|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Discografia completa da banda já está disponível no Brasil
Tortoise e esse tal de pós-rock
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Espírito de cooperação e uma boa
dose de experimentalismo são
alguns dos ingredientes que fazem
do Tortoise uma das raras bandas
que não vivem de repetir fórmulas.
Rotulado de pós-rock, já que
quase ninguém consegue definir se
o som instrumental do quinteto de
Chicago é rock, eletrônica, jazz ou
tudo isso junto, o Tortoise tem raízes (longínquas) no punk, mas faz
um som singular. E, como acontece com moléculas instáveis, nunca
consegue se manter estático.
"Passamos muito tempo desenvolvendo novas idéias e constantemente tentamos ir além das músicas que fizemos no passado", explica o baixista Doug McCombs,
40, para quem o Tortoise faz um
rock influenciado pela ética punk.
"Para mim, punk rock não é apenas hardcore e Sex Pistols, é a vontade de experimentar, de fazer música não-comercial", diz.
O caráter experimental acompanha o Tortoise desde a sua formação, no começo dos anos 90. Todos
os integrantes são grandes músicos e tocam mais de um instrumento. "Toco baixo, guitarra e um
pouco de teclados. Sou o único que
não é muito bom em instrumentos
de percussão. John McEntire e
John Herndon não são tão bons
em instrumentos de corda, mas tocam bem todas as outras coisas,
como teclados, bateria e marimbas. Dan Bitney toca de tudo, e Jeff
Parker é ótimo nos teclados e na
guitarra", diz McCombs.
A veia inovadora do Tortoise,
contudo, não pode ser creditada
apenas à flexibilidade musical de
seus integrantes. Projetos paralelos
-que incluem grupos como Isotope 217, Chicago Underground e
Brokeback, só para citar alguns-
e colaborações constantes com
gente bastante diferente -como o
tropicalista Tom Zé, o saxofonista
de vanguarda Fred Anderson e a
banda punk holandesa The Ex-
são fontes que oxigenam o grupo.
Se você ficou instigado para conhecer melhor o som deles, pode
comemorar. A Trama -que já havia lançado "Standards" (2000)-
completa agora a discografia da
banda com "Tortoise" (1994), "Millions Now Living Will Never Die"
(1996) e "TNT" (1998).
Ouvidos em conjunto, os três
discos dão pistas bem concretas sobre a evolução de um dos grupos
mais influentes dos anos 90.
O primeiro, ainda com o guitarrista Bundy K. Brown, é o mais direto
de todos os álbuns e deixa no ar
uma sensação de jam session.
Brown deixou a banda antes da gravação do segundo disco e foi substituído por David Pajo, do Papa M.
"Millions..." é um álbum de transição, no qual a eletrônica minimalista ganha força.
As idéias de "Millions..." ficam
mais bem acabadas em "TNT". O
guitarrista de jazz Jeff Parker substituiu Pajo, e a banda ficou quase um
ano em estúdio. "O disco foi feito
meticulosamente, e trabalhamos
sem limites." O resultado é um álbum difícil, mas que recompensa o
esforço por sua beleza complexa.
Texto Anterior: Lançamentos Próximo Texto: Pichação virtual Índice
|