São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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MÚSICA

Pandeiro hype

Pagode sai de rodas restritas, conquista fãs que não usam corrente dourada e vira tema de festas "trash" e "revival"

BRAULIO LORENTZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O boné é de aba reta. A bermuda quase beija o chão. O visual de fãs de grupos de pagode muitas vezes não bate com o estereótipo imaginado.
A manjada corrente dourada, que integrantes de bandas como Sorriso Maroto usam, aparece no pescoço de um monte de seus fãs, mas não no de Fernando Trovões, 14.
Para ir ao show de aniversário do Exaltasamba, no mês passado, ele convocou amigos e encheu um dos camarotes do Credicard Hall, em São Paulo.
"Ouço mais pagode quando estou triste, por causa das letras. Elas empolgam e me deixam melhor", explica o garoto.
Numa semana, Fernando pode ser visto ensaiando passinhos no show do Inimigos da HP; na seguinte, é encontrado balançando a franja ao som do pop rock do Restart.
"Os públicos são bem diferentes. Pagode é mais legal do que rock, tem menos drogas e brigas", compara.
Larissa Lima, 13, opta por misturar estilos quando está ouvindo música no computador: vai dos sertanejos românticos Zezé di Camargo & Luciano ao pop mexicano do RBD, com parada obrigatória -e demorada- no pagode.
Pagodear é um verbo que, garante ela, nunca saiu de moda.
"Quando fazemos churrasco, quase sempre toca pagode. As músicas são viciantes, você escuta uma vez e já sabe cantar tudo", conta Larissa, que vai aos shows e às baladas acompanhada pela irmã mais velha, Amanda, 16.

Roqueiros ou pagodeiros?
Para cair no samba, não importa se você acha o vocalista do Cine (DH) mais gato do que o do Exaltasamba (Thiaguinho), como é o caso de Paula Soares, 16. Até porque ela entrega que tem amiga que pensa o contrário.
Por mais que Paula só pendure pôsteres do McFly, do Cine e do Quarter em seu quarto, tem facilidade para decorar os refrões embalados entre uma paletada e outra no cavaquinho.
"Eu sei que são bandas bem diferentes, mas não me importo com isso", esquiva-se.
Entre Jonas Brothers e Exaltasamba, responde na lata que prefere os donos de hits como "Me Apaixonei pela Pessoa Errada" e "Abandonado", do verso "despreparado, meu coração dá pulo perto de você".
É por essas e outras (letras de música) que Fernando não teve dificuldades para escolher a melhor trilha para os momentos de fossa.
Da mesma maneira, Emerson Lopes, 17, destaca as letras como principal motivo para cair no pagode.
A preferida é "Livre pra Voar", do Exaltasamba, sobre um homem com cara de santinho que pretende dar amor para sua pretendente. Mas não fidelidade, como assegura o refrão: "Eu prometo te dar carinho, mas gosto de ser sozinho".
Na hora de indicar qual é a melhor pedida para encontrar garotas bonitas, o pandeiro vence a guitarra.
Para Emerson, as pagodeiras "se vestem muito melhor". "Elas são mais normais, não tem aquele estilo novo do rock, com tudo colorido. Prefiro as meninas do pagode, são mais brasileiras", define o rapaz, que usa "alargadores" de orelha.

Pagode "pride"
Emerson foge o quanto pode das meninas que adotam o "look" flúor nas roupas e as mechas coloridas no cabelo, mas não do rótulo de pagodeiro, que nada incomoda frequentadores de baladas e de shows do gênero, sempre bem cotado nas paradas de sucesso.
"Comecei a gostar primeiro de Exalta[samba], que é mais tradição. Lembro da minha mãe ouvindo", recorda Emerson. Como atesta uma das letras entoadas por outra banda do gênero, o Katinguelê: "A rapaziada sabe que o cavaco não pode faltar".


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