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CINEMA
O Folhateen reuniu diretores que tratam
de violência para saber que reflexão eles acreditam provocar entre os jovens
Entre o glamour e o medo
Divulgação
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"Crianças Invisíveis" (em cartaz) |
MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Filmes que desnudam tragédias sociais brasileiras, como o tráfico de
drogas nos morros do Rio de Janeiro
ou a gravidez de adolescentes, andam pipocando nas telas dos cinemas. O Folhateen
reuniu os diretores de alguns deles para comentar o impacto que esses retratos causam no público jovem. Será que eles efetivamente sugerem uma reflexão sobre a
realidade brasileira? Ou a violência não seria apenas um atrativo sedutor para um
produto do mercado de entretenimento?
No centro dessa discussão estão quatro
longas. O tão falado documentário televisivo "Falcão - Meninos do Tráfico", do rapper MV Bill e de seu empresário, Celso
Athayde, que chegará em outubro às telas
grandes; "Pro Dia Nascer Feliz", de João
Jardim, que ouve estudantes de três diferentes pontos do Brasil; "Crianças Invisíveis", projeto que reúne curtas-metragens
sobre a situação de crianças espalhadas pelo mundo e que tem entre eles "João e Bilu",
dirigido por Kátia Lund (de "Cidade de
Deus" e "Notícias de uma Guerra Particular"), e, por fim, "Meninas", que será exibido a partir de maio e que acompanha a gravidez de adolescentes de comunidades de
Rio de Janeiro.
Ainda persistente, Kátia Lund anda desacreditada quanto à capacidade de denúncia
do cinema. "O tempo passa, a gente denuncia, só que nada muda. Mas eu não desisto.
Eu faço cinema por isso", desabafa.
Sobre "Pro Dia Nascer Feliz", João Jardim diz: "Fiz o filme porque há uma perplexidade com uma situação que deveria
ter sido diferente. Quis mostrar o quanto
essa faixa etária, a dos adolescentes, está
descuidada, na escola e em casa."
Para Sandra Werneck, os meninos mostrados em "Falcão" nascem no seu filme,
"Meninas". "Elas engravidam. Depois, não
têm como cuidar. A criança cresce sozinha,
nas ruas, e é facilmente seduzida pelo tráfico. Fiz meu filme para chocar porque sabia
que, se não fosse assim, ninguém prestaria
atenção no que está acontecendo."
Chocar é preciso?
Kátia Lund discorda de que seja preciso
chocar a platéia: "Isso tudo a gente já denunciou. Está na hora de mostrarmos bons
exemplos que a sociedade civil e que as
próprias comunidades estão organizando.
Não quero chocar, mas pedir reflexão".
Segundo ela, cinema é diversão mas também deve ter função social, mesmo exibindo cenas de violência explícita, que causam
tanto interesse, especialmente no público
jovem. "Precisamos parar de investir em
morte e investir em vida", comenta.
"Os filmes que gosto de ver e de fazer são
os que entretêm, mas que deixam algo para
digerir por um tempo. Uma reflexão a respeito do que ainda não perdemos e para
onde vai a criatividade e a resistência das
crianças quando somem as oportunidades
que têm para crescer", diz Lund.
"Pro Dia Nascer Feliz" também tenta
prender o espectador com situações extremas vividas dentro da escola. "Tentei trabalhar o filme como uma peça de entretenimento com conteúdo, reflexão. Ele é duro
porque não tinha como não ser", conta Jardim, que pesquisou escolas e descobriu situações em que professores não têm controle sobre alunos por conta da violência.
Em "Meninas", Sandra enxerga famílias
desestruturadas. "Se não trabalhar a família, não adianta investir milhões em educação", diz. No filme, uma adolescente de 13
anos se torna mãe e viúva em três meses,
período entre o nascimento do filho e o assassinato do pai, um traficante da Rocinha.
"Acho que está mais do que na hora de
nós, a sociedade, nos organizarmos para
fazer trabalhos belíssimos como alguns que
já são feitos", diz Werneck, que corre atrás
de parcerias para exibir "Meninas" em
ONGs, escolas públicas e espaços onde a
população possa refletir sobre o tema da
gravidez na adolescência.
Jardim diz que não quer que as pessoas
saiam do cinema indignadas. "A indignação passa rápido. Prefiro que obtenham
um conhecimento emocional sobre uma
realidade do adolescente. Isso é muito mais
poderoso porque nos leva a tomar decisões
e ajuda a formar uma geração que se comportará de outra maneira em relação à escola, cobrando melhorias."
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