São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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MÚSICA

Discografia completa da banda já está disponível no Brasil

Tortoise e esse tal de pós-rock

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

Espírito de cooperação e uma boa dose de experimentalismo são alguns dos ingredientes que fazem do Tortoise uma das raras bandas que não vivem de repetir fórmulas.
Rotulado de pós-rock, já que quase ninguém consegue definir se o som instrumental do quinteto de Chicago é rock, eletrônica, jazz ou tudo isso junto, o Tortoise tem raízes (longínquas) no punk, mas faz um som singular. E, como acontece com moléculas instáveis, nunca consegue se manter estático.
"Passamos muito tempo desenvolvendo novas idéias e constantemente tentamos ir além das músicas que fizemos no passado", explica o baixista Doug McCombs, 40, para quem o Tortoise faz um rock influenciado pela ética punk. "Para mim, punk rock não é apenas hardcore e Sex Pistols, é a vontade de experimentar, de fazer música não-comercial", diz.
O caráter experimental acompanha o Tortoise desde a sua formação, no começo dos anos 90. Todos os integrantes são grandes músicos e tocam mais de um instrumento. "Toco baixo, guitarra e um pouco de teclados. Sou o único que não é muito bom em instrumentos de percussão. John McEntire e John Herndon não são tão bons em instrumentos de corda, mas tocam bem todas as outras coisas, como teclados, bateria e marimbas. Dan Bitney toca de tudo, e Jeff Parker é ótimo nos teclados e na guitarra", diz McCombs.
A veia inovadora do Tortoise, contudo, não pode ser creditada apenas à flexibilidade musical de seus integrantes. Projetos paralelos -que incluem grupos como Isotope 217, Chicago Underground e Brokeback, só para citar alguns- e colaborações constantes com gente bastante diferente -como o tropicalista Tom Zé, o saxofonista de vanguarda Fred Anderson e a banda punk holandesa The Ex- são fontes que oxigenam o grupo.
Se você ficou instigado para conhecer melhor o som deles, pode comemorar. A Trama -que já havia lançado "Standards" (2000)- completa agora a discografia da banda com "Tortoise" (1994), "Millions Now Living Will Never Die" (1996) e "TNT" (1998).
Ouvidos em conjunto, os três discos dão pistas bem concretas sobre a evolução de um dos grupos mais influentes dos anos 90.
O primeiro, ainda com o guitarrista Bundy K. Brown, é o mais direto de todos os álbuns e deixa no ar uma sensação de jam session. Brown deixou a banda antes da gravação do segundo disco e foi substituído por David Pajo, do Papa M. "Millions..." é um álbum de transição, no qual a eletrônica minimalista ganha força.
As idéias de "Millions..." ficam mais bem acabadas em "TNT". O guitarrista de jazz Jeff Parker substituiu Pajo, e a banda ficou quase um ano em estúdio. "O disco foi feito meticulosamente, e trabalhamos sem limites." O resultado é um álbum difícil, mas que recompensa o esforço por sua beleza complexa.



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