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Em uma noite carioca
Reportagem saiu pelas ruas do Rio com Eugene, líder da Gogol Bordello
MAYRA DIAS GOMES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Desde que o ucraniano Eugene Hütz
aterrissou no Rio,
em maio deste ano,
sua notoriedade no
país cresceu de maneira arrebatadora. O líder da globalizada
banda Gogol Bordello, de influências punks, ciganas e eslavas, foi apresentado pela mídia
como um simpático bigodudo
do Leste Europeu que estava
morando em Ipanema com a
namorada romena, que fazia
tese de doutorado em antropologia sobre ciganos no Brasil.
A inspiradora história de luta
e persistência de Eugene conquistou inúmeros curiosos que
compareceram às duas edições
da Ciganomania, festa realizada no Cine Lapa, da qual Eugene foi estrela, alternando uma
discotecagem imaculável com
performances dubladas no
meio do público sedento.
Um grande bafafá o ladeava,
afinal Eugene também trabalha como ator e havia acabado
de atuar em "Filth and Wisdom", dirigido por Madonna.
Apesar do agastadiço hype
que havia se alastrado pela Cidade Maravilhosa, o músico
conseguiu passar adiante sua
mensagem e abriu portas para a
aceitação da world music.
Eugene tinha somente 13
anos quando ficou sabendo do
acidente nuclear de Chernobyl,
considerado o pior da história,
que atingiu a ex-União Soviética, a Europa Ocidental, a Escandinávia e o Reino Unido.
Junto com sua família de ascendência cigana, embarcou
em uma jornada dolorosa como
refugiado político, passando
por Polônia, Hungria, Áustria e
Itália. Em 1990, chegou a Vermont através de um programa
de assentamento e, mais tarde,
mudou-se para Nova York, onde fundou a banda Gogol Bordello e se tornou um líder visionário que se esforça para resgatar, moralizar e preservar os direitos do povo cigano.
Pegou amizade
Eugene e eu ficamos amigos
e tive a oportunidade de entrevistá-lo e de presenciar o efeito
que sua figura, acompanhada
somente por um violão, tem sobre passantes distraídos.
Numa noite em que vagamos
pelo Leblon ao som encantador
do instrumento de Eugene, o
músico conseguiu arrastar seguidores saltitantes que nem
sequer sabiam quem ele era.
Ele contou que esse é o esporte mais antigo em sua família e que sua mãe nunca teria se
apaixonado por seu pai se ele
não soubesse conduzir pessoas
dessa forma.
Como uma fã passional do
rock, surpreendi-me ao me dar
conta de que a energia que o
ucraniano possui tem os mesmos elementos arruaceiros e
magnetizadores que as bandas
punks que ouço. Não é a toa que
o subgênero inventado por ele
chama-se gypsy-punk.
"Isso foi algo que aprendi
com o Sonic Youth. Eles eram
um grupo tão inovador que os
críticos não estavam equipados
para descrevê-los. Eles chamavam sua música de artcore. Eu
não queria que inventassem algum rótulo idiota para nós, então surgiu o gypsy-punk, que
também é rock", explica.
"Acho que o verdadeiro
rock'n'roll consiste em duas
coisas: energia provocativa como um veículo e mensagens radicais. Um sem o outro não é
rock'n'roll. Tem que ser alto e
irritante, como o barulho de
uma moto. É preciso ter algo a
dizer sobre alguma cultura ou
basicamente desafiar as autoridades. É um ciclo perpétuo."
Eugene embarcou em turnê
pouco depois do sucesso que
obteve por aqui, mas considera
o Rio sua casa. "Não tenho mais
um lugar para morar em Nova
York, abri mão disso. Passo a
maioria do tempo na estrada e,
entre as turnês, venho para cá.
Se isso significa que moro aqui,
então moro."
A banda já tem cinco discos, e
o último, "Super Taranta!" foi
lançado no Brasil pela Deckdisc. Para a sorte de quem está
com saudades ou de quem ainda não teve a chance de conhecê-lo, o Gogol Bordello é uma
das principais atrações no Tim
Festival neste mês em São Paulo, em Vitória e no Rio. E ele garante que voltará com estilo:
"Fazendo umas 60 revoluções
por minuto".
myspace.com/gogolbordello
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