São Paulo, segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

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drogas

Amigos do ecstasy

Colega que vende "bala" e "doce" é traficante, sim, e pode entrar em cana e te levar junto; apreensões subiram

DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Longe do estereótipo do tráfico em favelas, a venda de ecstasy e LSD ocorre em ambientes familiares aos jovens de classe média alta e é vista como uma espécie de ação entre amigos. Esses são dois pontos em comum no relato de quatro jovens usuários ouvidos pelo Folhateen.
Nenhum deles considera traficante os colegas que lhes vendem as drogas. Aliás, ninguém fala em comprar comprimidos de ecstasy ou ácido, mas, comprar "balas" e "doces" de chegados de faculdade, amigos de turma e conhecidos de baladas.
Com o aperto do cerco aos traficantes pela polícia e o aumento das apreensões, a quadrilha de nove jovens presa em novembro passado no Rio de Janeiro não surpreendeu nenhum dos entrevistados. Três deles já tinham tido algum amigo detido por porte de drogas em quantidade característica de tráfico.
A mineira "Paula", 28, começou a usar ecstasy há cinco anos. Ela comprava de uma colega de faculdade de direito em Belo Horizonte. "Ela dizia que "passava" só para a galera, mas era mentira. Uma vez, ela tirou da bolsa um tubo que tinha umas 60 "balas". Em outra, vi no meio de um livro dela uma cartela com uns 50 "doces"."
O paulista Diego, 27, mora com os pais e dá aula em uma academia. Ele costumava comprar de um amigo nutricionista, da mesma idade, que "nunca trabalhou, só estuda". "O moleque tomava (ecstasy) direto, toda baladinha, de quinta a domingo, até em bar. Agora acho que ele parou de vender por causa de uma namorada nova."
Formada em turismo, Ana, 25, diz que o esquema dos jovens presos no Rio "com certeza" se repete em outras cidades. "Todo mundo tem alguma história de um amigo que foi preso, teve de sumir, dar um tempo. Na minha turma da faculdade aconteceu isso. Um colega foi pego com bala e foi preso com várias outras pessoas."
Renata, 25, trabalha como esteticista e tomou ecstasy pela primeira vez em julho passado. "Todos os meus amigos tomavam. Um dia experimentei e comecei a tomar todo final de semana. Tive que maneirar porque as baladas ficavam muito caras: em rave, tomava até três por noite, mais bebida, combustível e estacionamento. Gastava R$ 250."
Ela conta que sempre comprou de um amigo de 21 anos, formado em educação física. "Ele não precisa de dinheiro porque a família tem: mora sozinho, totalmente bancado pelos pais, tem dois carros e recebe mesada. Acho que ele gosta de vender porque é uma grana fácil. Ele disse que tira uns R$ 6.000 só com as balas. No ano passado, foi pego numa blitz na estrada quando ia para uma rave. Foi preso, mas o pai dele tirou, porque é fiscal da Receita Federal. Uns dias depois, estava vendendo de novo, numa festa. Perguntei se ele não tinha medo, ele disse que não."
Vale dizer que andar com traficante também pode dar cana. Mesmo se não tiver nada "em cima", o acompanhante também pode ser levado preso e responder a processo. Já a pena para tráfico de drogas pode chegar a 15 anos de prisão.


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