São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 2008

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música

Camelo voa solo

Ao mesmo tempo, Los Hermanos lançam seu último registro ao vivo

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há uma grande vantagem no recém-lançado CD "Los Hermanos na Fundição Progresso", que registra o show de despedida da cultuada banda carioca, em 9 de junho do ano passado: ele permite ouvir o grupo tocando.
Porque quem esteve lá -ou em basicamente qualquer show dos Hermanos- sabe que ouvir a banda ao vivo é tarefa complicada: o que mais se escuta é a voz do público, que canta (berra, digamos) com um fervor ímpar, o que criou certa mitologia em torno do quarteto.
Com o CD, sai também um DVD que registra o mesmo show -só que, nele, o problema do ao vivo se inverte: só se escuta a banda, nada do público. O que no disco de áudio ficou bem equilibrado, no de imagens virou um fiasco. E esse é só um dos problemas dele.
O outro, e mais grave, é o total desleixo com que o registro foi feito -chega a ser irônico que o diretor se chame Nilson Primitivo. É certo que as condições técnicas não eram as melhores; também é certo que isso não é problema dos fãs: se a banda queria lançar mais um DVD ao vivo (depois do "Luau MTV" e do "Ao Vivo no Cine Íris"), que o fizesse direito.

O primeiro solo
Olhando retrospectivamente, o que chama atenção no show de despedida (a banda entrou em recesso por tempo indeterminado) é o imenso esforço de Marcelo Camelo para cantar alto em canções roqueiras como "Cara Estranho".
Ele se referiu a esse tipo de situação em entrevista à Folha, dizendo: "Era muito pesado gritar, ter que me munir de um espírito, ter que me transformar a cada noite".
Isso ajuda a explicar não apenas a parada da banda mas também o que se escuta em "Sou", o disco solo de Camelo, que acabou de sair -o cantor começa nesta semana uma turnê que chega a São Paulo no dia 23 de outubro, no Tim Festival.
"Sou" (a capa é um poema visual de Rodrigo Linares, que também se lê como "nós") vai parecer bastante lógico para quem vinha acompanhando a evolução dos Hermanos.
Ele soa como um passo adiante em relação ao "4": tem mais faixas esquisitas, é mais calmo, mais vago nas letras -e, para quem já não gostava do rumo que a ex-banda vinha tomando, mais chato.
Exemplo da onda atual de Camelo: há duas faixas que se repetem ("Passeando" e "Saudade"), no mesmo esquema: cada uma tem uma versão com Camelo no violão e um fiapo de letra, e outra instrumental, com Clara Averner ao piano.
O álbum, no entanto, não é suicídio comercial: há canções pop, como "Mais Tarde", "Menina Bordada" e "Vida Doce", além da já conhecida "Santa Chuva", que Maria Rita gravou.
Camelo chamou o Hurtmold para servir de banda de apoio em quatro faixas e, nas demais, convidou gente como Mallu Magalhães ("Janta") e Dominguinhos ("Liberdade").
Para os fãs de MPB e de Hermanos, é um disco a ser ouvido. Para baixar de graça dez das 14 faixas, vá em www.sonora.com.br/marcelocamelo.


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