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drogas
Amigos do ecstasy
Colega que vende "bala" e "doce" é traficante, sim, e pode entrar em cana e te levar junto; apreensões subiram
DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Longe do estereótipo
do tráfico em favelas,
a venda de ecstasy e
LSD ocorre em ambientes familiares
aos jovens de classe média alta
e é vista como uma espécie de
ação entre amigos. Esses são
dois pontos em comum no relato de quatro jovens usuários
ouvidos pelo Folhateen.
Nenhum deles considera traficante os colegas que lhes vendem as drogas. Aliás, ninguém
fala em comprar comprimidos
de ecstasy ou ácido, mas, comprar "balas" e "doces" de chegados de faculdade, amigos de
turma e conhecidos de baladas.
Com o aperto do cerco aos
traficantes pela polícia e o aumento das apreensões, a quadrilha de nove jovens presa em novembro passado no Rio de Janeiro não surpreendeu nenhum dos entrevistados. Três deles já tinham
tido algum amigo detido por
porte de drogas em quantidade
característica de tráfico.
A mineira "Paula", 28, começou a usar ecstasy há cinco
anos. Ela comprava de uma colega de faculdade de direito em
Belo Horizonte. "Ela dizia que
"passava" só para a galera, mas
era mentira. Uma vez, ela tirou
da bolsa um tubo que tinha
umas 60 "balas". Em outra, vi no
meio de um livro dela uma cartela com uns 50 "doces"."
O paulista Diego, 27, mora
com os pais e dá aula em uma
academia. Ele costumava comprar de um amigo nutricionista, da mesma idade, que "nunca
trabalhou, só estuda". "O moleque tomava (ecstasy) direto,
toda baladinha, de quinta a domingo, até em bar. Agora acho
que ele parou de vender por
causa de uma namorada nova."
Formada em turismo, Ana,
25, diz que o esquema dos jovens presos no Rio "com certeza" se repete em outras cidades. "Todo mundo tem alguma
história de um amigo que foi
preso, teve de sumir, dar um
tempo. Na minha turma da faculdade aconteceu isso. Um colega foi pego com bala e foi preso com várias outras pessoas."
Renata, 25, trabalha como
esteticista e tomou ecstasy pela
primeira vez em julho passado.
"Todos os meus amigos tomavam. Um dia experimentei e
comecei a tomar todo final de
semana. Tive que maneirar
porque as baladas ficavam
muito caras: em rave, tomava
até três por noite, mais bebida,
combustível e estacionamento.
Gastava R$ 250."
Ela conta que sempre comprou de um amigo de 21 anos,
formado em educação física.
"Ele não precisa de dinheiro
porque a família tem: mora sozinho, totalmente bancado pelos pais, tem dois carros e recebe mesada. Acho que ele gosta
de vender porque é uma grana
fácil. Ele disse que tira uns R$
6.000 só com as balas. No ano
passado, foi pego numa blitz na
estrada quando ia para uma rave. Foi preso, mas o pai dele tirou, porque é fiscal da Receita
Federal. Uns dias depois, estava vendendo de novo, numa
festa. Perguntei se ele não tinha medo, ele disse que não."
Vale dizer que andar com
traficante também pode dar
cana. Mesmo se não tiver nada
"em cima", o acompanhante
também pode ser levado preso
e responder a processo. Já a pena para tráfico de drogas pode
chegar a 15 anos de prisão.
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