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TRABALHO
Adolescentes procuram bicos de Natal para conseguir independência financeira dos pais, mesmo que seja por um tempo
Férias de mangas arregaçadas
LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles não dobram nem mesmo uma
camiseta em casa, mas se preparam
para encarar, em plenas férias escolares, um mês de trabalho nas centenas de
lojas que contratam extras para reforçar o
quadro de vendedores nos dias que antecedem o Natal. Muitos tentam o primeiro
emprego; outros já viveram a experiência.
Mas o objetivo deles é muito parecido: conseguir uma certa independência financeira
dos pais, mesmo que por apenas um mês,
já que o lucro, em muitos casos, será revertido em roupas, viagens e baladas.
Especialistas divergem quanto à necessidade real de os jovens pegarem esses bicos
de fim de ano.
Pedro Rafael Hagge, 17, estudante do 2º
ano do ensino médio, tentará seu primeiro
emprego. Deixou o currículo em vários
shoppings para conseguir trabalho em lojas de surfe, skate e de brinquedos.
"Pretendo juntar uma grana para viajar e
para gastar em roupas e em baladas. Não
estou mais na idade de pedir dinheiro para
minha mãe", conta Pedro, que não tem nenhuma experiência em vendas. "Não sei
dobrar roupas nem fazer presentes, mas
aprendo tudo rapidinho. Minha mãe falou
que me ensina. O resto, a gente improvisa."
Maria Lúcia Alegrette Neves, 18, estudante do 1º semestre da faculdade de hotelaria,
deixou currículo em lojas de roupas, brinquedos e cosméticos. Ela espera ganhar R$
1.000. Com o dinheiro, pretende viajar mas
também garantir seu futuro profissional,
investindo em cursos de gastronomia, área
em que quer focar sua carreira após se formar na faculdade.
"Quero ter meu dinheiro para não ter de
pedir para meus pais. Não quero depender
deles para fazer minhas coisas", conta Maria Lúcia. "Meus pais não exigem que eu
pague nenhuma conta. A iniciativa é minha. Eles querem que eu estude. Se conseguir conciliar as duas coisas, melhor", diz.
Fábio Correia Olmos, 19, estudante do 3º
ano do ensino médio, tenta seu primeiro
emprego pois quer dividir com a mãe as
despesas mensais da família. "Estou precisando trabalhar, para ajudar em casa. Principalmente na conta do telefone e, se sobrar, na mensalidade da escola. Busco a minha independência financeira. Está meio
difícil arrumar algo em loja. Passei por entrevistas, mas eles selecionam superbem."
Para Lilian Santos de Castro, 17, estudante do 3º ano do ensino médio, encarar o primeiro mês de férias atrás de um balcão não
é novidade. Ela já trabalhou nos últimos
dois finais de ano. "Gasto tudo comigo, em
viagens, roupas e acessórios." Apesar dos
R$ 1.000 que espera fazer neste ano, ela não
se sente independente. "Eles ainda pagam o
que eu preciso. Meus pais acham legal, porque dou mais valor ao dinheiro. Além disso, gasto o meu dinheiro, e não o deles."
Amiga de Lilian, a estudante do 3º ano do
ensino médio Bruna Bonfim de Lima, 17,
trabalhou em evento de fim de ano de uma
empresa, mas se decepcionou. "Achei que
fosse um trabalho de recepcionista, então
fui de salto e toda maquiada. Quando cheguei lá, era para servir o bufê para mais de
mil pessoas. Recebi R$ 30 pelo dia de trabalho, mas furtaram minha carteira, com dinheiro e documentos. Saiu elas por elas."
Depois dessa, ela pretende apenas curtir
as férias. "Achei que, com essa experiência,
poderia arranjar outros empregos, mas desisti depois disso. Nunca mais me pega."
Para Daniela Tasca Dalprá, 19, a vida não
é tão fácil assim. Ela cursava ciências biológicas, mas teve de trancar a faculdade por
problemas financeiros. Tenta um emprego
para pagar inscrições de vestibular ou voltar a estudar. Ela já trabalhou em loja de
brinquedos. "Era uma correria, pois criança não fica sem presente no Natal", conta.
"Hora de almoço muitas vezes eram dez
minutos, quando dava", afirma Daniela.
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