São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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Brasil é celeiro de piratas do computador

DA REPORTAGEM LOCAL

A convivência do melhor e do pior dos mundos não é novidade no Brasil. Na internet, a fama dos brasileiros não difere muito disso. No ano passado, o país liderou mais um ranking polêmico: o de vandalização de páginas da rede.
Segundo informações do site Alldas, especializado em registrar invasões de sites em todo o mundo, as pichações virtuais passaram de 4,4 mil em 2000 para 22,4 mil em 2001. O porta-voz do Alldas, Frederik Ostergren, relatou ao site de tecnologia IDG Now que a maior parte dessas invasões partiu do Brasil.
Já o site Attrition, que também contabiliza ataques a páginas da rede, mostra que o Brasil se transformou num verdadeiro celeiro de hackers. O ano da virada é 2000, segundo as informações do site. Em 1999, haviam sido contabilizados 129 ataques de grupos brasileiros, que ainda estavam atrás de hackers de Israel e do México. Em 2000, o número de ataques ultrapassou a barreira dos 500 sites, e os brasileiros assumiram a liderança do ranking. Assim como acontece com a seleção brasileira de futebol, os nossos maníacos por computador canarinhos passaram a ser respeitados pela comunidade hacker internacional.
Grupos como Inferno.br, Death Kings Fúria, Crime Boys, Insanity Zine Corp, mOrt3z, b10w, axur 05 e Prime Suspectz ganharam notoriedade com seus ataques. Mas é bom lembrar que nem todos esses assaltos virtuais são atos de criminosos, que estão atrás de informações confidenciais, tentando fazer espionagem industrial ou simplesmente roubar números de cartões de crédito.
A maior parte dos ataques é de brincadeiras feitas por garotos que desconfiguram ou picham páginas por exibicionismo, usando programas prontos, que são encontrados com facilidade na rede.
"Invadir sites é muito fácil, existe um monte de programas prontos para fazer isso", explica Hernani Diamantas, 42, editor do e-zine "Marketing Hacker". Para ele, o hacker de verdade não está interessado em pichar páginas, ele usa o sistema como extensão do conhecimento dele. É a pessoa que sabe escanear a rede e invadir porque precisa da informação para usar em outros programas.
Diamantas explica que o interessante dos hackers "de verdade" é que eles querem introduzir uma nova ética, que passa pelo conhecimento livre e pelo software livre. Um exemplo é o movimento "open source" (fonte aberta, em inglês), que batalha pela adoção de sistemas abertos configuráveis conforme a necessidade do usuário, como o Linux.
O nome que os especialistas dão para os garotos que picham as páginas não é hacker, mas defaced. É difícil traçar um perfil desses garotos, saber quantos são e onde se escondem, mas, a julgar pelas mensagens que eles deixam dá para ter pistas do que passa pela cabeça desses piratas do computador, que vão desde críticas ao governo e mensagens contra o Bill Gates (presidente da Microsoft) a declarações de amor e poemas. Organizados em grupos, eles deixam e-mails para quem teve suas páginas desconfiguradas, mas nunca respondem.
Os alvos dos ataques também parece ser randômico. Entre os mais famosos ataques brasileiros ainda são a invasão do site da Nasa e a desconfiguração da página da bolsa Nasdaq.



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