já tem cinco discos, e o último, "Super Taranta!" foi lançado no Brasil pela Deckdisc. Para a sorte de quem está com saudades ou de quem ainda não teve a chance de conhecê-lo, o Gogol Bordello é uma das principais atrações no Tim Festival neste mês em São Paulo, em Vitória e no Rio. E ele garante que voltará com estilo: "Fazendo umas 60 revoluções por minuto".

myspace.com/gogolbordello


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