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GERAÇÃO C
Pais utilizam o telefone dos filhos como instrumento de monitoração, mas às vezes são enganados
Celular vira radar ambulante
Raphael Falavigna/Folha Imagem
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Rani diz que sua mãe, Regina, sempre telefona para saber se ela está bem: "Ela fica preocupada" |
DA REPORTAGEM LOCAL
Dar um celular a um adolescente é
juntar a fome com a vontade de
comer. "Quando chegou a primeira
conta da Marina, quase caímos para
trás porque descobrimos que os
adolescentes ligam para os telefones
celulares dos amigos e não para os
de suas casas. É uma forma de eles
terem acesso direto uns aos outros.
Transformei o telefone dela em pré-pago para controlar mesmo", conta
Kátia Coutinho, 42.
Se o aparelho é de valor inestimável na mão de quem mais gosta de
pendurar ao telefone, seu número é
um código chave para os pais, que
pagam o pato, mas ganham um instrumento de monitoração do que os
filhos estão fazendo e de onde estão.
Marina, 13, usou esse argumento
infalível para convencer os pais de
que era uma ótima idéia ela ter seu
próprio telefone. "Disse que, com o
telefone, eles poderiam me achar
sempre." Kátia levou o argumento
ao pé da letra. "Ligamos para ela toda hora. O celular da Mariana virou
um aliado. Com ele, tenho acesso
super-rápido e seguro aos meus filhos. Tanto que minha filha mais
nova, de 11 anos, ganhou o seu nesta
semana."
Para Marcelo (nome fictício), 16,
essa é "a parte ruim do celular".
"Meus pais ficam controlando minha vida com ele", desabafa .
"Enche muito o saco quando os
pais ligam demais porque os amigos fazem gozação comigo, dizem
que sou filhinha de papai", explica
Isadora Zambuzzi, 12.
Nesse contexto, o bina é uma ferramenta importante contra o assédio dos pais. "Às vezes, quando eles
ligam demais para mim, vejo o número da minha casa no bina e deixo
tocar para que eles me deixem um
recado", confirma Marcelo. "O celular me deu independência. Meus
pais me deixam sair mais na certeza
de que podem saber se está tudo
bem comigo a qualquer hora", conta Pedro (nome fictício), 16.
Já diz o ditado que o que os olhos
não vêem o coração não sente. Sabendo disso, muitas vezes, os adolescentes lançam "mentirinhas" ao
telefone para que os pais não se
preocupem tanto com eles. "Disse
várias vezes que estava na casa de alguém quando, na verdade, estava
na rua", confessa Pedro. "Eu já falei
que dormiria na casa de um amigo,
desliguei o celular e saí na balada",
revela Marcelo.
"Acabo usando o celular da minha filha para controlar seus horários e os lugares aonde ela vai", explica Regina Ramos Werson, 48.
Sua filha, Rani, 14, não se importa
com os telefonemas dos pais e conta
que o bina serve mesmo é para detectar as ligações de seu namorado.
"Em brigas, quando ainda estou
magoada, não atendo mesmo."
(FM)
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