São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

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GERAÇÃO C

Pais utilizam o telefone dos filhos como instrumento de monitoração, mas às vezes são enganados

Celular vira radar ambulante

Raphael Falavigna/Folha Imagem
Rani diz que sua mãe, Regina, sempre telefona para saber se ela está bem: "Ela fica preocupada"


DA REPORTAGEM LOCAL

Dar um celular a um adolescente é juntar a fome com a vontade de comer. "Quando chegou a primeira conta da Marina, quase caímos para trás porque descobrimos que os adolescentes ligam para os telefones celulares dos amigos e não para os de suas casas. É uma forma de eles terem acesso direto uns aos outros. Transformei o telefone dela em pré-pago para controlar mesmo", conta Kátia Coutinho, 42.
Se o aparelho é de valor inestimável na mão de quem mais gosta de pendurar ao telefone, seu número é um código chave para os pais, que pagam o pato, mas ganham um instrumento de monitoração do que os filhos estão fazendo e de onde estão.
Marina, 13, usou esse argumento infalível para convencer os pais de que era uma ótima idéia ela ter seu próprio telefone. "Disse que, com o telefone, eles poderiam me achar sempre." Kátia levou o argumento ao pé da letra. "Ligamos para ela toda hora. O celular da Mariana virou um aliado. Com ele, tenho acesso super-rápido e seguro aos meus filhos. Tanto que minha filha mais nova, de 11 anos, ganhou o seu nesta semana."
Para Marcelo (nome fictício), 16, essa é "a parte ruim do celular". "Meus pais ficam controlando minha vida com ele", desabafa .
"Enche muito o saco quando os pais ligam demais porque os amigos fazem gozação comigo, dizem que sou filhinha de papai", explica Isadora Zambuzzi, 12.
Nesse contexto, o bina é uma ferramenta importante contra o assédio dos pais. "Às vezes, quando eles ligam demais para mim, vejo o número da minha casa no bina e deixo tocar para que eles me deixem um recado", confirma Marcelo. "O celular me deu independência. Meus pais me deixam sair mais na certeza de que podem saber se está tudo bem comigo a qualquer hora", conta Pedro (nome fictício), 16.
Já diz o ditado que o que os olhos não vêem o coração não sente. Sabendo disso, muitas vezes, os adolescentes lançam "mentirinhas" ao telefone para que os pais não se preocupem tanto com eles. "Disse várias vezes que estava na casa de alguém quando, na verdade, estava na rua", confessa Pedro. "Eu já falei que dormiria na casa de um amigo, desliguei o celular e saí na balada", revela Marcelo.
"Acabo usando o celular da minha filha para controlar seus horários e os lugares aonde ela vai", explica Regina Ramos Werson, 48. Sua filha, Rani, 14, não se importa com os telefonemas dos pais e conta que o bina serve mesmo é para detectar as ligações de seu namorado. "Em brigas, quando ainda estou magoada, não atendo mesmo." (FM)


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